Breves/Portel, 02 de dezembro de 2012.
O Território da Cidadania do Marajó, através do Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Marajó  –(CODETEM) em parceria com  o  Grupo de Trabalho da Política Estadual de Manejo Florestal Comunitário e Familiar,  Instituto Internacional de Educação do Brasil, Universidade Federal do Pará, Prefeitura Municipal de Breves, Prefeitura Municipal Portel, Organizações Não Governamentais e Entidades Governamentais Federais, Estaduais, Municipais reuniram-se nos dias 30 de novembro, 01 e 02 de dezembro de 2012, nas cidades de Breves e Portel para a realização da Oficina de  Elaboração e Discussão da Política Estadual de  Manejo Florestal Comunitário e Familiar - Etapa Marajó. Seu objetivo foi propor recomendações aos governos  em suas diferentes esferas  para o uso sustentável das florestas por comunidades rurais da Mesorregião Marajoara.
Esta Carta resume as principais demandas levantadas  sobre  Manejo Florestal Comunitário  e  Familiar  na região, debate  ocorrido no campus da Universidade Federal do Pará em Breves. Assim,  apontam-se como indicações dos participantes da oficina para o avanço do manejo florestal no Marajó:
EIXO I – ORGANIZAÇÃO, EDUCAÇÃO E ASSISTÊNCIA TÉCNICA.
1.  Criar um grupo de trabalho  marajoara  para  discussões,  orientações  e capacitações  de associações  comunitárias, para que  se possa  construir  um diagnóstico do potencial produtivo a nível municipal;
2.  Que sejam promovidas  formações e orientações  contínuas  a partir do diagnóstico  da capacidade produtiva florestal  para as famílias,  associações e cooperativas;
3.  Criar e implantar o centro de formação de manejo florestal comunitário e familiar do Marajó nas regiões de campos e florestas;
4.  Que o Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará e o Serviço Florestal Brasileiro realizem estudos sobre o  potencial do manejo florestal comunitário e familiar no Marajó;
5.  Estabelecer parcerias com universidades e escolas técnicas para a inclusão em suas grades de cursos técnicos e de nível  superiores voltados para o agroextrativismo;
6.  Fortalecer no Marajó a pedagogia da alternância promovida pelas Casas Familiares Rurais e Saberes da Terra, aprofundando assim  a formação técnica no Marajó considerando sua  realidade social, econômica, cultural,  geográfica  e política;
7.  Inserir no  currículo escolar conteúdos e materiais relacionados à educação ambiental e uso sustentável da floresta;
8.  Que o INCRA através do programa  PRONERA  capacite às famílias em gestão de empreendimentos nos assentamentos agroextrativistas criados no Marajó;
9.  Equipar adequadamente de acordo com suas  especificidades os escritórios locais da EMATER,  e incentivar o trabalho de outras agências de assistência técnica;
10.  Promover mutirões institucionais  para emissão de  Declarações de Aptidão ao PRONAF em benefício dos trabalhadores agroextrativistas do Marajó.
EIXO II  –  PRODUÇÃO E MANEJO FLORESTAL MADEIREIRO COMUNITÁRIO E FAMILIAR
1.  Apoio à legalização da atividade florestal dos ribeirinhos a partir do  Plano de Manejo Florestal, com  informação e capacitação  das famílias para o uso adequado da madeira, com reforço da fiscalização para as madeireiras ilegais;
2.  Elaboração de cartilhas que mostrem o passo a passo para o protocolo de Planos de Manejos Florestais Comunitários e Familiares;
3.  Implantar Sistema de  Cadastro  Familiar para  a geração de estatísticas e subsídio às normativas dos órgãos ambientais;
4.  Maior presença dos sindicatos e associações para formalização de denúncias contra a extração ilegal de madeira;
5.  Capacitação comunitária para o  aproveitamento  e comercialização  dos resíduos da madeira  para diminuir a  poluição dos rios e dos solos  pelo desperdício da extração e beneficiamento da madeira;
6.  Capacitar as famílias do Marajó em identificação botânica para melhor monitoramento dos planos de manejo florestal;
7.  Maior  envolvimento do poder público federal,  estadual e municipal  na melhoria do acesso ao crédito e assistência técnica às famílias marajoaras;
8.  Investimento em programa de apoio à segurança das famílias no enfrentamento à extração ilegal de madeira e conflito de terras.
EIXO III – PRODUÇÃO E MANEJO DE PRODUTOS DA SOCIOBIODIVERSIDADE
1.  Criar um grupo executivo formado pelas lideranças do Território  da Cidadania para acompanhamento do uso florestal de produtos da sociobiodiversidade;
2.  Criação e promoção da  uma marca marajoara que identifique os produtos de origem comunitária marajoara;
3.  Fortalecer as  associações de mulheres  extrativistas  e Movimento de Mulheres do Marajó nas discussões dos seus direitos;
4.  Profissionalizar os empreendimentos  comunitários  que trabalham com o manejo do açaí,  óleos,  biojóias, entre outros,  agregando valor ao produto através  da industrialização e padronização da comercialização, embalagem e transporte; 
5.  Que as prefeituras a partir de suas secretarias municipais de agricultura e meio ambiente implantem sistema de monitoramento da  produção  dos principais produtos da sociobiodiversidade, como o açaí, frutos e sementes;
6.  Que INCRA, MDA,  MMA, IBAMA,  ICMBio, SFB, Ministério da Agricultura, IDEFLOR,  EMBRAPA, SEMA, SAGRI,  prefeituras municipais em parceria com as  associações comunitárias implantem a Rede de Sementes Florestais no Marajó, valorizando a floresta como um todo.
