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segunda-feira, 6 de abril de 2020

Crônicas, Passageiro: "Controada"



Mano, Mana, eu saí de casa depois de 15 dias pra comprar comida porque o estoque tinha acabado. Minha esposa e eu fomos ao Entroncamento caminhando.

Parecia um dia normal quanto ao movimento de pessoas.


No que esperava fora de um dos atacadōes, passou um rapaz que trabalhava como carregador de mercadoria, sem luva, sem máscara e escarrou na minha frente, apontando para os colegas: "Tu pegou... Tu pegou... Tu também...".


O segundo passou com uma caixa na cabeça ofegante no seu duro trabalho e cuspiu também.


O flanelinha que estava a catar carros para estacionar andava de lá pra cá tocando uma flauta em arremedos de alguma canção.


Um senhor bem velhinho parou diante de mim e pediu-me 2 reais, no que um outro gritou "dá não! É pra cachaça!". Busquei o dinheiro e quando vi, ele já estava longe. Falei baixinho "senhor, vá pra sua casa".


Um rapaz sem máscara, sem luva, dava o panfletinho, de mão em mão para centenas de passantes (imaginei), divulgando o centro odontológico ali perto. 


Saindo do Entroncamento, vi 3 idosos conversando sobre o Mundo. Na esquina.


Tudo isso em lapso de tempo de 15 minutos.


Caminhava calado. "Todas essas pessoas e suas famílias ficarão bem?", pensava.


"Amor, você tá bem?".


"Tô, só queria ficar em posição fetal".


Ela fitou-me como se dissesse:


"Fica em casa".








Imagem: região do Entroncamento, em Belém do Pará - Google Maps.




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