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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A luta da Comunidade Repartimento pelo uso de seus recursos naturais - PARTE 4



Desde o dia 26 de dezembro de 2014, as famílias da comunidade Repartimento dos Pilões, Almeirim-Pa,  reuniram-se em protesto às operações florestais da Empresa Jari. Alegam que as operações de extração de madeira adentraram na área de uso dos comunitários.

Policiais foram ao local tentar retirar as pessoas, que mantem-se na posição até que o poder judiciário se manifeste sobre a regularização fundiária das famílias locais e limites do Plano de Manejo Florestal Empresarial.

Foram enviados a este blog fotos do protesto na área florestal de Repartimento, segundo relatos, feito de forma pacífica, porém, firme em suas opiniões.












sábado, 27 de dezembro de 2014

A luta da Comunidade Repartimento pelo uso de seus recursos naturais - PARTE 3

Em Dezembro de 2010, a Rede Intercomunitária Almeirim em Ação (RICA) enviou à Secretaria Estadual de Meio Ambiente ofício demonstrando sua preocupação sobre as atividades florestais da Empesa Jari em áreas próximas de comunidades.

No documento, a RICA expressa a intenção de debater o assunto no município, convidando entidades como SEMA, Ministério Público Estadual , ICMBIO, Defensoria Agrária e FSC a comparecerem em 03 de março de 2015 para discutir os impactos das operações da referida empresa na vida das comunidades adjacentes à FLOTA Paru e Estação Ecológica do Jari.

Abaixo, segue o convite da RICA para esta discussão.


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A luta da Comunidade Repartimento pelo uso de seus recursos naturais - PARTE 2



Denúncia de setembro de 2014 feita por moradores da comunidade Repartimento dos Pilões, Almeirim-Pa sobre o desmatamento causado por pessoas ligadas a grupos empresariais da região.

Desde então, foram tomadas providências?



Para mais detalhes ver os links:

  • https://www.youtube.com/watch?v=3CAmiQvyb4U
  • https://www.youtube.com/watch?v=797jwjqfoT0





A luta da Comunidade Repartimento pelo uso de seus recursos naturais - PARTE 1

Nos últimos anos a comunidade Repartimento dos Pilões passou a se mobilizar para defender seus recursos naturais. A contenda envolve a comunidade e as atividades da Jari Florestal em plantios de eucaliptos e exploração de madeira nativa. Neste primeiro relato, Dilva Araújo, liderança comunitária descreve a comunidade e o conflito existente sobre a terra na região:


"A história da Comunidade Repartimento

F
Foto: Dilva Araújo


Quero contar uma história que muito me chama atenção de uma comunidade chamada Repartimento do Pilão. Em 5 de janeiro de 1960, montados em uns burrinhos por caminho de mata fechada, chegamos neste lugar. Acompanhados de nossos pais –  Sr. Osvaldo Antônio de Araújo e D. Isaurina Almeida de Araújo – e de outras famílias que vinham somente para a colheita de castanha, neste belo lugar que só existiam duas famílias (o Sr. Paraíba e D. Gita, Sr. Raimundo Lopes e D. Joana).

As famílias tinham roças, só tinham algumas plantas de raiz em seus quintais e não havia luz elétrica, era somente lamparina a querosene. Existiam duas estruturas, sendo um galpão de colocar a castanha e a cantina onde os castanheiros ficavam até irem para seus castanhais. Essas estruturas pertenciam ao comprador de castanha, o Sr. Otavio Simplício dos Santos, que morava na comunidade de Paga Divida.

 No final da safra de castanha meu pai e o sr. Jose Santana, resolveram não ir mais embora, aí que começou a agricultura na comunidade. em 1961, já tinham roças com plantios de mandioca, meu pai fazia farinha em um forno feito com duas latas de querosene, enquanto minha mãe moía milho em moinho para fazer cuscuz, complemento de nossa alimentação.

