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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O lago Acuti-pereira

        
                    Saberes da Terra, Portel, 13 de dezembro de 2013.

A garça com seu bico bateu no galho
Alvorada fim de maio
Inverno não tão forte
Orquestra lago norte
E a passarada chegou de lá de cá

As passarinhas cores se aplumaram
Esticaram bicos e testaram
O passo que alonga
As asas quantas conta
Aquecidas no sol para bailar

E o quiquió enxerido
FIU-FIU para a rolinha!
E o quiquió vidrado
FIU-FIU para a andorinha!
E o quiquió ousado
FIU-FIU pra ciganinha!
E o quiquió tão encantado!

E o galante orgulhoso
BEM-TE-VI siririzinha!
E o sedutor insiste
BEM-TE-VI pra coroquinha!
E o cortejo ensaia
BEM-TE-VI maria-bestinha!
Do voador que é bem amado.

Piriquitinhas no movimento
Faziam círculos no vento
Tão rente aquele ramo
Tão parte de seus planos
Cai cai frutinha de açaí

Japiins
Rodando
Voando
Pousando

Garça
Regendo
Sabendo
Enredo

Mutum desliza, Pitilique pula, Juruti rodopia, Jacu pirueta,
Tucana imita
Tal qual uma seta



Ariramba
Tão bamba
Meio valsa
Meio samba

Pipira
Ó Lira
Que gira
Envira

Nambu saltita, Pavãozinho roda, Cujubim desfila, Socó perneia
Gavião que dança
No ar se lança


Maracanã encolhida fica no meio
Rodeada de marrecas que em cheio
Jogavam as palhinhas
Baixavam quietinhas
Para o aplauso da plateia alada

Os papagaios gritando descem a cortina
Pro fim da dança das meninas
Azul escurecendo
O palco acabou sendo
O lago Acuti-pereira
Pantoja Ramos

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Extrativista, Quanto Vale a Floresta?

Caiu mais uma árvore de angelim vermelho. E o preço dela pago na hora pelo madeireiro foi de 50 reais a árvore. Para o velho piquiá, pagou-se não mais que 30 reais. E se pergunta ao extrativista, ao amazônida, ao brasileiro: quanto vale a floresta?



Se pararmos pra pensar um pouco, tal qual na parábola dos talentos, a sociedade brasileira tem algo valioso que não sabe cuidar. Talvez a maior pobreza da nação seja não reconhecer a riqueza que temos, esvaindo-se ela em balsas de toras que somem pelo rio, levando tudo, não deixando nada.


E como pode um angelim de 10 metros cúbicos de volume ser vendido a 50 reais?! Oficialmente, pelas normas do Pará, seu valor é no mínimo de R$51,12 o metro cúbico da árvore em pé. Ou seja, ao menos R$511,20 vale este indivíduo, patrimônio da floresta pública. Se explorado e transportado, vá lá, perdendo 30% de seu volume e passando a 7 metros cúbicos aproveitáveis, com valor em tora de R$170,00 o metro cúbico, o valor da árvore exemplo passa a ser de R$1.190,00. 
Contra os  50 reais arrematados pelo madeireiro.


Ao considerar que 40% se perde no beneficiamento (passando de 7 metros cúbicos em tora para cerca de 4 m3 de madeira processada), a um valor de R$ 600 pago pelo mercado pelo metro cúbico serrado, a mesma árvore de angelim chega ao consumidor a um preço de R$2.400,00.


Contra os 50 reais comprados na informalidade e na falta de informação.

Agora, multipliquem esta situação às inúmeras retiradas de madeiras clandestinas em nossa Amazônia. São milhões e milhões de reais furtados dos cidadãos amazônicos por ganância de uns em detrimento de milhares de famílias agroextrativistas. Imagine-se o quanto se perde no avanço do desmatamento. Não se trata apenas de crime ambiental: é crime socioambiental por tirar economia da geração vindoura.


Entretanto, há esperança como sempre no amanhecer do dia. Gente que reconhece, por exemplo, que é melhor investir em frutos de açaí do que decepar palmito sem planejar o futuro. Que faz a conta das mais simples: se um açaizal tem 600 touceiras em 1 hectare, com 2 estipes produtivos no mínimo a produzir cada um meia lata de frutos, recebe ao final a vitória de ter 600 latas por hectare. Disseram-me que no rio Canaticu, Curralinho, em 2011, a média de preços da lata foi de R$10,00. Ora, nada mal termos 6 mil reais por hectare com a valorização de frutos do açaí!


