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sábado, 9 de março de 2013

DISCURSO DO PROF. NENA SOBRE A FUNÇÃO DO VEREADOR - 3ª SESSÃO ORDINÁRIA DO DIA 07 DE MARÇO DE 2013.


Excelentíssimo vereador Labinho de Oliveira, Presidente da Câmara Municipal de Breves; ......; ........;
Secretários, Senhoras e Senhores,

Ao tomar posse como vereador, descobri que existe um grande abismo entre o discurso teórico e as práticas existentes. Descobri que as praticas se contradizem com os discursos.


Esse abismo me fez mergulhar numa crise existencial porque ao longo de 14 anos de militância político-partidária e nos movimentos sociais, fui formando um posicionamento politico ideológico que acreditei ser verdadeiro, mas que na prática nos força a abrir mão dessa formação e ceder ao sistema aí imposto. Ceder às práticas existentes que se tornaram corriqueiras entre nós.


Soma-se a isso, o fato de que nossos próprios eleitores não entendem a dinâmica do processo legislativo, ainda não compreendem o papel da câmara municipal, que o vereador não tem a função de conseguir um emprego, comprar uma receita, comprar uma passagem, mas sim exercer o papel de fiscalizador do dinheiro público e elaborador de leis que beneficiem a nossa população.


E mesmo que eu não tenha me comprometido, os pedidos vêm. Muitos desses pedidos vêm de pessoas que não me apoiaram. Diante de tanta pressão, quase fui forçado a ceder.


Confesso que fui tentado a abrir mão daquilo que me foi dado no berço da minha família e moldado ao longo dos anos por pessoas que convivi e outras que não convivi, mas que sempre lutaram por um ideal.


        Fiquei pensando se Ganga Zumba seguido de Zumbi dos palmares não tivesse lutado pela liberdade dos negros num sistema escravocrata do século XVI; Se Guamiaba, cacique dos Tupinambás ou Ajuricaba tivessem se conformado com a escravidão indígena ou o domínio dos seus territorios; Enquanto muitos africanos estavam conformados com o Aphartaid, Nelson Mandela rebelou-se; o Pastor Martir Luter King lutou pelos direitos civis dos negros norte-americanos numa sociedade racista, mas quanto entre eles apenas se conformaram com a situação e não fizeram nada para fazerem a diferença.


Vindo para os dias atuais como ser o legislador, como ser um fiscalizador do executivo se estamos cheios de indicações? Até onde tenho liberdade para exercer o meu papel de vereador se estou sendo beneficiado por aquele que eu tenho que fiscalizar. Como pedir para chamar os concursados se eu fiz indicação de pessoas para trabalharem? Como solicitar concurso publico se a folha esta inchada por temporários?


Não sei quantas vagas os senhores indicaram, se indicaram. Mas eu quero lhe informar que abri mão de fazer qualquer indicação, não que eu não tenha tentado, confesso que até tentei encontrar uma brecha.


Eu abri mão de fazer qualquer indicação no serviço público, por vários motivos, porem citarei dois: se o voto aqui nesta casa tem peso igual para todos os vereadores independente da quantidade de votos obtidos nas urnas porque as diferenças nas indicações de emprego? Por que vereador A indica mais que vereador B?


Outro motivo é exatamente quando a minha categoria ou qualquer outra categoria do serviço publico municipal falar que a folha de pagamento esta inchada em virtude de indicações dos vereadores, que na campanha eleitoral fizeram promessas de empregos em troca de voto eu possa andar de cabeça erguida entres eles e falar eu estou livre desta acusação. Eu optei em fazer a defesa do concurso público.


Nobre pares, continuo falando isto, porque mesmo que eu tenha entrado na crise de ideologia, neste choque de realidade, mesmo que eu tenha sido tentado pelo sistema, pelas práticas que se tornaram corriqueiras na câmara de vereadores, largando tudo aquilo que eu acredito que é certo. Após dias de reflexão preferi segui na contramão. Por Favor, não confundam contramão com oposição.


É logico que esse meu posicionamento seria muito fácil se tivesse sido eleito na oposição, pois os argumentos seriam mais convincentes, as pessoas entenderiam facilmente que não posso arranjar nada porque o prefeito não é do meu lado.


Na situação é bem mais difícil explicar para as pessoas que eu não tenho passagem, que não tenho remédio, que não consigo emprego.


Quero que o meu conselho Politico compreenda que estou tentando quebrar esse vício politico que sempre ouve na câmara municipal. O vicio da obediência, de balançar a cabeça.


Sei perfeitamente que a minha atitude aponta apenas para um mandato de quatros anos, pois, por mais que eu me esforce na elaboração de leis, na fiscalização do dinheiro público, que eu entre oitos horas na Câmara e só saia as quatorze horas. As pessoas não reconhecem esse tipo de trabalho. É igual obra de saneamento básico ninguém quer fazer porque obra enterrada não atrai voto.


Mas o que seria do homem sem seus sonhos, sua fé? O que seria de mim se eu abrisse mão das minhas ideologias, das minhas convicções. Desta forma eu prefiro ousar a lutar por aquilo que eu acredito embora os meus eleitores não conheçam o conteúdo programático do meu partido. Eu quero seguir acreditando na esquerda, acreditando nos movimentos sociais, acreditando que nós podemos fazer a diferença, por menor que ela seja. Quero seguir em frente mesmo que não seja reeleito na próxima eleição para vereador, mesmo que a sociedade não entenda o que eu estou fazendo. Quero que todos saibam que eu não me candidatei para me manter no poder. Eu me candidatei para mostrar que é possível ousar, que é possível fazer diferente.


Este é o meu posicionamento e não o do partido.

Um bom dia a todos

Flávio Bentes – conhecido como Professor “Nena”.
Vereador do município de Breves em seu primeiro mandato


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