segunda-feira, 26 de março de 2012

Quilombolas vão discutir sustentabilidade de seus territórios na Cúpula dos Povos, no Rio.

 
março 26, 2012 Posted by GTA in NOTÍCIAS NA MÍDIA

O líder quilombola Damião Braga disse à Agência Brasil que pouco tem sido feito no país no sentido de dar às populações remanescentes dos quilombos a propriedade das terras onde viveram seus antepassados.
A defesa da titulação e da sustentabilidade dos territórios é prioridade para as comunidades quilombolas que participarão da Cúpula dos Povos. O evento está sendo organizado pela sociedade civil e ocorrerá paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em junho, na capital fluminense.
O líder quilombola Damião Braga disse à Agência Brasil que pouco tem sido feito no país no sentido de dar às populações remanescentes dos quilombos a propriedade das terras onde viveram seus antepassados. A titulação é priorizada no papel, mas “em termos de ação objetiva, nada é feito”, declarou.
Na sexta-feira (23), Braga participou de reunião preparatória ao seminário Quilombo do Rio, que reunirá representantes de todos os quilombolas fluminenses, no dia 4 de abril, na cidade.
Damião Braga é presidente do conselho diretor da Associação da Comunidade Remanescente do Quilombo Pedra do Sal (Arqpedra) e coordenador da Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas. Ele declarou que de todos os territórios das cerca de 5 mil comunidades existentes no país, “nem 10% são titulados”.
Braga ressaltou que vários direitos da comunidade quilombola estão ameaçados no Legislativo pelo lobby feito pelo setor ruralista. “Vários direitos que nós tínhamos garantidos dentro da Constituição Federal estão sendo ameaçados por esse setor”. Uma das armas usadas, citou, é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 que tira do Poder Executivo a atribuição para a demarcação de terras indígenas e a titulação de territórios quilombolas e a transfere ao Congresso Nacional. A proposta passou pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal e deve seguir para apreciação do Senado.
Ele declarou que durante a Cúpula dos Povos, os quilombolas pretendem não apenas defender a titulação, mas a sustentabilidade desses territórios. “Não é só você titular. O que a gente discute aí é uma reparação histórica que o Estado brasileiro deve às nossas comunidades”. Essa reparação, explicou, será feita por meio da titulação e da preservação dos territórios. “Com a certeza de que nenhum ator público ou privado ameace esses territórios em função de algum projeto desenvolvimentista”, disse.
Braga também informou que nem todas as comunidades que foram tituladas têm a segurança da propriedade, isto é, estão inscritas no Registro Geral de Imóveis. Referindo-se à Comunidade da Pedra do Sal, localizada no bairro da Saúde, no centro do Rio de Janeiro, em área próxima ao Porto do Rio, ela está, segundo Braga, sofrendo os impactos diretos do projeto Porto Maravilha, que prevê preparar a cidade para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Segundo ele, esse projeto “nada mais é do que um acordo de cooperação entre a União, o estado e o município do Rio no sentido de promover uma requalificação urbana da zona portuária”. Enfatizou que “o mesmo Estado que tem a obrigação de titular os territórios quilombolas é o mesmo Estado que toca um projeto que passa por cima da comunidade em função de um projeto desenvolvimentista”, disse.
O líder quilombola tem uma expectativa positiva em relação à Cúpula dos Povos. “Esse é o maior evento internacional dos últimos tempos. Não vamos conseguir ter essa visibilidade e expor ao mundo o que vem acontecendo com os nossos territórios tão cedo”.
A Frente Nacional em Defesa dos Territórios Quilombolas vai promover também em abril próximo, no Rio, um seminário do qual participarão lideranças quilombolas de todo o país. A idéia, revelou Braga, é reunir na Cúpula dos Povos pelo menos mil quilombolas em atividades que ocorrerão no Aterro do Flamengo e também no Quilombo Pedra do Sal, na zona portuária. Ali, será desenvolvido um trabalho especial de fortalecimento político do único território quilombola existente na localidade.
Alana Gandra/ Agência Brasil

sexta-feira, 23 de março de 2012

Conhecimento sobre o peixe


                                                       Gurupá, outubro de 2005


O Filosófico é assim
Pro peixe, liberdade não há
Não alma, não começo , não fim
Existência finita que está