E se cuidássemos da copaíba? Pois seu Pacatuba, lá do Moju, me diz que encontra do tipo vermelha que produz fácil 15 litros de óleo. Se o litro é vendido a 60 reais nos mercados, é mais viável derrubar copaíba pela madeira ou aproveitar o seu medicinal óleo? Neste exemplo, são R$900,00 de três em três anos que se pode ter.


E se contássemos o que tem na mata? Tenho certeza de que teríamos outra postura diante de toda destruição existente. Em 100 hectares inventariados em Portel, estudos do Instituto Floresta Tropical encontram potencial de receita vinda de manejo florestal comunitário em 250 mil reais por ano para madeira em pé, 750 mil reais por ano para madeira em tora e 1,2 milhões de reais por ano em madeira serrada, considerando uma extração de apenas 10 metros cúbicos de madeira por hectare.

Com toda esta possibilidade, não deveriam existir famílias com apenas uma só parede a proteger do frio amazônico. As inúmeras reservas extrativistas, assentamentos agroextrativistas e territórios quilombolas poderiam (aplicando manejo florestal) suprir a necessidade de casas. Então porque não pensar em um Programa de Aquisição de Madeira Manejada para os planos governamentais de habitação rural? Áreas de manejo não faltariam, com certeza. E uma nova forma de renda surgiria.

Mas todas as comparações acima mencionam preço. No entanto, qual o valor da floresta? Quanto vale o clima saudável de uma mata, a escorrer os rios passando pela nossa lembrança de infância? Tem preço a receita da avó nossa servindo piquiá cozido? Quão monetário deve merecer a árvore que convida os bichos ao banquete de suas sementes e frutos? 


Diante do aumento do desmatamento e da escalada da extração ilegal de madeira, é moralmente necessário cuidar da floresta e pensá-la como algo sem preço e sim com apreço e valor.  

É pra ontem essa urgência, pois o hoje nos preocupa o amanhã.  


                                                                                                                                                                                                               Pantoja Ramos, 27 de novembro de 2013

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Casa Familiar de Gurupá: 12 anos de história

                                         Gurupá, 17 de novembro de 2013.


Quando viajo e vejo as dificuldades do Estado Brasileiro e do capital em entender o quão é importante conservar nossas florestas, me vêm sempre à mente dois pequenos focos de resistência em meio aos inúmeros focos de calor e às incontáveis árvores derrubadas sem planejamento: o centro de treinamento em manejo florestal do Instituto Floresta Tropical e a Casa Familiar Rural de Gurupá.


O primeiro exemplo apresenta uma ilha de manejo florestal em meio a tanta destruição e degradação socioambiental causada pela ganância dos homens. E apesar de tantos planos de manejo licenciados que não fazem jus ao manejo, mesmo com a não observância do que o manejo preconiza; ainda com a falta de um simples cuidado das empresas em cortar os cipós de uma árvore inventariada um ano antes do corte para não derrubar outras, permanece o IFT na corajosa e árdua tarefa de capacitar pessoas para um efetivo manejo da floresta. Sem saber se um dia será cobrado o mínimo que deveria ser exigido, eu ainda acredito no manejo florestal.


Em outro lugar, no rio Uruaí, em Gurupá, convivi com outra categoria de resistência: a da educação agroextrativista de fato. Lá se vai 12 anos de história na busca por uma educação sincera com a realidade ligada ao peixe, à peconha, ao matapi, à mandioca e à comunidade, o sentimento verdadeiro de comunidade. Um saber da construção em vez da competição, do dialogar em vez do ensinar, da reflexão do agro e o extrativismo e como estes se relacionam com o mundo e seus dilemas sobre consumismo, equilíbrio ambiental e bem estar social.


E não tem sido fácil manter a CFR. E dá pra entender os motivos da falta de apoio e não reconhecimento deste método de ensino em território paraense nestes anos. Como um sistema voltado para uma educação mercantilista poderia permitir que houvesse a reprodução em escala geométrica de pessoas com olhar do todo, críticas de seu tempo e de sua história? 300 estudantes que possam pensar em engenharia de processos vindos do meio rural, tão jovens a discutir? Não dizem abertamente os imperadores, mas acham um absurdo a clarividência juvenil.


