Lamberto, nascido e criado traumatizado, tinha aquela queda por Beninha. Mas a garota só queria saber da Turma do Voley, grupo de rapazotes magros, altos (já para os padrões dos anos 1990) e boçais que espelhavam-se na equipe Medalha de Ouro de Barcelona. Era o grupinho chegar e pronto, lá se iam as meninas a babar pelos pulos, cortadas, bloqueios e saques dos candidatos a atletas. Não falavam nada que prestasse, só de Voley, músculos, festas e um e outros, de maconha. Beninha até dizia que não se derretia, mas estava lá a se esfregar com o Mamona, um dos molecões.
Lamberto e os amigos a chupar o dedo. Longe a olhar a manada de moçoilas comandadas pela Turma do Voley. Tomou uma atitude um dia: "vou entrar no jogo e me meter entre eles", resmungava no alto de seus 1,60. Pediu pra jogar, Beninha até reparou na novidade. Na primeira recepção, de um saque estilo Marcelo Negrão, veio na cara uma bolada certeira, espocando-lhe o beiço. "Ai, Ai, Ai!!".
Foi a risada da Turma do Voley! Beninha gargalhou.
Lamberto saiu emputecido de lá.
Atualmente, Lamberto vê sua filha Shana (outra traumatizada), chegando em casa da aula de educação física com um galalau do lado segurando uma bola. "Pai, este é o Marcelo, meu...". Lamberto surta:
"MARCELO NEGRÃO!! SEU DESGRAÇADO!!"
Pega a bola do rapaz e dá-lhe uma bolada no meio da boca do pobre, que nada entende e sai correndo.
A menina sai em busca do amigo que ia ajudar na lição de matemática.
Lamberto vai também e no caminho enxerga na academia da esquina uma turma de alunos de Muay Thai mostrando-se para um punhado de moças que davam risinhos. Até Shana sorriu, esquecendo por uns momentos do amigo perdido.
"Boçalidade é um mal eterno, e tem sempre quem compre...", refletiu.
Sem Traumas.
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terça-feira, 31 de março de 2015
quinta-feira, 26 de março de 2015
PIB Curralinho
Curralinho, 06 de março de 2015.
Eis que caminho para o porto de Curralinho.
Duas da manhã.
Duas vezes eleita a menor economia do país.
Chuva fina, lama grossa
Pula-se aqui e acolá.
Um título de pobre dado pelos globalizados
De um país de muitos corruptos.
No frio da pouca camisa que me protege
Quatro homens naquele canto escuro comentam
Não sei se é escárnio
Sei lá se é assalto
Ainda bem que chuvisco os mantém quietos.
Nem a cachorrada sai pro cio.
Nem o café queima tanto.
Moto-taxistas se acotovelam em busca de uma corrida
O carreteiro à espera da carga
Que seja pesada.
Pessoas que vêm e vão com suas cargas
Que não sejam tão assim pesadas.
Em cima das cabeças como a juntá-los o chuvisco
Intensa madrugada.
O frio vento.
Mas quem conhece
Só quem amanhece
Descobre os curralienses.
Alegres
Cordiais
Ricos
Não de um Produto Interno Bruto
PIB
Mas de uma Pulsante Inquietação Brasileira
PIB.
Eis que caminho para o porto de Curralinho.
Duas da manhã.
Duas vezes eleita a menor economia do país.
Chuva fina, lama grossa
Pula-se aqui e acolá.
Um título de pobre dado pelos globalizados
De um país de muitos corruptos.
No frio da pouca camisa que me protege
Quatro homens naquele canto escuro comentam
Não sei se é escárnio
Sei lá se é assalto
Ainda bem que chuvisco os mantém quietos.
Nem a cachorrada sai pro cio.
Nem o café queima tanto.
Moto-taxistas se acotovelam em busca de uma corrida
O carreteiro à espera da carga
Que seja pesada.
Pessoas que vêm e vão com suas cargas
Que não sejam tão assim pesadas.
Em cima das cabeças como a juntá-los o chuvisco
Intensa madrugada.
O frio vento.
Mas quem conhece
Só quem amanhece
Descobre os curralienses.
Alegres
Cordiais
Ricos
Não de um Produto Interno Bruto
PIB
Mas de uma Pulsante Inquietação Brasileira
PIB.