O Teológico, sagrado que diz
Multiplicados, milagre que foi
Pecado a gula que fiz
Na Paixão, não carne, não boi

O Científico supunha o ser
Estoque de peixes contar
Das teses, espécies de ter
Nas vitas, nas minas, gerar

O Popular, humilde, modesto
Responde ao repórter, abusivo
- Vais matar esse pirarucu pra comer?
- Não dá pra comer bicho vivo!
Pantoja Ramos
Enviado por Pantoja Ramos em 20/03/2012
Código do texto: T3565930

quarta-feira, 21 de março de 2012

Movimentos do campo aprovam programa educacional do governo



Movimentos do campo aprovam programa educacional do governo
A presidenta Dilma Rousseff lançou, nesta terça (20), o Programa Nacional de Educação no Campo (Pronacampo) que vai oferecer apoio técnico e financeiro aos estados e municípios para implementação da política de educação para atender comunidades rurais e quilombolas. Movimentos sociais aplaudem iniciativa. E vaiam senadora ruralista que vê nela uma oportunidade para alavancar o agronegócio brasileiro.
Najla Passos
Porto Alegre - Sob os aplausos dos movimentos sociais, a presidenta Dilma Rousseff lançou, nesta terça (20), em cerimônia no Palácio do Planalto, o Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo), que vai oferecer apoio técnico e financeiro aos estados e municípios para implementação da política de educação para atender comunidades rurais e quilombolas.

“Este é um daqueles momentos em que a gente tem orgulho de ser presidenta da república. E não é um orgulho qualquer, porque me gratifica, como presidenta, implementar um programa que vai levar, sobretudo à população jovem deste país, um outro destino, a possibilidade de outros sonhos e de mais realizações”, afirmou Dilma Rousseff.

De acordo com a presidenta, o Pronacampo proporcionará aos estudantes do campo acesso às mesmas oportunidades oferecidas aos filhos dos trabalhadores das cidades, como o acesso ao ensino profissionalizante e à educação superior.

“Estamos apostando, sobretudo, que uma outra geração também se beneficiará com tudo isto que fazemos nesta, mudando a feição do campo brasileiro e garantindo que ele será um lugar digno, de qualidade para se morar e se criar os filhos. Eu acho que esse papel do Pronacampo é estratégico. Sem isso, nós não teremos de fato condições de transformar o Brasil numa grande nação”, acrescentou.

De acordo com o ministro da Educação, Aloísio Mercadante, o programa possui metas ousadas e já conta, este ano, com orçamento de R$ 1,8 bilhão. Prevê educação integral em 10 mil escolas rurais, material didático específico para três milhões de alunos, expansão dos laboratórios digitais para mais 20 mil escolas, 120 mil bolsas para o ensino profissionalizante, construção de três mil novas escolas, aquisição de oito mil ônibus, duas mil lanchas e 180 mil bicicletas, formação continuada para os 340 mil professores rurais, cuja metade sequer possui graduação, entre outras.

Mercadante estima que, até o final do mandato da presidenta, o programa resgatará grande parte da dívida histórica dos governos com a população rural brasileira. Hoje, no campo, 23,18% da população com mais de 15 anos é analfabeta e 50,95% não concluiu o ensino fundamental, números bastante superiores à média nacional.

Ele acredita que o programa também ajudará a estancar o fechamento das escolas rurais, que vem se acentuando no país. Segundo o ministro, só nos últimos cinco anos, 13.691 escolas foram fechadas, em função, muitas vezes, do processo de evasão da população para a cidade, mas, na maioria delas, de uma política para reduzir custos com a área, que obriga os estudantes a irem cada vez mais longe para freqüentar a escola.