O que mais me impressiona na CFR é a sua capacidade de estar sempre incomodada e fazer as lideranças de mais idade se mexerem na cadeira. E é bom que isso aconteça. Alerta aos vividos que acomodar-se é antecipar a aposentadoria, o que não desejam por sua militância na veia. E o que mais me surpreende nos alunos e ex-alunos é o profundo respeito pelos históricos líderes. Por mais que um jovem da CFR tenha obtido vitórias terras afora, permanece a consideração por seus mestres. Assim temos algo circular de apreço.

Muitas escolas por aí tem o preço da mensalidade.

Pouquíssimas tem verdadeiramente valor.















Pantoja Ramos

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Quilombolas e Agroextrativistas de Santarém/PA entregam Carta de reivindicações ao Superintendente Regional do INCRA

Na última quinta-feira (7), lideranças quilombolas e agroextrativistas de Santarém/PA apresentaram uma carta de demandas das comunidades a representantes do INCRA, entre eles o Superintendente Regional do INCRA, Luiz Barcellar. As comunidades exigem a atuação do INCRA na efetivação dos direitos dos povos tradicionais de Santarém, especialmente no que diz respeito à regularização fundiária e titulação dos territórios.
A demora para titular os territórios já dura décadas e dificulta a garantia da terra e dos modos de vida das comunidades. A indefinição sobre a regularização também resulta em problemas de infraestrutura para o escoamento da produção agrícola e em conflito com latifundiários e empresas de exploração dos recursos naturais.
Nenhuma das 11 comunidades quilombolas de Santarém que aguardam titulação pelo INCRA foram atendidas. Segundo o órgão, não existem técnicos suficientes para o trabalho de identificação, nem mesmo aplicação de verba pública para suprir essas demandas.
As organizações presentes na reunião firmaram conjuntamente a pauta o compromisso de retornar às discussões, especialmente para acelerar a realização do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e da emissão da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) às famílias quilombolas e agroextrativistas.
Participaram da reunião integrantes da Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), da Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós – Arapiuns (TAPAJOARA), a Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande (FEAGLE) e da Terra de Direitos.
Leia a carta:

Carta das comunidades quilombolas e agroextrativistas de Santarém
Nossa região do Baixo Amazonas está sendo cercada de grandes empreendimentos em prol de um modelo de desenvolvimento para o Brasil. Nós, porém, nunca fomos consultados se queríamos ou não esses grandes empreendimentos em nossa região. Nós, que somos comunidades tradicionais amazônicas nunca fomos consultados sobre hidrelétrica, madeireira ou mineradora que vêm explorar os recursos naturais.
Em defesa do nosso direito de sermos consultados, nos manifestamos para que o Estado brasileiro ou qualquer empresa reconheça que somos sujeitos de direitos e que queremos nossa Amazônia protegida de qualquer devastação.
Além disso, ainda hoje lutamos por nossos territórios. No Projeto de Assentamento Extrativista (PAE) Lago Grande a regularização fundiária da área não foi concluída. Às famílias assentadas são negados crédito, apoio e habitação, projetos de produção, assistência técnica e ainda são cobradas para apresentar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP) sem as mínimas condições de acessá-los.
Os moradores da Resex Tapajós-Arapiuns também estão sem crédito habitação, sem apoio para estradas e transporte da produção, sem energia elétrica (Projeto luz para todos) e o mapeamento da área não foi consolidado pelo ICMBio, nem mesmo seu Plano de Manejo.
Nenhum território quilombola foi titulado em Santarém. São mais de 11 comunidades que aguardam os procedimentos do INCRA que estão parados seja em Santarém ou em Brasília. Não existem técnicos suficientes para o trabalho de identificação, nem mesmo aplicação de verba pública para suprir essas demandas.
Diante desse desrespeito aos direitos das comunidades tradicionais é que exigimos do Estado, em especial do INCRA e do ICMBio, o cumprimento de suas obrigações para garantia dos territórios e dos modos de vida dos agroextrativistas e quilombolas de Santarém.
Santarém, Pará, 18 de outubro de 2013.
1.      STTR – Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Santarém
2.      FOQS – Federação das Organizações Quilombolas de Santarém
3.    TAPAJOARA- Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós – Arapiuns
4.   FEAGLE – Federação das Associações de Moradores e Comunidades do Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande
5.      Terra de Direitos – Organização de Direitos Humanos


domingo, 3 de novembro de 2013

Palmerês

                                           Estreito de Breves, 31 de outubro de 2013.




