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segunda-feira, 2 de março de 2015

Lamberto, o Traumatizado: viagem de avião

Lamberto tinha medo de andar de avião quando menino. Viajava de TABA (Transporte Aéreo da Bacia Amazônica), num quiprocó de chuva que lhe arrebentava o estômago. Era famosa a sua histeria entre os passageiros de Monte Dourado, no Jari.

ME TIREM DAQUI!!! SOCORRO!! SOCORRO!

Para aliviar, antes de cada viagem, sua mãe colocava o LP A Casa de Brinquedos, na música do Toquinho:

"Venha voar comigo, amigo
Sem medo venha voar
De dia tem um sol brilhando
De noite o luar

Venha voar comigo, amigo
Sem medo venha voar
Em dia nublado
Não fique assustado
Que eu tenho radar...".

E assim manteve a letra decorada até a fase adulta, recitando em cada trecho aéreo que fazia. Era a comissária de abordo anunciar o fechamento de portas "em automático", que ele cantarolava baixinho para diminuir a agonia.

E na bizarrice da cantiga de canto de boca viajava, até um dia que olhou pro lado e viu um pai em celular colocando um vídeo para o filho de 4 anos, do grupo Palavra Cantada:

"A pobre galinha
Não sabe voar
Enquanto o avião
Vive pelo ar

Se ele é tão pesado
E a galinha não
Então por que que voa
E a galinha não?"

ME TIREM DAQUI!!! SOCORRO!! SOCORRO!

Foi expulso da aeronave.

Se voltou a viajar de avião?

Soube-se que quando a mãe faleceu, foi pro enterro dela de ônibus, chegando uma semana após o sepultamento.


Sem traumas.

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