Para sanar o problema, além de oferecer apoio técnico e financeiro aos estados e municípios, o governo enviou ao Congresso, também nesta terça, proposta de projeto de lei que impede o fechamento de escolas por decisão exclusiva dos prefeitos. Conforme Mercadante, a proposta, que irá alterar a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), estabelece que os conselhos estaduais e municipais de educação deverão ser consultados antes do encerramento das atividades.

Mal-estar
O Pronacampo é uma reivindicação histórica dos movimentos sociais do campo, que participaram ativamente da sua concepção e, por isso, se uniram em um forte coro de vaias à senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que, convidada a discursar na cerimônia, afirmou que “a educação no campo é de extrema importância para fazer o agronegócio ainda mais pujante”.

Representando os movimentos sociais e o Conselho Nacional de Educação do Campo (Conec), o secretário de Políticas Sociais da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), José Wilson Gonçalves, já havia ressaltado, em seu discurso, que a educação precisa contribuir com o desenvolvimento do campo brasileiro.

Entretanto, deixou bem claro que este desenvolvimento não é o das máquinas e da tecnologia agrícola. “O desenvolvimento no campo que nós queremos que seja reconhecido é este em que possa ser visto o campo com gente, que posta ser visto o campo a partir das pessoas que produzem os alimentos que o povo brasileiro consome”, delimitou.

Para o representante dos movimentos sociais, a educação precisa considerar o desenvolvimento a partir da diversidade, da cultura, dos saberes, dos costumes, das realidades regionais. “O Pronacampo tem a cara, tem o coração e tem alma das organizações sociais, que se esforçam pelo Brasil com o objetivo de construir referências”, acrescentou.

A presidenta Dilma demonstrou jogo de cintura suficiente para acalmar os ânimos. Destacou a importância do agronegócio nos bons resultados alcançados pela economia brasileira, mas disse que, naquele momento do lançamento do Pronacampo, queria falar para os pequenos, para os agricultores familiares e para os assentados da reforma agrária.

Segundo ela, as pesquisas demonstram que, do percentual de brasileiros que ainda vivem na extrema pobreza, grande parte está no campo, em especial nos assentamentos rurais, onde a reforma agrária não avançou, e nas comunidades quilombolas.

“Dentro da nossa estratégia de combate à miséria, junto com o Bolsa Família, a nossa busca ativa, este programa é um dos eixos estratégicos porque aposta não só em retirar as pessoas das condições de miséria a que foram condenadas durante décadas, mas implica sobretudo em garantir que as gerações futuras terão um outro tipo de horizonte de oportunidades à sua frente”, destacou.

De acordo com a presidenta, a formação das crianças e jovens do campo é uma preocupação daqueles mais pobres, que se fossem para a cidade teriam um acesso um pouco melhor às condições de aprendizado. “Nós temos de levar [educação] ao campo brasileiro. Porque nós somos um grande país que aposta que essa agricultura familiar será a base de um país mais democrático, um país que garanta oportunidade para todos”.


Fotos: Wilson Dias - ABr 

terça-feira, 20 de março de 2012

Sobre a estagnação econômica (O Liberal) e expulsão de ribeirinhos pela SPU (Diário)



Caríssimos,

Nos últimos domingos (11 e 18 de março de 2012) o Marajó foi matéria nos principais jornais do Estado. Textos que abordaram duas questões cruciais para o desenvolvimento da região: novas iniciativas econômicas e regularização fundiária. Andarilho do Marajó, mais curioso do que estudioso, fiquei pensando no quanto tais aspectos estão decisivamente ligados e quanto, nos dois casos, deixou-se de se olhar a história marajoara para perceber as causas e efeitos de uma estagnação econômica citada ou de uma expulsão de ribeirinhos acusada. Vou tomar por base de reflexão a primeira matéria, a do economista Armando Soares, em exercício apenas, pois para comentar o todo da problemática, não seria uma nota que realmente faria alguma diferença. Entretanto, representante de uma geração que avistou ao longe, no horizonte do Rio Pará, um grande destino para a sua região, não poderia deixá-lo sem opinar pela coincidência escrita de um domingo após o outro.