Paxiúba tucumã mumbaca inajá
Juçara pupunha bacaba marajá
Caranã urucuri bussu mucajá
Babaçu murumuru miriti jareuá

Jupati açaí miriti
Açaí urucuri jupati
Miriti urucuri ubim
Açaí açaí açaí

Patauá caranã bussu jupati
Inajá miriti juçara urucuri
Mucajá Jareuá babaçu miriti
Marajá macaúba tucumã ubim

Babaçu bussu murumuru
Murumuru babaçu bussu
Bussu murumuru babaçu
Bussu bussu bussu

Marajá miriti bacaba
Inajá açaí mumbaca
Jupati urucuri jareuá
Patauá patauá patauá

Pindorama


Pantoja Ramos

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Reino Marajó

   Foto: Instituto Peabiru. http://peabiru.org.br/multimidia-2/galeria-de-imagens/viva-marajo/#jp-carousel-995

                          Belém, 27 de outubro de 2013.

“Vaqueiro dos campos
Quais serão teus santos?
Rezo para tantos
Te trazerem a mim
Me joga teu laço
Dou primeiro passo
Zelo teu cansaço
Ai de ti!
Sozinho dá dó
Tu me és um nó
Vaqueiro Marajó”.

“Moça lá das matas
Força que me arrasta
Tu que me afasta
Do que é real
Nunca ter vivido
Posso ter ouvido
E to convencido
Não é normal
Avisa ó curió
Me traz o meu xodó
Donzela Marajó”.

Passa um cometa
Que aos dois afeta
Mata descoberta
Campos do Senhor
Uma carta escrita
No cabelo a fita
Vestido de chita
Pro amor
“Flor do Igapó
Somos nós um só
De um Reino Marajó...”.
Pantoja Ramos



   Foto: FASE


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sistemas Agrários que formaram o Marajoara - ensaio

    Foto: Suane Melo


Em 2008, o Governo Federal instituiu o Programa Territórios da Cidadania, coordenado pela Casa Civil da Presidência da República, classificando o Marajó como uma marca territorial. De fato, a centenas de anos os habitantes da região se reconhecem como marajoaras, identificação esta formada ao longo dos anos pelos distintos sistemas agrários que prevaleceram no Marajó, desde os Sistemas Indígenas (Schaan, 2004)[1], até o classificado como Contemporâneo (Souza, 2013)[2], passando pelos sistemas Agrário Colonial e da Economia da Borracha (Souza, 2013). Em comum a todos, a forte ligação das atividades humanas a mercê da abundância ou escassez de produtos florestais, agroflorestais e aquáticos. Desde 1950, este processo tem sido mais emblemático, como no exemplo do ápice e derrocada da indústria madeireira e do palmito, o que marcaria um Sistema Agrário da Indústria Predatória, como o próprio nome já indica, caracterizado pela falta de planejamento e sobre-exploração dos recursos naturais, favorecendo pequeno grupo de pessoas.

Historicamente esta região tem sofrido com a ausência de investimentos em infraestrutura, notadamente transporte e energia, dificultando a promoção do desenvolvimento em todas as suas dimensões. Isolamento geográfico/espacial, estagnação econômica e subdesenvolvimento político são as características que configuram a condição de abandono e pobreza do Marajó no momento atual. Mesmo os investimentos feitos no Marajó serviram para enriquecer financeiramente a poucos, em detrimento dos trabalhadores rurais e urbanos. Tal negligência estatal e mesmo da sociedade em geral por séculos acabam por manter os números de IDH e PIB como dos piores do país.

