sábado, 31 de agosto de 2019

Prosopopeia Rebelde do Dia do Fogo

Depois da floresta tristemente queimada e silenciada, nasceu uma mudinha de embaúba no meio do carvão. 

Um urubu que voava por ali comendo os cadáveres das vítimas do fogo a interpelou:

- Vejam só, também te aproveitas da morte alheia para se dar bem, oportunista do incêndio!

- Com todo respeito à sua função na natureza, seu urubu, mas não me alimento de restos dos que viveram como você! Eu sou a primeira a lutar nesta terra queimada onde ninguém mais acredita que a vida pode e vai recomeçar!

- Uau! Até uma figura melancólica como eu se encheu de esperança agora. Vai lá mana, cresça por nós...

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Lamberto, o Traumatizado: teu ato Chernobyl

Lamberto, o Traumatizado e seu filho Simone (outro traumatizado) conversavam:

"Você assistiu Chernobyl?"
"Assisti, pai".
"Reparaste que o desastre foi causado por um erro após outro erro, após outra burrada técnica, tudo regado pela arrogância do supervisor e políticos que não queriam mostrar que o Estado estava arcaico e que não admitia ser questionado mesmo se tratando de uma provável tragédia?".
"Reparei. Lembrou-me o Brasil de certa forma".
"Por que?".
"Tava na cara que quem estava para ser eleito ia atiçar 'o fogo' nas pessoas, o fogo na Amazônia, o fogo nos direitos, só que regado à estupidez de sua turma. Era uma tragédia anunciada em forma de voto".
"Então temos que evitar que se atice algo mais grave ainda!".
"O que, pai?"
"Que atice a ideia (que nem Chernobil) que a tragédia matou oficialmente apenas 3 pessoas enquanto cientistas estimam o número de vítimas da radiação entre 4 e 90 mil pessoas ao longo dos anos!".
"Caramba! É mesmo... mutuns, tatus, tamanduás, castanheiras, borboletas, igarapés, o casal que morreu abraçado, negros, mulheres, ativistas, indígenas, pessoas com deficiência, idosos, LGBTs... quantos milhares tem sido mortos por este incendiário?".
"Não sei, filho, é uma radiação que ainda se espalha...".



Sem Trauma?




terça-feira, 27 de agosto de 2019

Resistência Versus Colônia

Eu nasci em um município colonizado para fins madeireiros. Sua indústria (de capital internacional) que não pensara no futuro, faliu. 

Eu cresci em uma cidade colonizada para fins de celulose. Sua fábrica (de capital gringo) que mascarara o real interesse nos minérios, vive esticando a falência.


Eu ando por aí vendo regiões na Amazônia sendo exploradas, sem a real participação das pessoas no tecer do bem-estar das próximas gerações.


Colônia? Colônia? Aqui, ali, acolá, às vezes tenta vir de drone com GPS ou simplesmente taca fogo na mata nesta relação doentia entre sequestrador e sequestrado.


Só que felizmente eu conheci a Resistência.


E ela é tuíra, peconhada, de frutas diversas, de peixes diversos.


Marés que molham meus pés descalços.




quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Carta de uma jovem de Curralinho, Marajó, preocupada com a Amazônia

A seguir a carta de Alessandra Castro, jovem de Curralinho, Marajó, demonstrando sua preocupação com o desmatamento na Amazônia:



domingo, 18 de agosto de 2019

Andra Lúcia Chaves Ataíde: Afuá, Cidade das Bicicletas


Foto: Gilbson Campos.


Andra Lúcia Chaves Ataíde[1]

Afuá é uma cidade situada ao Norte do Brasil, na Contra Costa do Arquipélago do Marajó. Sua infraestrutura endógena é caracterizada por construções suspensas de palafitas típicas da região amazônica, arquitetura vernacular de influência ribeirinha e traços indígenas. É uma cidade viva com cores fortes e marcantes que encanta arquitetos, fotógrafos, pesquisadores e estudiosos de diversas áreas.


