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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Casa Familiar de Gurupá: 12 anos de história

                                         Gurupá, 17 de novembro de 2013.


Quando viajo e vejo as dificuldades do Estado Brasileiro e do capital em entender o quão é importante conservar nossas florestas, me vêm sempre à mente dois pequenos focos de resistência em meio aos inúmeros focos de calor e às incontáveis árvores derrubadas sem planejamento: o centro de treinamento em manejo florestal do Instituto Floresta Tropical e a Casa Familiar Rural de Gurupá.


O primeiro exemplo apresenta uma ilha de manejo florestal em meio a tanta destruição e degradação socioambiental causada pela ganância dos homens. E apesar de tantos planos de manejo licenciados que não fazem jus ao manejo, mesmo com a não observância do que o manejo preconiza; ainda com a falta de um simples cuidado das empresas em cortar os cipós de uma árvore inventariada um ano antes do corte para não derrubar outras, permanece o IFT na corajosa e árdua tarefa de capacitar pessoas para um efetivo manejo da floresta. Sem saber se um dia será cobrado o mínimo que deveria ser exigido, eu ainda acredito no manejo florestal.


Em outro lugar, no rio Uruaí, em Gurupá, convivi com outra categoria de resistência: a da educação agroextrativista de fato. Lá se vai 12 anos de história na busca por uma educação sincera com a realidade ligada ao peixe, à peconha, ao matapi, à mandioca e à comunidade, o sentimento verdadeiro de comunidade. Um saber da construção em vez da competição, do dialogar em vez do ensinar, da reflexão do agro e o extrativismo e como estes se relacionam com o mundo e seus dilemas sobre consumismo, equilíbrio ambiental e bem estar social.


E não tem sido fácil manter a CFR. E dá pra entender os motivos da falta de apoio e não reconhecimento deste método de ensino em território paraense nestes anos. Como um sistema voltado para uma educação mercantilista poderia permitir que houvesse a reprodução em escala geométrica de pessoas com olhar do todo, críticas de seu tempo e de sua história? 300 estudantes que possam pensar em engenharia de processos vindos do meio rural, tão jovens a discutir? Não dizem abertamente os imperadores, mas acham um absurdo a clarividência juvenil.


O que mais me impressiona na CFR é a sua capacidade de estar sempre incomodada e fazer as lideranças de mais idade se mexerem na cadeira. E é bom que isso aconteça. Alerta aos vividos que acomodar-se é antecipar a aposentadoria, o que não desejam por sua militância na veia. E o que mais me surpreende nos alunos e ex-alunos é o profundo respeito pelos históricos líderes. Por mais que um jovem da CFR tenha obtido vitórias terras afora, permanece a consideração por seus mestres. Assim temos algo circular de apreço.

Muitas escolas por aí tem o preço da mensalidade.

Pouquíssimas tem verdadeiramente valor.















Pantoja Ramos

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