   Foto: Instituto Peabiru (adaptado)


A oficialização de Território Tradicional e Povos/ Comunidades Tradicionais a partir do Decreto Lei 6040, de 07 de fevereiro de 2007 reforça a ideia de um Marajó diferenciado: de possuir ribeirinhos que aparecem em sua origem como seringueiros, castanheiros, pescadores artesanais, indígenas além dos remanescentes de quilombos e  tipos humanos reconhecidos pela ciência como no caso do vaqueiro do Marajó (Boulhosa, 2007)[3] e dos peconheiros (extratores de açaí – Silva et. al, 2011 )[4]. Todos os citados anteriormente têm no uso da natureza a sua sustentação, influenciando decisivamente na socioeconomia histórica dos municípios marajoaras e capitais como Belém e Macapá. É neste contexto que o fortalecimento de áreas humanas, exatas, agrárias e biológicas deve encontrar campo fértil para continuar gerando novos estudos e descobertas.

A base desta nova plataforma científica pode estar na corrente mudança que vem ocorrendo desde 2002, com o início da regularização fundiária em ilhas da região, quebrando uma estrutura agrária que não reconhecia a posse das comunidades tradicionais.  A cessão de uso gratuito da Ilha de Santa Bárbara pela União aos moradores locais (2002), a criação do Assentamento Agroextrativista do Camutá do Pucuruí (2001) e a criação dos Remanescentes de Quilombos (2001), todos em Gurupá deram origem à uma enxurrada de debates sobre regularização fundiária no Marajó. Graças a estes primeiros avanços, criaram-se as Reservas Extrativistas em 2006 do Mapuá (Breves), Terra Grande Pracuúba (Curralinho/ São Sebastião da Boa Vista) e Gurupá-Melgaço, a 1ª Reserva de Desenvolvimento Sustentável Federal (chamada Itatupã-Baquiá, em Gurupá) e a partir de 2007, inúmeros Projetos de Assentamentos Agroextrativistas do INCRA e as milhares de emissões dos Termos de Autorização de Uso da SPU, indicando desta forma os processos de segurança da terra em favor das populações tradicionais como um novo Sistema Agrário Contemporâneo.

    Foto: Secretaria Municipal de Curralinho



Na observância dos ciclos agrários apresentados que tem como fundamento a sobrevivência do homem e da mulher marajoara a depender dos recursos naturais que dispõe, é o Marajó um território que precisa ter o desenvolvimento científico voltado para estas características. De políticas públicas que aperfeiçoem as tecnologias industriais a respeitar as regras de resiliência dos ecossistemas regionais. De consolidar a economia gerada do Marajó menos especulativa e mais produtiva para o bem estar da população, geradora de renda e ocupação a enfrentar os riscos sociais. De aplicação das diretrizes globais de aperfeiçoamento humano pautados nos objetivos do milênio. De uma agenda educacional baseada na realidade vivida por cada estudante do Marajó, seja morador da região dos campos, das florestas de várzea ou das áreas de terra-firme.

   Foto: Carlos Ramos





[1] SCHAAN, Denise Pahl. O povo das águas e sua expansão territorial: uma abordagem regional de sociedades pré-coloniais da Ilha de Marajó. Revistade Arqueologia, n. 17, p. 13-32, 2004.
[2] Souza, A. L. de. Evolução do Sistema Agrário da Mesorregião do Marajó: uma perspectiva sócio-histórica. Disponível em: http://www.isssbrasil.usp.br/isssbrasil/pdfs2/tcms_4.pdf
[3] BOULHOSA, M. da S. Entre a sela e o santo: um estudo sobre a identidade do vaqueiro marajoara. Dissertação (Mestrado) Ciências Sociais – Universidade Federal do Pará, 2007.
[4] Silva, R.O da; Coelho-Ferreira, M.; Jardim, M.; Lima, P.; Menezes, L. de. Pesquisa de Cadeias de Valor Sustentáveis e Inclusivas: Açaí. Instituto Peabiru, 2011. 64p. Documento Interno.

Ciência e Tecnologia para o Marajó


Foto: Suane Melo.


Em 2008, o Governo Federal instituiu o Programa Territórios da Cidadania, coordenado pela Casa Civil da Presidência da República, classificando o Marajó como uma marca territorial. De fato, a centenas de anos os habitantes da região se reconhecem como marajoaras, identificação esta formada ao longo dos anos pelos distintos sistemas agrários que prevaleceram no Marajó, desde os sistemas Indígenas (Schaan, 2004) , até o classificado como Contemporâneo (Souza, 2013) , passando pelos sistemas Agrário Colonial e da Economia da Borracha. Em comum a todos, a forte ligação das atividades humanas a mercê da abundância ou escassez de produtos florestais, agroflorestais e aquáticos.

