sábado, 25 de agosto de 2018

Projeto AçaíPiso: a ideia de Rosa Monteiro para substituir o seixo na construção de calçadas no Marajó




Os materiais utilizados para a construção civil estão cada vez mais escassos e caros, principalmente o seixo que é um dos principais itens para as calçadas e pisos. Ao perceber essa problemática, munida dos melhores instintos científicos, da observação, anotação e experiência prática, Maria Rosa Monteiro, do município de Curralinho, no Marajó, cria uma função inusitada e barata para o caroço de açaí descartado das batedeiras no Marajó: o AçaíPiso. 



O Blog Meio Ambiente, Açaí e Farinha se sente honrado em entrevistar esta liderança feminina de Curralinho que corajosamente seguiu sua curiosidade para gerar esta promissora tecnologia socioambiental. 


Blog Meio Ambiente, Açaí e Farinha - Rosa, explique o uso prático do caroço do açaí como aliado da construção civil? 
Rosa Monteiro - O caroço de açaí pode ser um grande aliado das famílias nas construções de pisos e calçadas podendo fazer a substituição do seixo. Em 2014 fiz uma experiência. Nesse experimento, observei que o caroço do açaí possui uma durabilidade e resistência muito próxima do seixo misturado ao cimento e areia. Vi que ali havia uma alternativa de baixo custo para a construção civil, pelo fato de ser mais leve, pela facilidade de obter o caroço, além de dar um destino para esses resíduos sólidos que são um problema ambiental, um lixo ainda sem solução para os marajoaras. 


Blog Meio Ambiente, Açaí e Farinha - Como surgiu essa ideia na sua cabeça?
Rosa Monteiro - A ideia surgiu em 2014, a partir de uma experiência que fiz quando estava fazendo o piso da cozinha da minha mãe. Eu mesma estava fazendo o processo de mistura do seixo com cimento e areia quando acabou o seixo e o piso ainda não estava concluído. Nesse momento tive a ideia de colocar o caroço de açaí para substituir o seixo, e fiz um pequeno piso, em 3 tipos de mistura: fiz só cimento com o caroço; cimento com areia e o caroço; e por fim o cimento com caroço areia e um pouco de seixo. De todos os tipos testados de mistura, concluí que o cimento, com areia e o caroço ficou ótimo e mais ainda o caroço de açaí como se fosse seixo.



Blog MAAF - Sou testemunha que lá em 2014 já testavas essa tecnologia. Como está em 2018 o piso que fizeste?
Rosa Monteiro - Em 2016, resolvi ir mais além com minha experiência. Mandei fazer o piso do ponto de açaí que fica na minha casa. Novamente substituí o seixo pelo caroço do açaí, dessa vez mandei "lajotar". No início deste ano (2018), como tive que ampliar o ponto e o piso teve que ser quebrado, para minha felicidade verifiquei que o piso estava em perfeito estado após quase três anos de uso. Na ampliação do piso, repeti a mistura e coloquei lajotas. Hoje em dia, lavo todo dia o piso e nem sinal de rachadura ou umidade.  Concluí que o cimento protege o caroço do açaí e a lajota com o rejunte defende da agua ou umidade fazendo com que se torne resistente e durável tanto quanto o seixo.


Blog MAAF - Existe algum cuidado em especial nesta prática do AçaíPiso?
Rosa Monteiro – Apesar de ter dado certo, recomendo apenas que o caroço do açaí tem que estar bem enxuto na hora da mistura e no momento de fazer o piso ou calçada, deve-se se escolher um local seco.


Blog MAAF - Qual o potencial de ajuda que sua tecnologia social oferta às famílias mais pobres? 
Rosa Monteiro - A partir da experiência com o caroço de açaí, conclui-se que essa tecnologia social pode ser muito bem aproveitada pelas famílias de baixa renda do Marajó que tem intenção de construir pisos de alvenaria, uma vez que substituir o seixo, cujo metro cúbico é bem mais caro. Essa tecnologia permite também enfrentar um dos maiores problemas das pequenas cidades, o calçamento das ruas. Utilizando o caroço do açaí, o custo vai ser mais baixo, o acesso ao produto substituto ao seixo será facilitado e o melhor: vamos estar ajudando a preservar o meio ambiente utilizando um produto que se tornou lixo e já é um problema em cidades marajoaras como Curralinho.


Blog MAAF – Qual seu próximo passo na aplicação desta tecnologia?
Rosa Monteiro - Meu próximo passo é fazer a experiência em local úmido para testar a durabilidade e o comportamento do caroço de açaí junto ao cimento e o chão molhado. Já comecei os testes e até o final desse ano devo ter esse resultado.



Quem quiser entrar em contato com Rosa Monteiro para maiores detalhes e construção de parcerias e projetos, enviar e-mail para maria.rosapm@hotmail.com.









terça-feira, 14 de agosto de 2018

Carta Denúncia das Comunidades Tradicionais de Abaetetuba

Caríssimos,
Abaixo a denúncia das comunidades tradicionais de Abaetetuba:

"Nós, Povos e Comunidades Tradicionais do Rio Guajará de Beja, Tauerazinho, Tauerá de Beja, Pirocaba e Ramal do Maranhão, município de Abaetetuba, no Estado do Pará, vimos, através desta, denunciar irregularidades cometidas por empresas privadas, Poder público e especuladores nos nossos Territórios, violando os direitos que nos são garantidos pela Constituição Federal e Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Nossa região vem sendo alvo de interesse de grandes empresas nacionais e transnacionais que querem ocupar nossos territórios para favorecer a exportação de produtos de grande valor no mercado, tais como minérios, grãos (principalmente soja) e gado, com apoio governamental e do parlamento. Para tanto, essas empresas invadem nossos territórios, afetando nosso bem estar e modos de vida, coagem as famílias, promovem conflitos nas comunidades e degradação ambiental. Tudo isso para garantir a instalação de grandes projetos como a construção de portos, ferrovias, pontes, abertura de estradas e ramais, transformação dos principais rios da região em hidrovias, expansão das redes de energia e ampliação da infraestrutura urbana para viabilizar os empreendimentos privados.