As bicicletas chegaram na cidade de Afuá por volta da década de 1980, quando os moradores sentiram a necessidade de se locomover com um meio de transporte mais rápido, que se enquadrasse a realidade física estrutural da cidade.

As ruas são suspensas, com 3 (três) metros largura, cerca de 1 (um) metro de distância do chão e em certos trechos a distância pode chegar a 1,5 (um metro e meio). Este aspecto está em função da área de várzea onde a cidade fora construída, sujeita a inundações temporárias, no período da maré lançante, principalmente no mês de março.

Sua extensão viária, de aproximadamente 36.000 m² de ruas ou de ciclovias, faz com que a cidade pedale dia e noite. As pessoas transitam diariamente a pé, de bicicleta, de triciclos e no mais belo veículo ecologicamente correto, “o bicitaxi” (veículo construído da junção de duas bicicletas, com capotas, volante, assentos para quatro pessoas, sendo que duas pedalam e duas vão nos bancos do carona). Existem modelos de bicitaxis inusitados que deixam turistas e visitantes vislumbrados como a “Viúva-Negra”, o “Hulk”, o “Batman”, o “Jipe”, o de “Madeira”, entre outros modelos mais simples que são confeccionados de acordo com as necessidades e características do proprietário.

A cidade das bicicletas é cheia de encantos do nascer ao pôr do sol, um passeio de bicicleta ou de bicitaxi pela cidade das palafitas. São cores marcantes como o amarelo, o vermelho, o verde, suspensas, apreciando as estilosas casas coloridas, que nos proporcionam indagações e questionamentos: como eles criam essas casas? Quando a maré sobe e inunda a cidade eles não ficam com medo? Aqui todo mundo anda de bicicleta?

Estima-se que no município existam 9.567 (nove mil quinhentos e cinquenta e sete) bicicletas na zona urbana. Segundo Rocha, (2017), 75,86% dos indivíduos que residem na sede do município andam de bicicleta e 24,14% se locomovem de bicitaxi ou triciclos.

Foto: Gilbson Campos.





REFERÊNCIAS

PREFEITURA DE AFUÁ. Plano Diretor do Município de Afuá. Secretaria Municipal de Infra-estrutura (SEMINF) Departamento Técnico, Afuá-Pa, 2006;

ROCHA; Marlysse Carla da Silva. Quando a cidade convida: lições de urbanidade e configuração em assentamentos limitados. Dissertação de Mestrado. UNB.  Brasília, 2017.




[1]Bacharel em Turismo, Esp. Em Docência do Ensino Superior, Funcionária Pública da Secretaria Municipal de Turismo Esporte, Lazer e Cultura de Afuá-PA. E-mail: (andrataide@hotmail.com )


sábado, 17 de agosto de 2019

A Bolha (releitura de Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade)


A Bolha - Pantoja Ramos

João adicionava Teresa que curtia Raimundo que cutucava Maria que bloqueava Joaquim que odiava Lili que não influenciava ninguém.


João foi para Marabá ser coaching, Teresa virou pastora, Raimundo morreu por engano, Maria virou motorista de Uber, Joaquim suicidou-se e Lili casou-se com Joana D'arc Pinto Fernandes que não tinha entrado na História.




Quadrilha - Carlos Drummond de Andrade

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Marajó e INPE - Dados de 2018



Copaíba (plântula), comunidade Monte Herom, Portel-PA.



Caríssimas e Caríssimos,

Na defesa de tão importante órgão que tem sido nossos olhos para monitorar e combater o desmatamento na Amazônia, busco homenagear o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) neste simples ato de compilação e transformação em gráfico para os marajoaras.

Abaixo, o desflorestamento acumulado no Marajó até 2018.




