Foto: Dilva Araújo


Em 1962 já havia um morador, porém, ainda continuava ruim, não tinha estrada para irmos para a Comunidade Bandeira, tínhamos que ir montado em burros. No dia 24 de dezembro de 1962, meu pai faleceu... A coisa mais triste que aconteceu, mas mesmo assim, minha mãe e nós continuamos aqui. Em 1963 chegou um Sr. chamado Raimundo Coutinho, juntamente com o Sr. Feliz Matias de Sousa. Eles reuniram os homens que aqui já estavam e abriram uma estrada para que o carro chegasse até aqui. Não existia motosserra, só existia machado e facão, e esse cidadão tinha na época um trator pequeno, que ajudou a fazer a estrada e esse campo que hoje existe aqui na comunidade.

E assim foram se passando os anos e a comunidade foi desenvolvendo os trabalhos de agricultura e extrativismo.  Ai, chegou a vez de uma empresa chamada Jari, que mesmo trazendo alguns benefícios para a comunidade, junto veio muito sofrimento. Tudo era difícil: não podíamos fazer casa, só se fosse com ordem da empresa, pois os seguranças não deixavam e assim por diante.

A comunidade só deu passo melhor com a entrada dos prefeitos. Em 1985, um sr. Alfredo Hage, doou um motor de luz para nossa comunidade, isso foi uma alegria. Logo depois veio a Sra. Marta Feitosa e o Sr. Jaime Boi na Brasa, que presenteou a comunidade com a primeira televisão e antena parabólica.

Hoje graças ao nosso Deus, a comunidade já se encontra com escola, duas igrejas, uma evangélica e a outra católica, cada morador tem seu plantio. Os conflitos nunca deixam de existir, mas também temos uma associação que com muita luta esta organizada. Ah! Quero tirar uma dúvida a respeito deste nome de Repartimento do Pilão: primeiro, Repartimento, por existir um igarapé que se divide em três partes, segundo, Pilão, por ser o lugar de referência para chegar a comunidade.  

E, continuando a historia, quero lhes dizer que hoje, já tem pessoas que se deslocam de seus lugares para habitar aqui, no caso de algumas famílias que vieram de Altamira/Xingu para conseguir a sua sobrevivência neste lugar. Não tinham nada como quando chegamos, mas encontraram uma comunidade com muito mais. Uns vieram com vontade de trabalhar e ajudar a comunidade a crescer, como é o caso do Sr. Eugenio e sua família. Outros vieram somente para gozar do que já tinha e melhorar suas vidas, colocando bar na comunidade, fazendo roçado nas áreas de tradição dos moradores (em castanhais) que somente as pessoas que já moravam aqui utilizavam.

Em nossa comunidade cultivamos: mandioca, milho, arroz, feijão, banana, mamão papaia, também plantamos aqui plantas de raiz como: laranja, pupunha, manga, caju, abacate, acerola, cupuaçu, biriba, açai, cajá, jaca, graviola, noni, coco e jambo, também temos hortaliças: pepino, alface, couve, maxixe, cebolinha, cheiro-verde (coentro), salsa, pimentão, tomate, etc. Temos também criação de animais: pato, galinha, porco, gado, burro, carneiro e picote (galinha da angola).

Então, meus amigos, eu escrevo esta carta para que vocês saibam o que já passamos para chegar até aqui, para que outros venham se aproveitar de nossa luta, gostaríamos que os órgãos públicos entendessem o por que nós pedimos o documento (coletivo) para a nossa comunidade e nos ajudasse a melhorar a nossa tradição, porque somos tradicionais, temos 35 pessoa que trabalham na agricultura e na castanha e outros que só trabalham com a agricultura."
Dilva Araújo, liderança comunitária

