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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Projeto Lançante: conheça Juraci Siqueira, o Boto.



Juraci Siqueira, o Boto, é poeta nascido no Cajary, em Afuá. Licenciado pleno em Filosofia pela Universidade Federal do Pará , atua em entidades litero-culturais como professor de filosofia, oficineiro de literatura, performista e contador de histórias. Possui mais de 80 títulos individuais publicados entre folhetos de cordel, livros de poesias, contos, crônicas, literatura infantil, histórias humorísticas e versos "picantes" como ele mesmo diz, além de poemas musicados por compositores locais. 

Juraci Siqueira colabora com jornais, revistas e boletins culturais de Belém e de outras localidades além de contar com mais de 200 premiações literárias em vários gêneros, em âmbito nacional e local.

Abaixo, texto deste importante poeta de nossa terra em homenagem à Cabanagem.


Voo Entre Armas I (Juraci Siqueira)

Era sete de janeiro.
De quando em vez um banzeiro
rebentava na muralha
antecipando a batalha
contra o Forte do Castello
primeiro e mortal duelo
na Belém recém-nascida
precocemente envolvida
em sua casta inocência
nos lençóis da violência.
Era janeiro. Chovia.
Céu escuro, manhã fria
com feição de luto e medo.
vez por outra do arvoredo
um agourento chincoã
engravidava a manhã
com seu canto mandingueiro.
Era sete de janeiro...
Do Piri as verdes margens
escondiam nas ramagens
guerreiros Tupinambá,
angelins do Grão Pará
pintados de amor e guerra,
de revolta e bem querer
para lutar pela terra
ou sobre a terra morrer.
Belém nem tinha três anos
e já registrava os danos
de um batismo a ferro e fogo
no brutal e eterno jogo
entre opressor e oprimido
entre mocinho e bandido
entre balas carniceiras
e taquaras justiceiras,
bordunas de redenção
contra espadas de opressão!
Tomba o grande Guaymiaba,
cacique Tupinambá
e longa noite desaba
sobre Belém do Pará.
Cai por terra Guaymiaba
mas a luta não acaba
naquele triste janeiro.
Em cada peito guerreiro
as sementes da igualdade,
da justiça e liberdade
germinam feito capim
à espera de um dia, além,
que a rosa rubra do povo
desabrochasse de novo
nos canteiros de Belém.
***
Voo Entre Armas II
Manhã sem luz, sem cor, sem poesia...
De quando em vez do matagal se ouvia
o agourento cantar de um chincoã.
Era o sétimo dia de janeiro.
Na muralha o marulho do banzeiro
embalava Belém que ainda dormia.
A história se repete. Nada é novo.
Mesmo palco de luta, mesmo povo
mesmos tiranos, mesmos ideais.
E Guymiaba após duzentos anos
renasce e luta ao lado dos cabanos
fundido ao lema vencer ou vencer!
A luta é desigual: artilharias
contra espingardas, ódio e tirania
contra o ideal e a fome de justiça!
A história desta vez não se repete:
Belém, cansada, nesse dia sete,
adormece nos braços do seu povo.
___________________________________
(Do livro Uirá-Pirá, a saga do peixe-pássaro )


Para conhecer mais sobre este literário marajoara, visite o Blog http://blogdobotojuraci.blogspot.com.br/ 



Leia, escreva, cresça e apareça!

Vamos Lançante, escorrei mundo afora.

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