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terça-feira, 8 de novembro de 2022

Crônicas, Passageiro: a Passarela do PAP


Meados dos anos 1990. Eu morava no Conjunto Império Amazônico enquanto fazia a Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, hoje Universidade Federal Rural da Amazônia. Estava ali próximo do Colégio Pedro Amazonas Pedroso, uma das melhores escolas públicas à época, o que talvez ainda seja. 

Na parada usual de ônibus do "Império" avistava de longe os estudantes do PAP, na batalha sua em passar no Vestibular, além da dura vida de coletivos e o pior de tudo, atravessar uma avenida Almirante Barroso hostil com seus automóveis Kadets, Unos, Vectras, Monzas, etc. 

E não foi por falta de aviso dos estudantes e outros passantes que uma tragédia ocorreria em uma avenida tão expressa: uma aluna foi atropelada e morta na frente do PAP, gerando forte comoção e revolta dos alunos que fecharam a Alm. Barroso por algumas horas em exigência que fosse construída uma passarela para evitar mais tristes acidentes.

E deste fechamento da principal via de acesso da capital Belém, vieram tropas de choque do governo estadual em resposta aos jovens em protesto, à época sob o mandato "tampão" de Carlos Santos que substituíra seu companheiro de chapa, Jader Barbalho, que renunciou ao cargo de governador para se candidatar a senador. Desproporcionalidade tamanha que media as forças de policiais muito bem armados, com cassetetes e gases de efeito moral e a de alunos secundaristas que no máximo traziam cadernos e cartolinas para bradar que era dever do estado construir uma passarela em segurança para a juventude que só queria estudar.

Porém a segurança e diria mais, a segurança pública agiu a partir de seu esquisito critério de lidar com a população e violentamente foram para cima dos protestos, entrando no PAP com truculência, explosões e muita, muita fumaça. De lá saíram gritos de desespero e medo.

Gritei lá do outro lado da avenida:

- Vocês são loucos??!! São só crianças!!


(respiro).


Sabem. Resolvi escrever essa crônica para lembrar a cada jovem que lutou, protestou e foi atacado pelo Estado naquele dia que sua peleja foi tão memorável em nome da amiga que agora temos sua homenagem construída em forma de passarela e que evita que outros tenham a vida ceifada. Não deixem essa história se apagar.

Quando em novembro de 2022 aqueles alunos do PAP foram intimidados por um beócio bolsonarista (redundância eu sei), eles andavam por cima de uma conquista de direitos, algo que seu intimidador talvez jamais poderia compreender. A luta justa ocorre quando não mais queremos que pessoas morram por descaso ou estupidez.

Aquele caminho erguido em ferro é solo sagrado.







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