Escrevo esta
carta em Ponta de Pedras, no Marajó dos Campos. E mesmo longe, agoniou-me saber
que não estaria em Portel para comemorar os cinquenta corajosos anos de seu Sindicato
dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais. E apesar de sermos contemporâneos e
nascido eu nesta terra, de termos vividos alguns dias de férias em junhos e
julhos de minha infância, nossas linhas, Portel e eu, só se cruzaram de vez em
2002, quando iniciava a carreira de técnico-andarilho.
E espanta-me
até hoje verificar que o STTR de Portel passou pelos anos 1970, 1980 e 1990
resistente a uma estrutura que oprimia as famílias agroextrativistas do
município e quem discordasse desse estado de coisas. Não deve ter sido fácil permanecer
sindicato em meio à hegemonia da indústria madeireira e palmiteira, que tinham
forte poder político em Portel a ponto de decidir quem ficava e quem deveria
sair da terra. Para esses sindicalistas a pressão diária deve gerado inúmeras noites
mal dormidas, sem saídas visualizáveis de como levar dignidade àqueles que procuravam
o sindicato. Aos que estiveram nesse tempo, trazê-los à memória deste dia 24 de
fevereiro de 2024 é ato necessário e justo por sua esperança e perseverança.
Nos últimos
vinte anos, testemunhei realizações do STTR que permitem que eu diga que
garantir direitos de trabalhadores e trabalhadoras rurais é uma luta constante.
Constante pois ao mesmo tempo em que se luta para que as pessoas consigam
acessar a previdência social, peleja-se para que tais direitos não regridam. A luta
é árdua, uma vez que o STTR luta pela proteção de crianças e adolescentes no meio
rural, mesmo que as condições de logística não estejam na altura do desafio
posto.
A luta
continua companheiros e companheiras, pois entendo que as comunidades
tradicionais e STTR foram esplêndidas em ser decisivas para o avanço nas últimas duas décadas do ordenamento fundiário
que atualmente abrange certa de 42% do município de Portel.
São projetos de assentamentos agroextrativistas, territórios quilombolas e
unidades de conservação que ocupam cerca de 1 milhão de hectares de Portel. Ainda
assim, a grilagem, o desmatamento e a extração ilegal de madeira são inimigos
de sempre para as famílias locais. E candidatos a novos “patrões” surgem a cada
dia, e gente, espiem as empresas de carbono nessa novidade. Permanecei atentos
e atentas.
Atentos e com
atitude. Exigir que as políticas públicas como o crédito rural e acesso a
mercados institucionais como o Programa de Aquisição de Alimentos e Programa
Nacional de Alimentação Escolar sejam acessadas são também bandeiras do STTR de
Portel e eu fico maravilhado quando fotos me chegam de novas entregas da
produção das famílias para alimentar outras famílias e crianças. Tudo isso tem
sido feito pelo STTR. Um papel de escrever a história nova com parcerias que compreendam
o esforço pelo bem-viver no campo.
E essa marca
histórica de 50 anos do STTR de Portel precisa estar gravada em quadros de seus
presidentes e presidentas e lideranças, Teofro, Gracionice, Odivan, Maria Oneide,
Maria Miranda e diretores espalhados pelas paredes. Sei que a casa é modesta, contudo,
seu prédio é de certa forma gigante ao presenciar uma revolução discreta e
incansável em benefício de todos e todas que vivem nas florestas e rios portelenses.
Dirão que 50
anos passam voando. Perguntemos então por gentileza a este pássaro que
tempestades e alvoreceres avistaram para ensinar às próximas gerações.
Ponta de Pedras, 24
de fevereiro de 2024.
Pantoja Ramos.
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