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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Contar de Marajó - Eduardo e Eunice de Castro Ribeiro

Ontem recebi de forma muito carinhosa alguns exemplares do livro Contar de Marajó como doação ao Programa Viva Marajó do Instituto Peabiru, escrito pelo casal Eduardo e Eunice de Castro Ribeiro. Um achado!

Uma forma bastante honrada de repassar a vivência e a natureza do Marajó em sua parte de campos de Soure.

Abaixo um texto do livro:

"Ditos Marajoaras

Há ditos, usados com frequência no Marajó, que ouvi desde criança. Crescendo, e já pensando nas coisas, eles me impressionaram pela propriedade com que eram empregados. De modo simples, revelam a maneira prática e irônica da nossa gente encarar as coisas da vida.

Nas minhas andanças por áreas da pecuária, conversando com vaqueiros e pessoas de outras paragens, jamais escutei esses ditos, que podem até não ser de Marajó, mas foi lá que ouvi dizerem:

'Farinha pouca, meu pirão primeiro', quando vão repartir alguma coisa que tem em menor quantidade do que os que a querem.

'Morre o boi p'ro bem do urubu...' se alguém, vai, de alguma forma, lucrar com o que aconteceu de ruim com o outro.

'Quando Deus dá farinha, o diabo vem e fura o saco', no caso de uma desdita acontecer após fase de bonança.

' Viúvo é o que morre...', evidenciando que só a morte não tem solução, pois o que fica sempre encontra um modo de se divertir...
...

' O couro é Deus quem dá, a roupa a gente compra', para justificar cuidado com as coisas que custam seu dinheiro. Ouvi dizerem muito esse ditado quando, trabalhando em roçagem, tiravam a camisa e se expunham às picadas de insetos e aos espinhos de aturiá e taboca.

...

'Quem tem roça não me deve farinha...', no caso de poderem esperar retribuição de algum favor ou benefício que fizessem.

'Teima, mas não aposta, nem pede agasalho em casa de homem velho casado com mulher nova...' alertando que não se pode prever o futuro e o melhor é não se arriscar.

Matutando esses ditos, confirmei o que já pensava: o marajoara é um sábio gozador...".

Eduardo de Castro Ribeiro/ Eunice de Castro Ribeiro
Contar de Marajó - 2008.


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