Fonte: INPE/PRODES/http://www.dpi.inpe.br/prodesdigital/prodesmunicipal.php


A área total de desflorestamento somam 422.750 hectares do total de 10,4 milhões de hectares do território marajoara. Isso equivale a 4% da mesorregião, com Portel e Breves liderando o total absoluto de áreas desmatadas. Ainda assim, o Marajó com seus 96% de florestas é um dos principais refúgios da vida amazônica, forte mantenedor do ciclo das chuvas e fundamental para proteção do Rio Amazonas que ruma para encarar de igual pra igual o Atlântico (a pororoca que o diga!), no grande estuário que forma e que abraça o nosso imaginário. Cabe consagrar o Marajó uma Reserva da Biosfera?

Em termos relativos, Salvaterra foi o município marajoara que mais desflorestou em relação à sua área, 11%, seguido de Portel (8,5%) e São Sebastião da Boa Vista (7,6%).


Fonte: INPE.


Como os números mostram, Portel é o município que mais preocupa em termos de desmatamento. Seria um efeito do "arco do desmatamento de Belo Monte", que pressiona Anapu, Pacajá e que agora segue sua sanha para Portel e Bagre? O quanto influenciou o uso do Cadastro Ambiental Rural de Má Fé nesse desmatamento, uma vez que oficialmente este foi criado em 2012?  
Vejamos o comportamento dos incrementos anuais de desflorestamento no município de Portel:


Fonte: INPE

As áreas desmatadas tiveram entre os anos de 2012 e 2016 uma crescente que somaram no período 37.620 hectares. A boa notícia é a queda observada nestes números nos anos de 2017 e 2018, aliás, uma queda substancial (59%) no desflorestamento na região na comparação entre os dois anos. 

Será uma tendência? Em 2019, diante do mundo bizarro que vivemos, os números de desmatamento voltarão a crescer? Talvez estas respostas dependerão da atitude da sociedade portelense em exigir dos gestores ações de combate à exploração clandestina de madeira, grilagem e desmatamento; e continuar perseverando na educação popular para um novo olhar sobre a natureza, a quem exemplifico pelo Centro Manejaí (https://www.manejai.com.br/), o primeiro centro comunitário de manejo florestal no Marajó.


É preciso valorizar as florestas, as pessoas e sua História...

Segue a luta.









quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Morcegos, comunidades e esquecimento - Carta de 2004


A seguir transcrevo a carta que considero minha primeira epístola de fato como um incomodado além da minha engenharia.

Como me fizeram acreditar que os sonhos se realizam, essas pessoas do rio Acuti-pereira.




“Morcegos, comunidades e esquecimento

Belém, 12 de Julho de 2004.


Caríssimos:

Estive recentemente no município de Portel, mais propriamente nas comunidades do rio Acoti-pereira a convite de um líder comunitário. O intuito da visita era passar informações à associação anfitriã (localizada na comunidade Santo Ezequiel) sobre o valor da ação coletiva e do manejo florestal para a conservação dos recursos naturais da região do Estuário Amazônico.

Nas discussões que se seguiram com alguns membros da diretoria, resolvemos adentrar no rio, visitando localidades como Nossa Senhora de Aparecida, São Benedito e São Bento. Nesses logradouros, aconteceram os ataques de morcegos hematófagos aos habitantes locais, cujo problema foi divulgado nacionalmente pela incidência da raiva humana ou hidrofobia – se não me falha a memória – nos meses de Março e Abril do corrente ano.

A enfermidade foi detectada em 15 pessoas, fato que acarretou uma verdadeira operação de guerra para evitar novos casos da doença. Dessa forma, agrônomos, veterinários, secretários de saúde de outras cidades, enfermeiros e médicos passaram vários dias vacinando moradores, estudando e prendendo animais, coletando sangue, enfim, atuando como uma tropa de choque, sempre chamadas em ocasiões extremas como esta que vos digo. Vice-governadora do estado do Pará e poder público municipal apareceram, executaram, prometeram.

