Em 17 de julho, Brasil comemora Dia de Proteção das Florestas com lei 
considerada falha. Pesquisadores acreditam que a legislação não consegue
 conter o desmatamento e criticam atraso no cadastramento dos imóveis 
rurais.
A data faz parte do calendário de comemorações do Ministério do Meio 
Ambiente: 17 de julho, Dia de Proteção das Florestas. O Código Florestal
 é a ferramenta para controlar a preservação as áreas verdes e, mais de 
um ano após a sua reformulação, a conclusão é de que quase não houve 
avanços. Especialistas ouvidos pela DW Brasil avaliam que a lei não 
trouxe os benefícios esperados.
"Não mudou absolutamente nada. Um ano depois da aprovação, não vi 
nenhuma mudança. Não é a lei que é ineficiente, mas sim os responsáveis 
por fazerem cumpri-la", avalia o pesquisador do Instituto Nacional de 
Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) Niro Higuchi, que participou do debate 
sobre a criação do novo Código Florestal. Um dos principais pontos 
criticados é o atraso na implementação do cadastramento dos imóveis 
rurais.
Na avaliação do especialista, os responsáveis não são apenas o governo, 
mas também a academia, ONGs e empresas. Ele diz que o principal problema
 está ligado à situação fundiária na Amazônia. O pesquisador explica que
 é preciso disciplinar as terras públicas onde se concentra a maior 
parte do desmatamento ilegal na Amazônia. "Se for cumprir à risca o que 
determina o Código Ambiental, acaba-se com o agronegócio no Brasil. É 
isso que deveria ser feito", pontua.
O superintendente do WWF-Brasil, Jean Timmers, concorda que não houve 
avanços. "O que se observou foram algumas mobilizações dos governos. Mas
 até hoje não foi emitida uma regulamentação sequer que permita 
segurança na sua implementação", observa.
Ele lembra que a lei prevê a universalização do Cadastro Ambiental Rural
 (um registro eletrônico obrigatório para todos os imóveis rurais) em 
dois anos, a contar da assinatura do decreto, publicado em outubro do 
ano passado. É o primeiro passo para garantir a regularização da área de
 cada produtor rural. "A nova lei tem vários dispositivos que reduzem o 
grau de proteção em relação à lei anterior. Mas há um dispositivo 
favorável. É a possibilidade de trazer para a área rural a segurança 
jurídica."
Para Raul Zalle, do Instituto Socioambiental, a nova lei tem aspectos 
muitos negativos. "A lei em si é equivocada em muitos pontos. Como é uma
 lei ruim, a aplicação também será ruim. O problema não é a não 
aplicação e sim a aplicação dela", analisa.
"No caso das nascentes ameaçadas que deixam de ser restauradas, como o 
Código diz, isso é muito ruim e já está acontecendo", completa. Na parte
 positiva da lei, o que dificulta a aplicação é a falta de capacitação 
dos órgãos públicos.
SITUAÇÃO NA AMAZÔNIA
O novo Código Florestal não garantiu o controle do desmatamento na 
Amazônia. Dados do Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real 
(Deter) mostram que o país perdeu 46,5 mil hectares de floresta em maio 
de 2013, quatro vezes mais do que no mesmo período do ano passado. De 
acordo com o secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural 
Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Paulo Guilherme Cabral, 
ações estão sendo postas em prática para reverter o quadro.
"Foi efetuada a compra de imagens de satélite de todo o território 
nacional, disponibilizadas aos governos", observa. Também foram 
assinados acordos com entidades representativas do setor agropecuário 
visando a mobilização e capacitação de técnicos para apoiarem produtores
 rurais a cadastrarem seus imóveis rurais.
Segundo ele, a grande extensão da área rural e o número de imóveis 
rurais (mais de 5 milhões), além do limitado prazo para cadastramento, 
são as principais dificuldades para a aplicação da lei. A regulamentação
 dos artigos da lei que precisam de complementação, assim como a 
capacitação dos técnicos dos governos estaduais, municípios e entidades 
representativas dos produtores e das empresas do setor são ações 
previstas. A disponibilização do sistema de cadastramento via internet e
 o avanço da recuperação de áreas cuja vegetação precisa ser recuperada 
também estão incluídas.
HISTÓRICO
O Código Florestal Brasileiro surgiu em 1934, durante o governo Getúlio 
Vargas, como uma tentativa de ordenar o uso dos recursos naturais. Entre
 outras medidas, obrigava os proprietários a preservar 25% da área de 
suas terras com a cobertura de mata original. O Código Florestal é 
responsável por manter uma parcela da vegetação nativa no interior das 
propriedades rurais, as chamadas áreas de preservação permanente e de 
reserva legal.
A lei institui regras sobre onde e de que forma o território brasileiro 
pode ser explorado, determina as áreas de vegetação nativa que podem ser
 preservadas e quais as regiões são legalmente autorizadas a receber 
diferentes tipos de produção rural.
O código foi atualizado em 1965, prevendo que metade da área de imóveis 
rurais da Amazônia seja preservada. Em 1996, o Código Florestal foi 
modificado por Medidas Provisórias, até ser publicado, em outubro de 
2012.
http://www1.folha.uol.com.br/dw/1311732-codigo-florestal-falha-na-protecao-da-mata-brasileira-dizem-especialistas.shtml