Historicamente esta região tem sofrido com a ausência de investimentos em infraestrutura, notadamente transporte e energia, dificultando a promoção do desenvolvimento em todas as suas dimensões. Isolamento geográfico/espacial, estagnação econômica e subdesenvolvimento político são as características que configuram a condição de abandono e pobreza do Marajó no momento atual. Mesmo os investimentos feitos no Marajó serviram para enriquecer financeiramente a poucos, em detrimento dos trabalhadores rurais e urbanos. Tal negligência estatal e mesmo da sociedade em geral por séculos acabam por manter os números de IDH e PIB como dos piores do país.

Na observância dos ciclos agrários apresentados que tem como fundamento a sobrevivência do homem e da mulher marajoara a depender dos recursos naturais que dispõe, é o Marajó um território que precisa ter o desenvolvimento científico voltado para estas características. De políticas públicas que aperfeiçoem as tecnologias industriais a respeitar as regras de resiliência dos ecossistemas regionais. De consolidar a economia gerada do Marajó menos especulativa e mais produtiva para o bem estar da população, geradora de renda e ocupação a enfrentar os riscos sociais. De aplicação das diretrizes globais de aperfeiçoamento humano pautados nos objetivos do milênio. De uma agenda educacional baseada na realidade vivida por cada estudante do Marajó, seja morador da região dos campos, das florestas de várzea ou das áreas de terra-firme.


referências: 

SCHAAN, Denise Pahl. O povo das águas e sua expansão territorial: uma abordagem regional de sociedades pré-coloniais da Ilha de Marajó. Revistade Arqueologia, n. 17, p. 13-32, 2004.

Souza, A. L. de. Evolução do Sistema Agrário da Mesorregião do Marajó: uma perspectiva sócio-histórica. Disponível em: http://www.isssbrasil.usp.br/isssbrasil/pdfs2/tcms_4.pdf


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Ilha das Araras, energia solar e camarão



Caríssimos,

Hoje visitei a Ilha das Araras, Curralinho, no Marajó, localidade que detém um importante teste de desenvolvimento local que pode significar um novo estágio para comunidades agroextrativistas: o uso da energia eólica e solar.

Implantado a 2 anos, o projeto de energia solar na comunidade Santa Maria tem sido bem avaliado por alguns moradores com quem conversei. O questionamento deles fica por conta da manutenção, já que ninguém do município foi capacitado para atuar em caso de problemas. "Mas funciona", diz um morador que vê o fornecimento por cerca de 12 horas por dia de energia elétrica para as 18 famílias locais, cujo desempenho fora ultimamente diminuído por uma rama de açaizeiro ter caído em algumas placas solares, conforme relatos.

Na outra comunidade, chamada Santo Antônio, testa-se a energia eólica. Os "cataventos" e a central de placas solares fornecem energia para 40 famílias por 18 horas, na capacidade prática de atender por casa 3 lâmpadas, 1 frezzer e 1 televisão. É pouco, mas é um começo.



Detalhe: o Catavento está parado, esperando o técnico da empresa concessionária de energia do Estado para avaliação.

O projeto híbrido de geração de energia é uma ação do programa Luz para Todos, do Governo Federal.

Apesar dos avanços, fóruns como o Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Marajó precisam acompanhar o processo para animá-lo como iniciativa valiosa, cobrar a socialização dos resultados e mais investimento nesta plataforma de energia.

Para conhecer mais este projeto, visite: http://www.pac.gov.br/i/184c0cbd

Por outro lado, a Ilha das Araras é destaque na região na pesca de camarão. Na reunião em que participei, ficou claro a intenção de melhorar o sistema de manejo do camarão, como no exemplo apresentado a eles da experiência da Ilha das Cinzas, em Gurupá, reconhecida nacionalmente.

Preocupados com a sua maior fonte de renda, os comunitários da Ilha das Araras disseram que a organização social para pesca sustentável do camarão é fundamental para a ilha, hoje sem uma forma que apresente qualidade de pescado nem garantias para a manutenção dos estoques do crustáceo.