Pantoja Ramos.
terça-feira, 24 de março de 2015
Lamberto, o Traumatizado: Dicionário
Lamberto, o Traumatizado nunca gostou muito de dicionários. Não sabia muito bem o motivo, mas desconfiava de todo mundo que se chamava Aurélio. Passava longe do pai dos burros, preferia outros meios de descobrir o significado das palavras, televisão, rádio, seu avô Diógenes e para as sacanagens, recorria ao seu progenitor, o alcoólatra chamado Quilha Velha.
Seu filho Simone (outro traumatizado) outro dia interpelou-o sobre a palavra achacadores. "Pai, o que é um achacador?".
"Não sei, Simone, vai pesquisar.". E lá vem o rapazote com um Aurélio nas duas mãos de tão pesado, presente do avô do último natal.
Neste momento, ao ver o livrão, passou um filme na cabeça de Lamberto. Lembrou dos domingos de reunião de família na casa de sua mãe, Santana, sim, porque a casa era dela, Quilha Velha só passeava por ali. Todos se juntavam no almoço dominical, avô, avó, primos, até amigos de vizinhança. Todos para ouvir as histórias de Diógenes ou rir dos atos ridículos de Quilha Velha, sempre ébrio, a envergonhar Lamberto.
Vovó Mariquinha perguntou ao neto para puxar conversa: "Lamberto, fiquei sabendo que tu foste no médico". "Nada não, vó, só umas ardências nas pernas...".
"O que o médico disse?", voltou a avó a indagar, com todos ali na roda de conversa, claro, tudo era curiosidade.
"Nada não vó, ele disse uns troços estranhos, disse que era uma tal de bleno, bleno, ah, blenorragia...".
"Que é isso??".
"Sei lá, vó, tomei umas injeções e passou.".
O priminho de oito anos, tão espertinho, sugeriu: "Bora ver no dicionário??? Eu já sei ler, vocês vão ver".
"Bora", "Bora", Bora". e foi um empurra-empurra pra ver quem pegava o dicionário primeiro. O priminho esperto pegou, abriu o livro, passou as páginas, todo mundo ali. E o pequeno pedindo ajuda colocou o dicionário em pé e leu orgulhosamente e em voz alta para mostrar o quanto era genial no abecedário e no soletrar, apesar da gagueira de quem está aprendendo:
"BLE-BLE-NOR-RA-GIA = O-MES-MES-MO-QUE-GO-GO-NOR-RÉ-IA...". Sorriu para todos.
Hoje, quando Lamberto olhou o mesmo sorriso em Simone, gritou:
"AURÉLIO NÃÃÃOOO!!".
Tirou da mão do filho e jogou no meio da rua seu Aurélio, coitado.
"QUER SABER O QUE ACHACADOR??!! AVERIGUE JUNTO AOS BEÓCIOS INCULTOS QUE PARLAMENTAM ESTA TERRA DE VERACRUZ!".
E foi lançando impropérios ao serviçal contexto das massas e sua ignorância na escolha de seus líderes até chegar ao banheiro.
Sem traumas.
Seu filho Simone (outro traumatizado) outro dia interpelou-o sobre a palavra achacadores. "Pai, o que é um achacador?".
"Não sei, Simone, vai pesquisar.". E lá vem o rapazote com um Aurélio nas duas mãos de tão pesado, presente do avô do último natal.
Neste momento, ao ver o livrão, passou um filme na cabeça de Lamberto. Lembrou dos domingos de reunião de família na casa de sua mãe, Santana, sim, porque a casa era dela, Quilha Velha só passeava por ali. Todos se juntavam no almoço dominical, avô, avó, primos, até amigos de vizinhança. Todos para ouvir as histórias de Diógenes ou rir dos atos ridículos de Quilha Velha, sempre ébrio, a envergonhar Lamberto.
Vovó Mariquinha perguntou ao neto para puxar conversa: "Lamberto, fiquei sabendo que tu foste no médico". "Nada não, vó, só umas ardências nas pernas...".
"O que o médico disse?", voltou a avó a indagar, com todos ali na roda de conversa, claro, tudo era curiosidade.
"Nada não vó, ele disse uns troços estranhos, disse que era uma tal de bleno, bleno, ah, blenorragia...".
"Que é isso??".
"Sei lá, vó, tomei umas injeções e passou.".
O priminho de oito anos, tão espertinho, sugeriu: "Bora ver no dicionário??? Eu já sei ler, vocês vão ver".
