Caríssim@s,
Socializo texto de Manoel Tourinho, ex-reitor da Universidade Federal Rural da Amazônia, publicado no Jornal Alto Madeira, de Rondônia, quase centenário.
Um abraço
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Capa da primeira edição do jornal Alto Madeira, de 15 de abril de 2017. Fonte: http://www.gentedeopiniao.com.br/noticia/do-fundo-do-bau-imagem-da-primeira-edicao-do-jornal-alto-madeira-o-qual-foi-mpresso-em-15-de-abril-de-1917/163363
100 é o AZIMUTE: AS NOSSAS INSTITUIÇÕES FUNCIONAM?(*)
Manoel Tourinho (**)
Papeava outro dia com um
oficial militar sobre a situação do país e perguntei se ele achava que as
instituições civis estão funcionando. Como gosto de saber a opinião dos opostos,
fizemos igual indagação a gente do povo: trabalhadores rurais, taxistas e
trabalhadores do comercio. Vejo o militar e o popular como extremos amostrais. O
militar, acima de tudo constitucionalista, tem no positivismo da Ordem e Progresso,
o sendeiro que lhe toca a vida e a cidadania.
Geralmente os seus quadros, digamos o capital social da força armada, é
bem preparado pelas suas escolas e centros de formação militar. As constantes
mudanças de domicilio e residência, em razão da missão profissional o faz uma
pessoa preceptora da pulsação da sociedade em tempo real. Entretanto, devido a
sua formação ancorada no positivismo constitucional, acredita que as instituições
civis do Brasil estão funcionando, como expressou o oficial com quem conversei.
No outro extremo, as opiniões expressas pelo povão, não se revelam iguais a do
pessoal da caserna militar. O operário tem a sua formação tecida na luta pela
sobrevivência e nos desenganos promovidos pelas instituições civis, e hoje até
religiosas. São humanos premidos a revoltar-se contra essas instituições,
porque suas práticas institucionais, mais retóricas que francas ou lhanas, não
alcançam suas aspirações. Assim, os
militares preferem acreditar que as instituições estão funcionando, enquanto
que os populares não confiam mais nelas. Entretanto, como o povo é uma força desarticulada,
sem liderança capaz de alçar suas
reivindicações aos patamares dos estamentos burocráticos do estado, tornando-as
exequível como insumos de bem-estar e de cidadania, vive por isso apregoando desejos de retorno dos militares ao poder
porque o desespero é tamanho. Mas, antes
de comentar fatos do desapreço das nossas instituições as reivindicações populares, abro uma janela para falar do Centenário
do Jornal “Alto Madeira“ que já se avista ao largo do horizonte.
Logo
mais, daqui a dois meses chegaremos ao 15 de abril de 2017 para comemorar os
100 anos de vida do “AM”. Neste AZIMUTE temos feito finca-pé sobre a
importância dessa efeméride. A exaltação não é simplesmente porque se trata de
um Jornal familiar. Jornais que tem uma família como retaguarda não é algo
desconhecido do Brasil. Aí estão os
Marinho, os Calmon, os Mesquita, os Maiorana, os Barbalho, os Rocha, os
Maranhão, os Cunha, os Santiago, entre outros. A exaltação que faço, já
repetidas vezes, tem a ver com a saga de manter um jornal que virou lenda e
legenda neste pedaço de Amazônia ocidental. Fundado nas primeiras décadas do
século vinte, o jornal nunca sucumbiu às dificuldades de várias naturezas
fossem elas materiais, humanas e financeiras. A história do “Alto Madeira” é
uma espécie de “libero” da imprensa nacional porque foi invariável no enfrentamento
das adversidades, inclusive política institucionais, mantendo suas
características de jornal livre ao longo do seu trajeto centenário, o que lhe
permitiu muitas vezes sair da sua ideologia específica para cobrir eventuais “falhas”
de seus confrades de caminhada. Que
“falhas” eram aquelas? Um desafio para os historiadores fincados na história de
Rondônia.
As instituições
nacionais que lidam diretamente com as condições de provedoras da cidadania e
do bem-estar coletivo de duas uma: atuam sofismando as suas missões ou não
atuam. O Congresso Nacional e o
Ministério da Educação, como instituições do legislativo e executivo, são
instituições sofisma porque vivem de
mentiras propositadamente maquiadas por argumentos verdadeiros para que possa
parecer real. O sistema político partidário brasileiro é o paradoxo popular
que faz da câmara dos deputados e do senado federal os locus da antithesis devido
à resistência e a oposição aos desejos populares. Subtrair direitos dos
trabalhadores para acertar ajustes nas contas públicas são medidas absolutistas
e imperiais, recorrentes ao longo da história republicana brasileira, como se o
povo fosse o responsável pela gastança pública. Quando se limita os gastos
públicos sem nenhuma medida restritivas
aos ganhos financeiros dos parlamentares, diretos e indiretos, conferidos por
acordos soturnos, tétricos, medonho e pavorosos; confabulados de modo secreto. Indaga-se
pois: funciona o Congresso Nacional a serviço do bem-estar coletivo e da classe
trabalhadora? É correto o Senado Federal estender os seus sujos tentáculos para
fazer barragem as ações da Lava-a-Jato? Trocar Renan por Eunicio ? E as outras travessuras e molecagem
contra o povo? Por isso pergunta-se: O
Congresso como instituição legislativa funciona no interesse do Brasil? O MEC, membro executivo federal, é outra
instituição “sofisma”. Como não há uma política educacional de estado para o
Brasil, o MEC como instituição pública executiva vive das elocubrações mentais de seus
titulares; cada um que está “ on duty” assume fazer o “melhor” para a educação.
Nenhum deles estimula em amplos contextos a autonomia prescrita pela Constituição
Federal, no Artigo 207 que trata da autonomia das Universidades, por exemplo. O MEC dá preferência, como instituição
executiva, a perenizar uma política de subordinação intensa à sua classe
burocrática que enxerga o Brasil sem diferenças regionais, culturais, sociais,
ambientais, políticas e econômica. E a partir dessa visão linear, simétrica,
oferece instrumentos “democráticos” como
FIES, REUNI, SISU, ENEM e etc.,
desarticulando completamente os ensaios regionais e locais das
universidades, desconstruindo as suas experiências de acesso, desfazendo as
suas lógicas pedagógicas, enfim desmobilizando totalmente qualquer “pensar
endógeno”, favorecendo a PASTEURIZAÇÃO do ensino superior que enseja de um lado, alunos e professores alienados, e do
outro lado provedores “inocentes úteis” da meação corrompida. Do MEC salta-se a
qualquer outro sistema executivo; do federal salta-se ao estadual e desse as
estruturas executivas municipais. Indaga-se:
as Instituições estão funcionando (bem) neste país? Na visão dos
populares, NÃO !!
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(*) Publicado no dia 15 de fevereiro de 2017 na secção Opinião do Jornal Alto Madeira, de Rondônia.
(**) Professor aposentado.
Natural de Porto Velho, rio Madeira, Amazonas.