Além deste desafio, os moradores da Ilha das Araras tem 6 meses para construir espaço adequado para a manipulação de camarão, o que permitiria a venda a supermercados da capital Belém, segundo cobrança do Ministério Público Estadual. A Adepará e a Secretaria Municipal de Pesca de Curralinho estão acompanhando a associação local na busca de soluções para o entrave.

Conscientizar os associados que é preciso aprimorar a produção local de camarão em bases sustentáveis é o primeiro passo, analisaram os participantes.




domingo, 29 de setembro de 2013

Presidente do Uruguai fala na ONU em ciência, paz e critica o estímulo a uma vida de ‘resíduos e desperdícios’


Na Assembleia Geral das Nações Unidas, o discurso dos presidentes do Brasil, Irã e Estados Unidos repercutiram pelas formas tradicionais de poder, mas nas redes sociais quem bombou foi o presidente uruguaio José ‘Pepe’ Mujica com seu discurso humanitário, favorável à ciência e condenando as guerras como solução dos problemas políticos. Ele até se voluntariou para ajudar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Estado da Colômbia a fazerem um acordo de paz. O presidente americano, Barack Obama, chefe do maior exército do mundo, ficou por cima de todos, aos menos nos números de tuítes. Mas o crescimento de Mujica foi significativo e superou o da presidente brasileira e do iraniano Hassan Rouani após suas falas no púlpito das Nações Unidas. Enquanto eles caíam, as palavras do ex-guerrilheiro uruguaio eram espalhadas pelos ventos do Twitter pelas Américas e pela Europa, segundo as ferramentas de medição de redes sociais Topsy e TrendsMap.


O mérito de Mujica é ainda maior se for levado em conta o histórico dos outros presidentes, mais “incensados” pela mídia e que, ao longo da semana, ou no caso de Obama, do mesmo dia, têm assuntos domésticos que levam a milhares de tuítes sobre suas ações, explica Pedro Ivo Rogedo, pesquisador de mídias sociais da Coppead/UFRJ. No caso de Obama, o pesquisador diz, a repercussão de sua fala na ONU foi “relativamente pífia”. Ele lembra ainda que Rouhani teve também uma boa repercussão após seu discurso, quando reconheceu a existência do Holocausto em uma entrevista.


Há algumas semanas Mujica também criticou a ameça americana de bombardear a Síria com sua linguagem peculiar: "O único bombardeio admissível na Síria é de leite em pó, biscoitos e alimentos, não de armas”.

Veja alguns trechos do discurso de Mujica na Assembleia da ONU:

“Olá a todos, venho do Sul, esquina com Atlântico e o Prata”, começou Mujica, que tem 78 anos.

“Nossa época continua dirigida pela acumulação e pelo mercado. Prometemos uma vida de resíduos e desperdícios”.

“Minha história pessoal, a de um garoto, porque algum dia fui um garoto, que como outros quis mudar sua época, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes”.

“No fundo, trata-se de uma contagem regressiva contra a natureza e contra a Humanidade como futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra os ciclos naturais, e pior: civilização contra a liberdade que pressupõe ter tempo para viver as relações humanas, o único transcendente: amor, amizade, aventura, solidariedade, família”.

“Como se fosse pouco, o capitalismo produtivo, verdadeiramente produtivo, está meio prisioneiro da caixa dos grandes bancos, que no fundo, são o ápice do poder mundial”.

“Precisamos, sim, mastigar muito o velho e eterno da vida humana, junto à ciência, essa ciência que se empenha pela Humanidade e não para se ficar rico”.

“Então, cada um empunha as armas de acordo com seu próprio valor, e aí estamos porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos”.

“Fazemos diferenciações hierárquicas que, no fundo, minam o melhor que têm as repúblicas, que ninguém é melhor do que ninguém”.

“Defino que, enquanto o homem viva em clima de guerra, está na pré-História, apesar dos muitos artefatos que possa construir. Até que o homem não saia dessa pré-História e arquive a guerra como recurso quando a política fracassa... essa é a grande marcha e o caminho que temos pela frente”.

“Pensem que a vida humana é um milagre, que estamos vivos por milagre e que nada vale mais do que a vida. E que nosso dever biológico é por cima do todas as coisas, respeitar a vida e impulsioná-la, criá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso nós”.

http://oglobo.globo.com/mundo/discurso-de-mujica-na-onu-supera-rouhani-dilma-obama-no-twitter-10153872

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Manejo Florestal em Porto de Moz - Comunidade Arimum

Segue abaixo informe da Associação Comunitária de Arimum, Porto de Moz, sobre seu manejo florestal comunitário.