"Bora", "Bora", Bora". e foi um empurra-empurra pra ver quem pegava o dicionário primeiro. O priminho esperto pegou, abriu o livro, passou as páginas, todo mundo ali. E o pequeno pedindo ajuda colocou o dicionário em pé e leu orgulhosamente e em voz alta para mostrar o quanto era genial no abecedário e no soletrar, apesar da gagueira de quem está aprendendo:
"BLE-BLE-NOR-RA-GIA = O-MES-MES-MO-QUE-GO-GO-NOR-RÉ-IA...". Sorriu para todos.
Hoje, quando Lamberto olhou o mesmo sorriso em Simone, gritou:
"AURÉLIO NÃÃÃOOO!!".
Tirou da mão do filho e jogou no meio da rua seu Aurélio, coitado.
"QUER SABER O QUE ACHACADOR??!! AVERIGUE JUNTO AOS BEÓCIOS INCULTOS QUE PARLAMENTAM ESTA TERRA DE VERACRUZ!".
E foi lançando impropérios ao serviçal contexto das massas e sua ignorância na escolha de seus líderes até chegar ao banheiro.
Sem traumas.
quinta-feira, 19 de março de 2015
Inauguração da Miniagroindústria Boa União, Comunidade Santo Ezequiel Moreno, Rio Acuti-pereira, Portel-Pa
Foto: ASCOM, Prefeitura Municipal de Portel.
No último dia 07 de março, 25 famílias da comunidade Santo Ezequiel Moreno, rio Acuti-pereira,
Portel-Pa, foram beneficiadas com a implantação de uma miniagroindústria de
frutos, uma nova etapa de seu plano de uso dos recursos naturais elaborado em
2006.
A Miniagroindústria Boa União, gerenciada
pela Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Acutipereira
(ATAA), foi o resultado do esforço das parcerias locais, que envolveram
a Empresa de Assistência Técnica e Extensão rural do Estado do Pará
(Emater), o Instituto de Educação do Brasil (IEB), a Secretaria Municipal de
Desenvolvimento (Sede), a Secretaria Municipal de Agricultura (Sema) e o Banco
do Brasil. "Este projeto se realizou graças ao nosso empenho pessoal, dos membros da ATAA e da gerência local do Banco do Brasil, sobretudo do ex-gerente Roney Souza", informa Milton Costa, Engenheiro Florestal da Emater em Portel.
O destino da produção de polpas de
açaí, cupuaçu, manga, caju, bacuri e acerola será os programas Nacional de
Alimentação Escolar (PNAE) e de Aquisição de Alimentos (PAA). Para Teofro
Lacerda, presidente da ATAA, "Esta conquista é muito importante para nossas famílias porque estamos valorizando ainda mais nossos produtos, sempre no pensamento de ser sustentável e fortalecendo a nossa união", relata o presidente da ATAA.
Loyanne Feitosa do IEB (centro) na entrega de notebook à Sônia e Teofro, da ATAA. Foto: ASCOM, Prefeitura Municipal de Portel.
Para Odivan Corrêa,
presidente da recém criada Associação dos Moradores da Gleba Acuti-pereira, entidade que
envolve 250 famílias da região, onde está inserida a comunidade Santo Ezequiel
Moreno, "é um momento positivo, pois pode ser um exemplo para as outras comunidades sobre a melhoria de renda através da organização social",
diz Odivan.
Na solenidade de inauguração, foi entregue o primeiro Selo de Inspeção Municipal (SIM) de Portel, pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento (Sede), atestando a boa qualidade das instalações da comunidade Santo Ezequiel Moreno para a produção de polpas de frutas.
Foto: Carlos Ramos.
segunda-feira, 16 de março de 2015
Lamberto, o Traumatizado: Manifestação
Lamberto, o Traumatizado, saiu nas ruas em 1992 como legítimo cara - pintada para expulsar o Collor do Palácio do Planalto. Estava apaixonado por sua condição de jovem cidadão.
FORA COLLOR! !! FORA COLLOR!!
Anos depois, na faculdade, após uma palestra sobre Paulo Freire e seu método de ensino, nosso Traumatizado caiu em si sobre o que é uma verdadeira educação libertadora, contraponto da manobra de massas. Deprimiu-se.
Gritou da porta ao filho:
"SIMONE, AO MENOS LEVE UM CARTAZ ESCRITO ´VALE A PENA VER DE NOVO´. NÃO ESQUECE DO GLOBINHO EM UM DOS ÓS!".
Sentou no sofá. Trocou de canal. Decidiu assistir um programa sobre criação de gado.
Sem traumas.
quinta-feira, 12 de março de 2015
Lamberto, o Traumatizado: Lambada
Lamberto odiava lambadas. No início dos anos 90 foi a febre das danceterias. Logo ele que era um verdadeiro prego para movimentos corporais.
