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terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Gurupá de São Benentônio Canto II


Gurupá, Dezembro de 2008.

São Benedito, olha por nós
Devota que sou, que sou a pedir
Tira-me o encosto, retira os nós
Daquela maldita, marido a fugir!

- Ó, minha filha
que pensas?
Eu vejo o absurdo
que fazes
com teu esposo
não pode nem o homem
jogar bola!
Repreende-o
Escroteia-o
briga por toda a parte da casa
alcunha de mole a ele tu oferece!
Só podia fugir.

E por tal eu digo sem pena
Verdade que vejo, só posso apontar
Humilha teu homem, futuro acena
De mulher sozinha, as coxas juntar.

São Benedito, olha por mim
Um homem de bem, piedoso que sou
As preces eu faço, as contas sem fim
Comércio quebrado, falência que vou!

- Escuta macho
já via tua laia
engana os outros
vende unidade
com preço de caixa
de caixa
caixote
de fósforo molhado
farinha bolenta
conserva amassada
ninguém compra
e tu choras.

E agora eu falo sincero
Tu deves, os cheques voltaram
Maldade que tinhas, espero
Pobreza te estar, pra outros mostraram.

São Benedito, ó negro, bondoso que és
Santo Antônio, ó branco, me ouve momento
Me ajuda, eu juro, atiro-me aos pés
Me arruma uma coisa, quero casamento!

- Ô moça espivitada.
- Tu é doida ou o quê??!
- Te acalma.
- Enxerida!
- Tua hora chega.
- Toma teu termo!
- Balança a saia.
- Que nada! Reza três terço!!

- Achamos ser o teu acalanto
Amigos, vontade do bem a fazer
- Casa bem virgem, uns trinta e tanto!!
- O que importa é na hora o amor envolver.

Ó piedoso Benedito, te faço ofertório
Ainda bem que sou um senhor fiel
Um cabra de nome, de modo notório
Eu bem que mereço um lote no céu!

- Ofensa!!
- Blasfêmia!!
- Um caboclo que reza
mas pisa fora da igreja
tá fuxicando
da vida
da morte
de tudo
- Todo alinhado
coração de pedra
dá cascudo em menino
que caiu no quintal
tirando manga.

- Senhores nós somos do que passa na Terra
- Por mais que se tente os crimes encobrir
- A hóstia não gera a paz, nem a guerra
- Mas diz que cristão é querer construir.

Me falem, ó Santos, me fala Antônio
Aconselha-me, por favor, São Benedito
Da morena eu tenho calmo matrimônio
Mas a branca me atiça aquele, o dito!

- Sem vergonha! Mulherengo!
- Peraí Antônio, eu digo.
Pecador,
depois do bem-bom
me fale:
quem lava tua tanga?
Cuida da tua moleza?
Te bota comida no prato?
Perceba!

- Salomão pede pra eu te falar:
“ama a senhora da tua juventude
tão linda gazela, um zeloso olhar
o riso confiante, no deserto, açude!
Pantoja Ramos
Enviado por Pantoja Ramos em 24/12/2011
Reeditado em 24/12/2011
Código do texto: T3405237

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