"Prezados,

Gostaríamos de informar que já começamos a extrair as árvores autorizadas, que totalizam 4.186,320 m³ pertencentes a 13 espécies florestais, referente ao terceiro Plano de Operação Anual da comunidade Arimum. Assinamos contrato com a empresa Arca Indústria e Agropecuária LTDA, de Tomé-açu - PA, para venda da madeira e terceirização das atividades de arraste e transporte.


Agradeço desde já o apoio de todos para que se tornasse possível mais essa conquista, que certamente irá trazer benefícios para todos os moradores da comunidade.


No final da safra convidaremos os parceiros que vêm nos apoiando para uma reunião de avaliação e reflexão de todo o processo de licenciamento e comercialização da madeira, dentre outros.


GENÉSIO RIBEIRO DA SILVA
Associação Comunitária de Desenvolvimento Sustentável 

do Rio Arimum (ACDSRA)".


terça-feira, 10 de setembro de 2013

O viveiro agroflorestal de Portel, no Marajó

Heron Macêdo, secretário de desenvolvimento econômico
e Antônio Vaz em frente a um dos módulos da UNIP.
Foto: Carlos Ramos


Em visita no último dia 07 de setembro de 2013, na cidade de Portel, visitei a Unidade Agroflorestal de Portel - UNIP, local de produção de mudas e sementes. O viveiro é gerenciado pela prefeitura de Portel, mais especificamente por sua Secretaria de Desenvolvimento Econômico.

Portão de entrada da UNIP. Foto: Carlos Ramos


Além de produzir hortaliças (alface, chicória, etc), essências agroflorestais (cupuaçu) e espécies de uso madeireiro (paricá, ipê), a UNIP testa formas práticas de produção de mudas. O melhor exemplo é o uso da garrafa pet nas sementeiras e na irrigação, cuja criatividade dos profissionais que lá atuam demonstra que é possível diminuir custos de manutenção de viveiros, fortalecendo seu principal objetivo: recuperar áreas degradadas e oferecer ao município e agricultores alternativas de melhoria de renda e conservação da floresta.


 
Antônio Vaz, Nogueira Júnior e Heron Macedo são os idealizadores
e lançam a proposta de garrafa pet para as sementeiras. Foto: Carlos Ramos


Copinhos de café reaproveitados
na produção de hortaliças. Foto: Carlos Ramos



Com 2 módulos que podem minimamente produzir 60 mil mudas (inclusive já receberam apoio do IDEFLOR), o viveiro agroflorestal de Portel é vital para o município nesta nova relação com os recursos naturais, hoje visitada por escolas e visitantes. 


Garrafas pet sendo usadas como irrigação. Pingando, pingando no pé de açaí.
Foto: Carlos Ramos.


Para quem quer reflorestar, é só procurar a prefeitura de Portel e seu viveiro.


Que a UNIP cresça cada vez mais, tal qual os paricás que o rodeiam...


PARABÉNS PELA BELA INICIATIVA PARA O MARAJÓ VER.




sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O Plano de Uso dos Recursos Naturais discutido em Portel


O Plano de Uso dos Recursos Naturais é um documento que vem sendo elaborado nas comunidades agroextrativistas de Portel como uma das ações do PDL Portel. Liderados pelo STTR local, IDEFLOR e Prefeitura Municipal o plano de uso será uma ferramenta importante de diminuição de conflitos e proteção da fauna e flora da região.




Desta maneira, regras feitas pelas próprias famílias pretendem disciplinar as atividades de caça, pesca, criação de animais, agricultura, extrativismo, moradia e limites de respeito, monitoradas pela Comissão de Plano de Uso da Comunidade ou Associação.

Nos dias 06, 08, 10 e 12 de setembro serão realizadas as assembleias de aprovação dos planos de uso das Glebas Alto Camarapi, Acangatá, Jacaré-puru e Acuti-pereira, mobilizadas pelas comunidades, STTR de Portel, Prefeitura Municipal e IDEFLOR.
São as comunidades cuidando da floresta e de si mesmas.


Fotos: STTR de Portel/ IDEFLOR