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domingo, 25 de fevereiro de 2024

Aos 50 anos do STTR de Portel

 


Escrevo esta carta em Ponta de Pedras, no Marajó dos Campos. E mesmo longe, agoniou-me saber que não estaria em Portel para comemorar os cinquenta corajosos anos de seu Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais. E apesar de sermos contemporâneos e nascido eu nesta terra, de termos vividos alguns dias de férias em junhos e julhos de minha infância, nossas linhas, Portel e eu, só se cruzaram de vez em 2002, quando iniciava a carreira de técnico-andarilho.

E espanta-me até hoje verificar que o STTR de Portel passou pelos anos 1970, 1980 e 1990 resistente a uma estrutura que oprimia as famílias agroextrativistas do município e quem discordasse desse estado de coisas. Não deve ter sido fácil permanecer sindicato em meio à hegemonia da indústria madeireira e palmiteira, que tinham forte poder político em Portel a ponto de decidir quem ficava e quem deveria sair da terra. Para esses sindicalistas a pressão diária deve gerado inúmeras noites mal dormidas, sem saídas visualizáveis de como levar dignidade àqueles que procuravam o sindicato. Aos que estiveram nesse tempo, trazê-los à memória deste dia 24 de fevereiro de 2024 é ato necessário e justo por sua esperança e perseverança.

Nos últimos vinte anos, testemunhei realizações do STTR que permitem que eu diga que garantir direitos de trabalhadores e trabalhadoras rurais é uma luta constante. Constante pois ao mesmo tempo em que se luta para que as pessoas consigam acessar a previdência social, peleja-se para que tais direitos não regridam. A luta é árdua, uma vez que o STTR luta pela proteção de crianças e adolescentes no meio rural, mesmo que as condições de logística não estejam na altura do desafio posto.

A luta continua companheiros e companheiras, pois entendo que as comunidades tradicionais e STTR foram esplêndidas em ser decisivas para o avanço nas últimas duas décadas do ordenamento fundiário que atualmente abrange certa de 42% do município de Portel. São projetos de assentamentos agroextrativistas, territórios quilombolas e unidades de conservação que ocupam cerca de 1 milhão de hectares de Portel. Ainda assim, a grilagem, o desmatamento e a extração ilegal de madeira são inimigos de sempre para as famílias locais. E candidatos a novos “patrões” surgem a cada dia, e gente, espiem as empresas de carbono nessa novidade. Permanecei atentos e atentas.

Atentos e com atitude. Exigir que as políticas públicas como o crédito rural e acesso a mercados institucionais como o Programa de Aquisição de Alimentos e Programa Nacional de Alimentação Escolar sejam acessadas são também bandeiras do STTR de Portel e eu fico maravilhado quando fotos me chegam de novas entregas da produção das famílias para alimentar outras famílias e crianças. Tudo isso tem sido feito pelo STTR. Um papel de escrever a história nova com parcerias que compreendam o esforço pelo bem-viver no campo.

E essa marca histórica de 50 anos do STTR de Portel precisa estar gravada em quadros de seus presidentes e presidentas e lideranças, Teofro, Gracionice, Odivan, Maria Oneide, Maria Miranda e diretores espalhados pelas paredes. Sei que a casa é modesta, contudo, seu prédio é de certa forma gigante ao presenciar uma revolução discreta e incansável em benefício de todos e todas que vivem nas florestas e rios portelenses.

Dirão que 50 anos passam voando. Perguntemos então por gentileza a este pássaro que tempestades e alvoreceres avistaram para ensinar às próximas gerações.

  

 

 

Ponta de Pedras, 24 de fevereiro de 2024.

 

Pantoja Ramos.

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