Foto: Dilva Araújo


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Assis e Mendes


Belém, 2006

Outro dia, minha mãe interpelou-me:
- Meu filho, esse trabalho de defender a natureza e da causa ribeirinha é uma luta sem fim! Difícil de vencer. O homem é um tipo muito ruim.
Ao olhar o céu de uma noite pontilhada, contei-lhe que sonhara com São Francisco de Assis encontrando Chico Mendes, lá na sala de espera dos mártires.
Chico indagou ao Chico como foi que o segundo foi parar naquele setor. Mendes, esboçando um sorriso, respondeu que por ganância de alguns fazendeiros de sua terra, tornou-se ameaça e acabou assassinado. Nada mais fizera do que defender seu povo e sua floresta para que houvesse no futuro um povo e ainda uma floresta.
Chico de Assis elogiou Mendes por cumprir sua função na Terra, bom soldado da paz e de Deus. Mendes ponderou que mesmo assim estava preocupado com o rumo que as coisas iriam ter, uma vez que o fato de ter ido embora mais cedo poderia diminuir a resistência de sua luta.
Assis - mirando-o com a severidade de um gavião-real - advertiu Mendes que deixasse a pouca fé de lado e que seu desprendimento não seria jamais em vão. Pedindo os olhos da coruja emprestado, lá de cima Mendes e Assis viram o começo tímido de uma nova era de harmonia entre os homens e a Criação, olhando de dentro para fora de si.
Mendes observava as discussões surgidas após seu martírio. Descartados os pavões, aproveitadores como sempre para se apresentarem como tais, ficaram somente os joões-de-barro com a tarefa de construir uma nova época de convivência. Mendes sorriu mais amplo e Assis balançou a cabeça negativamente, perguntando ao amigo como era possível Mendes acreditar que outros não viriam, determinados, estrelados como ele, talvez não históricos para os demais homens, mas notavelmente registrados no Livro da Vida, da Função.
Mendes concordou que eram muitos os que avistava, semelhantes a formigas em números. Assis concluiu que esse era o único modo de incomodar Tamanduás maiores e mais poderosos que as comeriam se não se juntassem. “A natureza é sabia”, definiu. Deus é sábio.
- Meu filho, tomara que um dia isso tudo se torne verdade.
Disse a minha mãe:
- Então olhemos com mais carinho para as formigas.



terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Aos Vendedores


                        



Foto: http://g1.globo.com/brasil/blog/caminhos-do-brasil-caravana-g1/post/chopp-de-fruta-no-para.html 
Belém, 07 de novembro de 2014.

VEM AQUI QUE É DO BOM!!
VEM AQUI QUE É DO BOM!!

Saquinho plástico
Nó bem na ponta
Jarra de suco
Perdi já a conta
Congela o dedo
Frio que tem dor
Altura alça
De um isopor
Fruti os sabores
Diversa a cor

Eu hoje matei seu calor
Que alívio frescor

VEM AQUI QUE É DO BOM!!
CHOPP DE AÇAÍ!
MINHA CUBA FAZ ATÉ SOM!!
O MEU DIA CUMPRI!

Novo jambu
Goma fervente
Fogo aceso
Panela quente
Queima o dedo
Suporta a dor
Cuia limpinha
Serve o senhor
Camarão rosa
Sinta o sabor

O lábio tremeu da mistura
Tucupi da loucura

VEM AQUI QUE É DO BOM!!
TACACÁ DA ESQUINA!
PRO ENCARGO TENHO O DOM!!!
PROVA UM POUCO MENINA!

A bananeira
Empresta a folha
Leite dois tipos
O doce e nem tanto
Coco ralado
Marca da dor
Pano à cabeça
Faça um favor
Baixa a caixeta
Tampa incolor

Macia pra tu merendares
Pro café que preparaste

VEM AQUI QUE É DA BOA!!
TAPIOCA, VIZINHA!
MINHA VOZ LONGE VOA!!
SIGO A LADAINHA!

A molecada segue a buzina
Cheiro de margarina

VEM AQUI QUE É DO BOM!!
TENHO QUENTE PIPOCA!
PRO PASSEIO COM O AMOR!!
OU FALAR DE FOFOCA!

VEM AQUI QUE É DA BOA!!
ESSA VISTA DO DIA!
ESSA GENTE FORTE PESSOA!!
VEJO A POESIA!
Pantoja Ramos.
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/5042744