Passou-se o ápice da tragédia. Os habitantes da região foram imunizados (com “validação” da vacina de 06 meses a 01 ano, dependendo de cada indivíduo), 15 mortes foram registradas (uma vez que os sintomas aparecem, a mortalidade é altíssima) e decorreram-se 120 dias sem grandes mudanças. Em conversa com pessoas atingidas pelo problema, cujas famílias foram esfaceladas pela fatalidade, foram apontadas promessas não cumpridas e feitas durante discursos naquele momento de agonia pelas autoridades:
  • A instalação de 01 posto de saúde na região do rio Acoti-pereira;
  • Recursos para a construção de casas populares e outras obras sociais; uns falam em R$38.000,00, outros em R$100.000,00. Independente do valor divulgado, o importante é mencionar que a obtenção de moradias bem forradas é imprescindível para evitar novos ataques;
  • Uma estrada ligando a sede municipal de Portel à região.

Senhoras e senhores, além desses compromissos não honrados até agora, que por si só levantam dúvidas sobre a seriedade da condução do processo, constatei ainda algumas situações que deixariam qualquer um preocupado com o futuro daqueles lugarejos.

Não existe trabalho de agentes de saúde de maneira estratégica e contínua, monitorando os residentes para possíveis surtos de raiva humana que possam surgir novamente. Como argumento, ressalto a informação dada a mim que 04 trabalhadores rurais tinham sido mordidos por morcegos recentemente.

A higiene e a saúde das crianças são sofríveis. Do ocorrido dever-se-ia aproveitar a ocasião para debater e agir para melhorar a qualidade de vida infanto-juvenil, com acompanhamento e sensibilização para o uso de hipoclorito na água dos rios para consumo, construção de sanitários mais apropriados (muitas casas não tem) e tratamento dos males dermatológicos que são verificados. Uma pena! Vi meninos e meninas de feições bonitas, porém, precisando de cuidados corporais essenciais.

Outro ponto negativo é o não retorno dos estudos realizados com o sangue coletado das famílias para análise e com os animais transmissores da enfermidade à população do Acoti-pereira. Peço sinceramente que os resultados (mesmo que preliminares) sejam socializados com o público interessado, pois é seu direito ser sabedor do que está acontecendo. Se os comunitários não possuem a base científica para entenderem, que os intelectuais revolucionem a si mesmos para serem os mais didáticos que consigam. Para se ter uma idéia, escutei de 03 moradores a noção (errônea, é verdade) de que a vacina é que está matando, não a hidrofobia. Esclarecer é necessário. Ensinar é fundamental. Perdoem-me a franqueza, mas não podemos admitir que teses ou dissertações sejam feitas para elevarem o nível de vida de uns poucos. É antiético.

Aos políticos do município: pensem antes nos portelenses do que em partidos, eleições ou manobras eleitoreiras. Trata-se de uma questão humanitária e não meramente de conjuntura política. Alerto a vocês que cada vez menos daqueles eleitores “cinco reais” (aquele que vale uma camiseta de campanha) estão a permanecer. Construir e não iludir, eis o caminho.

Às associações comunitárias de Portel digo que procurem não depender tanto de outros mais endinheirados. Façam parcerias com aqueles que desejam um bem mais duradouro para convosco. Torneios, camisas de time, quartos de boi e outros brindes são apenas elementos de momento: seus filhos são aqueles que irão ficar. Pensem nisso. Desculpem qualquer coisa.

Carlos Augusto Ramos.”



segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Lamberto, O Traumatizado: "Açaidinha"


Lamberto, o Traumatizado, saía da batedeira de açaí do Seu Ceru trazendo à mão 1 litro na sacola do popular. De repente:

"PERDEU!! PERDEU!!".

O assaltante com a arma na mão gritava: "BORA, RAPÁ, PASSA O OURO!!".

"Que ouro, mano?? Cadê? Nem com relógio eu tô??".

"E NESSA SACOLA??!! NÃO ENGANA MALACO NÃO, RAPÁ!!".

"Aqui?? É só meu açaí.".

