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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Pretensão de Pintura por Palavras

Foto: FASE, 2004.

Breves, fevereiro de 2004.



Segunda-feira de carnaval.
Tempo nublado, preguiçoso, chuvoso.
Cidade de Breves.

As marias-bestas metem o bico
na terra arenosa e ao mesmo tempo
lamacenta das ruas.

Um bem-te-vi espreita a caça
das cabas e mosquitos que passeiam.

Todos concordam: não choverá mais,
por enquanto.

Da sacada, vejo um estacionamento de barcos.
Um homem de short verde
coça a costa no castilho da porta do porto
num sobe-desce agoniado, engraçado.
Se a coceira não sossegar,
o estrepe o sossega.

Santa Maria, Viking,
Ferreira Pena, Lucatelli,
Alex Roberto, Paulo Roberto.
Estes são os barcos que consigo ver os nomes.
Uns simples, outros com pavulagem.

Um barco começa a querer sair:
É a Santa Maria.
Popozando.

Deve ser um dezoito. Como sei?
Deve ser pelas conversas que tenho
com meus amigos de Gurupá.
“Lá vem o Barbudo”
“Como é que tu sabe?”
“É que ele tem um dezoito
que faz um barulho rasgado”.
Rasgado. Vai saber.
Quando a embarcação aponta
na ponta da ilha,
não é que é mesmo?!

E outros. E outros.
Tilintado. Assoviado.

Os motores de barco, concordo, tem personalidade.

Passa agora um rabeta
com pai, filho, motorzinho.
Este é pequenino
mas saliente o suficiente
pra fazer da canoa um prodígio.

Sai o Paulo Roberto.
Deixa eu tentar: este tem
um motor com barulho... sufocado.
Casco grande, motor, um onze.
Não rende muito.
Dono e motor são deprimidos
e correm subindo o rio.

Agora vejo um casquinho de corrida.
Motor onze.
Sassariqueiro. Barulho alegre.

Atrás, ao fundo, observo
navios-elefantes enormes
puxando com a tromba pacotes de madeira.
Um caranguejo ziguezagueia para ajudar
a encher a barriga do bichão.
E lá se vão horas.

Árvores.

Dúvidas.

Será que alguém já tentou
plantar itaúbas para que outros
pretensamente possam
versar sobre barcos no futuro?
Pantoja Ramos
Enviado por Pantoja Ramos em 12/04/2012
Reeditado em 12/04/2012
Código do texto: T3608716

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