Vivemos há gerações em nossos territórios, mas governos e empresas fingem que não existimos, como se aqui tivessem apenas áreas vazias, sem gente. Entre as violações dos nossos direitos, destacamos:
- Demarcação e catalogação de áreas sem autorização das comunidades Rio Guajará de Beja, Tauerá de Beja e Tauerazinho;                                  
- Uso de máquinas pesadas para realizar perfuração do solo das margens e de dentro do  Rio Pará, bem como a instalação de boias que impedem a pesca artesanal (matapi, redes e espinhel);
- Proibição dos moradores de Rio Guajará de Beja e de comunidades vizinhas de exercerem suas atividades de subsistência como a pesca artesanal;
- Proibição das comunidades de terem acesso à praia Jurutuba, no Rio Guajará de Beja; 
- Desmatamento do Jurutuba (Rio Guajará de Beja) até a PA-409 por conta da abertura de picos realizada por empresas privadas;                               
- Recusa da delegacia de polícia de Abaetetuba de registrar denúncias apresentadas pelas comunidades;
- Instalação de placas nos ramais sem o consentimento das comunidades e sem as informações corretas;                                                               
- Realização de coleta de assinaturas dos moradores, fotos das casas e propriedades sem esclarecer os objetivos e sem pedir autorização;
- O Plano Diretor Municipal de Abaetetuba aprovado pela Câmara de Vereadores destinou os territórios das comunidades em áreas de expansão portuária sem realizar qualquer tipo de consulta.



Diante dos problemas acima citados, exigimos:

- Saída das empresas dos nossos territórios enquanto o Poder Público não realizar consultas prévia, livre, informada às nossas comunidades com base na Convenção 169 da OIT;
 - Informações transparentes, objetivas e em linguagem popular sobre a atuação das empresas em nossos territórios: Quem são? O que as empresas estão fazendo? Quem deu autorização? Teremos acesso aos resultados das pesquisas?
 - Revisão do Plano Diretor de Abaetetuba com a participação dos Povos e Comunidades Tradicionais e Consulta com base na Convenção 169;
- Regularização fundiária e ambiental dos nossos territórios;
- Garantia do uso comum dos rios, igarapés, praias, baia e florestas;
- Acesso a Assistência Técnica e Extensão Rural, créditos e financiamentos adequados às realidades dos Povos e Comunidades Tradicionais;
- Cadastramento das famílias que vivem nas áreas de várzea e sua incorporação enquanto beneficiárias dos projetos sociais;
- Educação de qualidade com fortalecimento do Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME), construção e aparelhamento de novas Escolas nas comunidades e o fim do Sistema Estudantil Interativo (SEI);
- Transporte escolar para os estudantes do SOME;
- Instalação, aparelhamento e funcionamento com qualidade das unidades básica de saúde;
- Construção do posto de saúde do Rio Guajará de Beja no local escolhido pela comunidade no Ramal Bahia;
- Instalação de redes de abastecimento de água potável nas comunidades Tauerá de Beja, Ramal do Maranhão e Rio Guajará de Beja.
- Conclusão da instalação da rede de energia e melhorias dos serviços,
- Construção da ponte no Ramal das Cabeceiras, no rio Tauerá, na Comunidade Tauerá de Beja;
- Melhoria da ponte no Ramal do Pirocaba/Tauerazinho;
- Construção e melhoria de quadras desportivas.

A partir de agora não mais aceitaremos as seguidas violações dos nossos direitos.

Defenderemos os territórios onde vivemos de todas as formas possíveis contra a omissão do Poder Público e a ganância das empresas, que juntos agem para destruir os nossos modos de vida e nos tirar da terra onde vivemos.

Comunidade Tauerá de Beja (PA), 10 e 11 de agosto de 2018".




Associação Agroextrativista, Pescadores e Artesãos do Pirocaba (ASAPAP)
Associação de Moradores do Tauerá de Beja
Associação de Moradores e Agricultores do Rio Guajará de Beja (AMARGBA)
Associação do Assentamento PAE São Francisco Xavier – Rio Guajará de Beja
Comunidade Católica Nossa Senhora de Nazaré – Pirocaba
Comunidade Católica Sagrada Família – Tauerá de Beja
Comunidade Católica Sagrado Coração de Jesus - Ramal do Maranhão
Comunidade Católica São Benedito Tauerazinho
Comunidade Católica São Francisco Xavier – Rio Guajará de Beja
Comunidade Evangélica Assembleia de Deus – Campo Monte Moriá de Tauerá de Beja
Comunidade Evangélica Assembleia de Deus – Campo Rio Guajará de Beja
Delegacia Sindical de Tauerá de Beja (STTR)
Delegacia Sindical do Pirocaba (STTR)
Secretaria da Colônia de Pescadores e Pescadoras do Rio Tauerá de Beja