"POISÉ, PASSA O OURO! PASSA!!".

"Ouro?".

"OURO PRETO MERMÃO!! QUÉ LEVÁ PIPOCO?!!".

"Poxa, cara, toma, caramba, Chuinf!".

"AÍ OTÁRIO, CHORA MESMO, AQUI É CRIME!".

Lamberto senta na sarjeta. 

"O que é que eu vou fazer... O que vai ser mim hoje... Só tô eu em casa, ia comer esse açaí com ovo...".

O ladrão volta-se pra ele.

"COMEQUIÉ?? TU É ABESTADO?? COMER COM OVO!!".

"É só o que tinha em casa pra comer com açaí, sabecomué, tá difícil as coisas...".

"Nem uma mortadela?".

"Sequer uma banha de charque...".

"Aí, ó, pega essa sacola, abre aí... ABRE AÍ RAPÁ, TÁ SURDO??!".

"Tá bom, tá bom.".

"Metá-Metá".

"Obrigado seu malaco, muito bom de coração o senhor... chuif!".

"CALA-BOCA-MACHO! Vou levar meio litro pra comer com mapará frito lá em casa! Aqui é Ostentação!!".

"Me bate, logo".

"E PEGA O BECO QUE EU VOU PASSAR O SAL!!".

Lamberto levantou-se rapidinho e tratou de obedecer. Quando já estava perto de casa, avistou o mesmo ladrão o seguindo.

"NÃO CORRE!".

Parou gelado.

O ladrão se aproximou com uma poquequinha de plástico com um pó branco dentro.

"Que o senhor quer?? Eu não vou traficar pro senhor, não, não".

"Te acalma, cumpadri, vim te passar o sal. Comer açaí com ovo insosso é a morte!".

"Ah, tá... Valeu...".

"Que o CONSIDERADO te acompanhe".

"Amém.".


Eu ouvi um AMÉM??





Sem Traumas. 





sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Crônicas, Passageiro: Código de Coletivo


Belém, 02 de agosto de 2019.


O Marambaia-Ver-O-Peso seguia por dentro do meu bairro nem rápido, nem lento. Fez a curva na Rodolfo Chermont tranquilamente. Quando saiu da rotatória, um barulho muito alto, de algo que tinha se chocado a um objeto metálico surpreendeu a todos no veículo. Uma senhora idosa tinha caído da cadeira batendo forte com o rosto no piso do ônibus. 

Todos se apavoraram e num instinto humanitário a maioria se levantou para socorrer a senhora, que parecia não entender a  situação. Mesmo os que estavam em transe-zap- zumbi se assustaram. As mulheres mais próximas e eu conseguimos erguê-la e colocá-la de volta na cadeira do ônibus. Seu supercílio começou a sangrar, a órbita do seu olho direito começou a arroxear. 

Preocupados com a senhora, começamos a aconselhar que ela fosse a um posto de saúde mais próximo. O cobrador veio ver como ela estava. O motorista parou o ônibus e veio também verificar a situação. Perguntou como ela estava, zeloso, como todos nós estávamos.

"Acho que ela cochilou...", Disse a amiga que a acompanhava, outra anciã.

"Vocês querem que eu pare no posto de saúde? Numa UPA?".

"É melhor, senhora, melhor não arriscar", ponderou uma moça.

"A gente ia pro IPAMB".

Tratava-se do Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Belém.

"Pessoal, eu vou deixar vocês até o Bosque e dali vou levar as senhoras pro IPAMB, tá? Aí vocês pegam outro ônibus, a gente chama um pra vocês entrarem por trás".

"Claro, Claro".

Todos prontamente concordaram.

Descemos.

Seguimos para nossas vidas, provavelmente comentando em nossas casas sobre o ocorrido.

Dentro do coletivo, somos solidários.

Código de união no busão. De que somos gente.

Em tempos em que a frase "penso logo existo" é corrompida, talvez seja justificável para a luta: 

"Me importo, logo, Existo".