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terça-feira, 19 de maio de 2015

Lamberto, O Traumatizado: Maioridade Penal

Lamberto, O Traumatizado, era uma menino desastrado, mas de boa índole. Mesmo com todos os traumas, nunca fugiu dos princípios que sua mãe lhe ensinava. Do pai, pouco aprendia, a não ser do quanto os homens alcoolizados podem ser imbecis ao dar conselhos para os filhos. E um dia seu velho apontou para o esperto Ananias, chamado Nanico: "esse sim é moleque sabido...vai aprender com ele, Lamberto, pra vê se tu te esperta...". Ananias era filho de um colega de cachaça do pai.


Ananias, de apelido Nanico, era arteiro, esquisito, cheio das estratégias. No jogo de petecas, mencionava coisas sobre ser rico, ser o maior, ser o mais forte. Lamberto não prestava muita atenção e tentava não perder as bolas de aço que ainda mantinha, dada a habilidade de "tecar" do parceiro de jogo. Nanico, sempre aparecia com uma sandália nova, um relógio Champion, uma camisa da VideBula, marcas famosas naqueles anos 1980.


Um dia, Nanico convidou Lamberto para irem ao supermercado. Andavam pelas prateleiras aqui e ali, quando Lamberto deparou Nanico chupando um iorgute através do buraco feito com o dedo indicador sem tirar a embalagem. "Que é isso cara??? Num faz isso!!", pegou o potinho ainda pela metade e colocou-o de volta na prateleira. Uma mão segurou-lhe o braço. Era o segurança do supermercado. "Ahhhhh, peguei finalmente a gangue dos vampiros de iorgute!!!". Levou os dois para a gerência.


Uma sala com poucos móveis, muito papel. Um gerente com cara de segunda-feira, um segurança meia idade, dizem que seu sonho era ser tenente naqueles tempos de fim de ditadura, só que com pensamentos "medicianos" ainda visíveis nele.


Um interrogatório.



"Quem mais chupa os iogurtes, quem? Quem??" Bate na mesa o gerente. "Bora rapá, senão a gente vai ficar aqui o dia todo!! BORAAA!". Outro soco na mesa.


A sala não tinha janelas.


Lamberto começa a chorar. Nanico, cínico, olha nos olhos do gerente.


"Vamo contá pro seu pai e pra sua mãe, aí quero ver a vergonha...". Ele vai pagar essa conta, ela vai chorar de te ver indo pra Febem". Na verdade,  a mãe de Lamberto faria as duas coisas.


"Bora rapá! !!" Dá um tapinhas na nuca de Lamberto. Nanico quieto.


Lamberto chora, chora, chora.


"Fui eu senhor, fui eu que peguei! Não conta pra minha mãe!". Resolveu admitir o inadmissível.


Lamberto foi pra casa humilhado. Sua mãe perguntou o porque da cara comprida, do beiço pra baixo. Não contou. Seu pai nem quis saber e mandou: "Lamberto, vai comprar cigarro pra mim, um maço de Calton. Leva o Nanico pra ir contigo, ele sabe onde tem. Tem que ser do Calton, viu?".


Lamberto, chateado só de pirraça, preferiu ir sozinho e comprar cigarro Hollywood. Quando voltou com outra marca, pegou um cascudo.


Nos atuais dias, Lamberto assiste a uma senhora cheia de ódio na TV falar a favor da redução da maioridade penal.



Enquanto olha a TV, seu filho Simone (outro traumatizado) diz que vai sair com os amigos que estavam na porta. Lamberto olha da janela os rapazes com cara de poucos amigos, cambaleantes em seus passos de uma moda eterna malandra. Reconheceu o trejeito.


"Simone, hoje não, fica em casa que eu quero que você traduza um texto em inglês pra mim. É do meu trabalho". O filho fica emburrado, porém, obedece. Os dois estudam a tarde toda até Simone ficar interessado com a tarefa. Lamberto contou - lhe uma história engraçada como recompensa.


Nanico não virou ladrão como se podia imaginar. Virou policial corrupto. Gostou de transgredir, não pegar nada, dá uma de moralista e ver alguém sendo humilhado.


Nanico atento às palavras de ódio da jornalista.


Lamberto e seu filho conversando.


Sem traumas.

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