EIXO IV  –  CONTRATOS E RELAÇÕES COMERCIAIS ENTRE COMUNIDADES E EMPRESAS
1.  Capacitação das famílias do Marajó para  as implicações, direitos e riscos de acordos comerciais entre comunidades e empresas;
2.  Aprofundar a discussão sobre temas como assessoria jurídica para as famílias, clara repartição das responsabilidades de comunitários e empresas, cláusulas de quebra de contrato, gestão da relação comercial, canais de denúncia, entre outros, no processo de elaboração da política estadual de MFCF, coordenado pelo IDEFLOR, e também junto ao INCRA e ICMBio, com participação das representações dos manejadores familiares da região;
3.  Inclusão  do poder público, como por exemplo as  defensorias públicas como intervenientes dos contratos comerciais entre comunidades e empresas;
4.  Criar uma rede de articulação via internet e rádio para divulgação  dos preços adotados para valorização do volume de madeira em pé elaborados pelo IDEFLOR e SFB, além de informar à população da política de preços mínimos adotada pela CONAB para os produtos da sociobiodiversidade.
EIXO V – REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL E FUNDIÁRIA
1.  Que seja criado  posto avançado do INCRA,  SPU  e ITERPA  no Marajó  dada as demandas a estes dois órgãos  a fim de alavancar e agilizar o processo de regularização fundiária na região;
2.  Maiores esclarecimentos  à população sobre os direitos adquiridos a partir do recebimento dos Termos de  Autorizações de Uso  Sustentável (TAUS)  emitidas pela SPU;
3.  Definição de competência dos órgãos de terra quanto suas jurisdições no Marajó;
4.  Promoção de mutirão para emissão das DAPs por parte do INCRA  em parceria com EMATER, STTRs e demais entidades habilitadas.
5.  Providências e agilidade  da SEMA  no licenciamento ambiental  dos assentamentos agroextrativistas e unidades de conservação;
6.  Aceleração do processo de descentralização da gestão ambiental envolvendo os municípios;
7.  Integração dos órgãos federais,  estaduais, e municipais  nas ações de regularização fundiária e ambiental.
As recomendações apontadas nesta carta representam uma contribuição às autoridades para que as comunidades possam  ter bem estar social e renda uma vez consolidada a  segurança da terra e disseminado o  manejo florestal comunitário e familiar  e valorização dos produtos dos agroextrativistas do Marajó.  Ao mesmo tempo, o movimento social  do Marajó mantém seu compromisso de  somar esforços  na implantação desta  filosofia  que sempre foi a dos  marajoaras  de manutenção e valorização da floresta em pé. Somente com a ação de toda a sociedade faremos o marajoara do futuro usufruir e conservaras riquezas naturais de fato e de direito que hoje ainda dispomos.
Assinam este documento:
  Associação de Moradores do Assentamento Ilha Ituquara-Breves
  Associação dos Moradores da Reserva Extrativista de Gurupá e Melgaço – ASTREM
  Associação dos Moradores da Reserva Extrativista do Mapuá – AMOREMA – Breves
  Associação dos Moradores do Assentamento Ilha Pracaxi – AMAPI– Breves
  Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó – AMAM
  Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Rio Acuti-pereira – APERAP - Portel
  Associação dos Pescadores do Rio Pacujutá e PracuubaMiri  –  São Sebastião da Boa Vista
  Associação dos Trabalhadores Agroextrativista do Rio Jupatituba - Breves
  Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas – ATAIC - Gurupá
  Associação dos Trabalhadores Extrativistas da Ilha da Serraria Grande – ATS – Afuá
  Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha de Soure – ASSUREMA
  Associação Sindipesc de Salvaterra
  CAI/UFPA- Célula de acompanhamento e Informações do Marajó
  Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Marajó – CODETEM
  Colônia de Pescadores Z-22 – Chaves
  Colônia de Pescadores Z-29
  Colônia de Pescadores Z-37 – Curralinho
  Colônia de Pescadores Z-59 – Muaná
  Comunidade Irmã - Breves
  Comunidade Quilombolas de Salvaterra
  Conselho Nacional das Populações Extrativistas – CNS
  Cooperativa dos Produtores Rurais, Pescadores e Extrativistas do Açaí e Similares de 
Chaves – COMPROEX
  Cooperativa Mista Sustentável dos Produtores Rurais de Muaná
  Diocese de Ponta de Pedras
  Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER/ regional Marajó
  Fórum da Juventude Marajoara
  Grupo de Trabalho da Política Estadual de Manejo Florestal Comunitário e Familiar
  Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará  - IDEFLOR
  Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB
  Instituto Lupa Marajó - Curralinho
  Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária  - INCRA
  Movimento de Mulheres do Marajó
  Prefeitura Municipal de Breves
  Prefeitura Municipal de Chaves
  Prefeitura Municipal de Portel
  Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Breves
  Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cachoeira do Arari
  Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Curralinho
  Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Muaná
  Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Portel
  Universidade Federal do Pará – Campus Universitário do Marajó Breves