Como é de conhecimento, tenho coordenado um programa chamado Viva Marajó, onde a equipe foi agraciada por um instrumento poderoso de informação: o Diagnóstico Socioeconômico, Ambiental e Cultural do Marajó. Não sei precisar o que foi mais rico, se as entrevistas ou os debates nas devoluções em 10 municípios marajoaras percorridos. De certo, tive a sensação após as devolutórias que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é abaixo da média em comparação do país (0,63 do Marajó contra 0,69 do Brasil) por conta de alguns motivos a seguir descritos que se em algum momento do tempo fossem objeto de preocupação dos governantes, talvez não estariam tão estruturalmente nos incomodando:

  • a)  Ciclos – do gado, da borracha, da madeira, do palmito, do açaí – a não ser por este último, do açaí, talvez iniciado no início dos anos 1990, todos os outros não apresentaram a população dos igarapés e rios como protagonistas de sua economia. Pior do que isso, foram quase sempre impedidos de estarem à frente dos negócios, seja por um patrão, seja por um coronel. Assim se fizeram empregados que deviam até a alma, assim uma moça saía de sua comunidade para trabalhar como empregada doméstica de alguém mais abastado na capital, assim uma família inteira ficava a dar metade de sua produção ao senhor das terras. Isto se estendeu para a borracha, para a madeira (e assim a ucuúba sofreu sérios riscos), para o palmito. O açaí em tempos mais recentes tem ficado na mão de quem produz. Até os atravessadores têm feito concessões de preços;


  • b)    Segurança fundiária – cujos documentos cartoriais dos patrões faziam-se mais fortes que o reconhecimento governamental, quase sempre acompanhadas pela ameaça física ou psicológica às famílias locais. “Saia daqui senão tu corre risco”, eu ouvi várias vezes dos mais velhos e uma insistência era o pior dos desacatos ao status estabelecido, pago pela vida ou expulsão. Não tenho dúvidas que a segurança da terra é fator primordial para quem quer avançar economicamente. No caso marajoara, com seus 10 milhões de hectares abrangendo 16 municípios, 24% das terras já foram destinadas, seja por meio de assentamentos agroextrativistas, de territórios quilombolas, de unidades de conservação, beneficiando mais de 20 mil famílias.  Em Afuá, por exemplo, quase cem por cento regularizada, é notório o borbulhar  da atividade florestal das comunidades a partir de uma terra concedida a elas. O mesmo acontece em Gurupá, palco de grandes lutas pela organização social e de intensa intelectualidade territorial. Metade do território de Breves já está regularizado. Curralinho se prepara para grandes saltos. São Sebastião é grande produtor de açaí. Melgaço, Muaná e Bagre se movimentam. É açaí, é murumuru, é a boa farinha, é camarão, é madeira daqueles e para aqueles que vivem da terra. Reforçando como ferramenta importante, as Autorizações de Uso emitidas pela SPU também lançam um olhar da União sobre as milhares de moradores do Marajó, reconhecendo-as;


  • c)   Educação e informação -  enganados, surrupiados, lesados no valor de quanto vale sua produção, gerações não tiveram informações básicas para melhor levarem a vida. Dez reais a árvore de Angelim em pé; pago preço Francon para madeira de laminação; centavos a cabeça de palmito; meninas escalpeladas pela desinformação de se proteger-se dos eixos dos barcos; jogos de camisa de time de futebol em troca de votos; doses contra malária paradas nos primeiros dias de sumiço das febres, mal curando e repassando a moléstia; da menina muito menina parindo outra menina pequena menina. Contudo, a educação vai chegando aos poucos como algo inevitável pela vontade dos homens e mulheres, professores de boa vontade. De incentivar que haja um novo mestre, de ver a menina dizendo que deseja ser enfermeira quando crescer. De ser reverenciado o grande escritor dos campos de Cachoeira por mais gente. Como é bom ouvir que a caloura marajoara da universidade escolheu a profissão admirando seu trabalho, simples trabalho. Então porque esse novo batalhão de gente mais informada e educada não pode indicar o futuro de seu município e região, recuperar o que foi estragado, manejar o que não cuidado, construir o que precisa ser erguido? Porque o que vem em implacável escala é o melhor pra nossa gente? Não colunistas, a estagnação foi fruto da não valorização do homem e da mulher marajoara e da falta de uma ciência local e regional estimuladas, amparadas pelos pensamentos de pensar sempre três vezes no mesmo instante: na lua, se está enchendo ou está vazando e se está chovendo muito ou chovendo mais ou menos. Em outras palavras, alguém aí fora perguntou o que queremos? Olha, por sorte, daqui a alguns anos após a consolidação de uma educação fundamental, média e universitária, saberemos.