Beninha, sua musa, só dançava a peste. Nas tertúlias, sempre que Lamberto se aproximava da pequena pra puxar conversa, ouvia-se: "Chorando se foi...". Outro espinhento pegava - a e lá se ia saracoteando pelo salão.
"Chorando de foi...".
Em casa lutava pra aprender os passos. Nada. Cintura dura demais.
Enquanto isso, Beninha rebolava.
"Chorando se foi...".
Maldito Kaoma.
Décadas depois, após ter se tornado um pé - de - valsa de todos os estilos, fruto da revolta adquirida na adolescência, resolve ir para mais uma noitada de divorciados de meia idade misturada à juventude. Na festa, uma jovem chamou sua atenção por lembrar, por lembrar... Beninha!
Chama-a para um embalo.
"Você dança Melody? ", convida a moçoila.
"Danço, é só começar, princesa". Dispara seu olhar 43, como diria Paulo Ricardo.
O DJ solta a próxima: uma versão Melody. de: "...chorando se foi...".
Lamberto surta, fica suado, bota as mãos no ouvido e senta na primeira cadeira pra tomar um ar. Grita:
"Kaoma, sua desgraçada!!!".
Caramba, Lamberto sequer sabia que Kaoma era uma banda e não uma mulher.
A jovem Beninha já estava no roda-roda com outro caboclo no meio da multidão de dançarinos.
Quanto à Lamberto?
"Chorando se foi...".
Sem traumas.
segunda-feira, 2 de março de 2015
Lamberto, o Traumatizado: viagem de avião
Lamberto tinha medo de andar de avião quando menino. Viajava de TABA (Transporte Aéreo da Bacia Amazônica), num quiprocó de chuva que lhe arrebentava o estômago. Era famosa a sua histeria entre os passageiros de Monte Dourado, no Jari.
ME TIREM DAQUI!!! SOCORRO!! SOCORRO!
Para aliviar, antes de cada viagem, sua mãe colocava o LP A Casa de Brinquedos, na música do Toquinho:
"Venha voar comigo, amigo
Sem medo venha voar
De dia tem um sol brilhando
De noite o luar
Venha voar comigo, amigo
Sem medo venha voar
Em dia nublado
Não fique assustado
Que eu tenho radar...".
E assim manteve a letra decorada até a fase adulta, recitando em cada trecho aéreo que fazia. Era a comissária de abordo anunciar o fechamento de portas "em automático", que ele cantarolava baixinho para diminuir a agonia.
E na bizarrice da cantiga de canto de boca viajava, até um dia que olhou pro lado e viu um pai em celular colocando um vídeo para o filho de 4 anos, do grupo Palavra Cantada:
"A pobre galinha
Não sabe voar
Enquanto o avião
Vive pelo ar
Se ele é tão pesado
E a galinha não
Então por que que voa
E a galinha não?"
ME TIREM DAQUI!!! SOCORRO!! SOCORRO!
Foi expulso da aeronave.
Se voltou a viajar de avião?
Soube-se que quando a mãe faleceu, foi pro enterro dela de ônibus, chegando uma semana após o sepultamento.
Sem traumas.
ME TIREM DAQUI!!! SOCORRO!! SOCORRO!
Para aliviar, antes de cada viagem, sua mãe colocava o LP A Casa de Brinquedos, na música do Toquinho:
"Venha voar comigo, amigo
Sem medo venha voar
De dia tem um sol brilhando
De noite o luar
Venha voar comigo, amigo
Sem medo venha voar
Em dia nublado
Não fique assustado
Que eu tenho radar...".
E assim manteve a letra decorada até a fase adulta, recitando em cada trecho aéreo que fazia. Era a comissária de abordo anunciar o fechamento de portas "em automático", que ele cantarolava baixinho para diminuir a agonia.
E na bizarrice da cantiga de canto de boca viajava, até um dia que olhou pro lado e viu um pai em celular colocando um vídeo para o filho de 4 anos, do grupo Palavra Cantada:
"A pobre galinha
Não sabe voar
Enquanto o avião
Vive pelo ar
Se ele é tão pesado
E a galinha não
Então por que que voa
E a galinha não?"
ME TIREM DAQUI!!! SOCORRO!! SOCORRO!
Foi expulso da aeronave.
Se voltou a viajar de avião?
Soube-se que quando a mãe faleceu, foi pro enterro dela de ônibus, chegando uma semana após o sepultamento.
Sem traumas.