  • d)   Valorização do ser humano do Marajó – fomos motivos de curiosidade, de pesquisa, de livros didáticos, tipos humanos, mas não tratados no nível que deveria ser merecido como população que se identifica marajoara acima de tudo. Somos belos como Soure e Salvaterra para os outros verem, mais ricos também nas florestas de várzea de Chaves e terra-firme de Portel e campos do Lago Arari que torna eternos os sertões. Da Gloriosa fé em São Sebastião, São Benedito, Santa Ana e todos os santos. Da Oração bem-aventurada das igrejas evangélicas. Das urnas ancestrais. Do latim que vai sumindo pouco a pouco com seus rezadores experientes;


  • e)   Dos projetos de cima para baixo – e não foram poucos os gênios que disseram “vou mudar esta região”, lá de suas cabines.  Não porque queriam a melhoria da população, e sim desejavam uma não disfarçável vontade de ganhar dinheiro, não importa a forma, os rios, os bichos, as pessoas, os processos, o tempo certo. Ser contra um projeto por ser contra é falta de lógica. Porém, ninguém é mais bobo, ingênuo. Tem uma pá de gente mais esclarecida, antenada. Não dá mais para enfiar goela abaixo um projeto sem discutir vantagens e desvantagens, impactos e compensações. Aí se fará desenvolvimento. O Marajó está na foz do maior dos rios do planeta e por isso tem o seu valor para a humanidade. Para esta nova geração, tudo mais bem medido, mais calculado, mais planejado.


Coisas impossíveis acontecem no Pará.

No Marajó, já são possíveis e serão mais ainda...

Abs

Estudantes de Afuá. Foto: Sérgio Queiroz (FASE)

domingo, 18 de março de 2012

Quem ganha e quem perde com o REDD e Pagamento por Serviços Ambientais?





É esta a lógica de transformação da natureza em mercadoria: fazer com que ela possa ser comprada e vendida no mercado global. A natureza passa a integrar a proposta de uma economia “verde” ou “de baixo carbono”.

A afirmação acima é uma síntese presente no documento, intitulado “Quem ganha e quem perde com o REDD e Pagamento por Serviços Ambientais?", que é fruto de uma articulação de mais de dois anos de pesquisas e reflexões em torno do processo de mercantilização da vida que vem se travando contra a Amazônia e o planeta.

A sistematização de todo esse trabalho pode ser acessada clicando no link abaixo ou imagem ao lado para o documento de sistematização do seminário “REDD+ e Pagamento por Serviços Ambientais x Bens Comuns”, realizado em Brasília, nos dias 21 e 22 de novembro de 2011.

Acesse o documento clicando aqui.

Assinam o documento cerca de 30 organizações nacionais e internacionais que além da análise sobre REDD apontam alternativas para as crises enfrentadas pela humanidade, além de incentivo às políticas públicas estruturantes aos modos de vida e de produção dos setores que historicamente são responsáveis pela conservação, uso dos recursos naturais e da produção sustentável.

O grupo intitulado a Carta de Belém nasce em 2009, como resultado de um primeiro seminário realizado em outubro daquele ano, desta vez em Belém, capital paraense, tendo como nome “Clima e Floresta - REDD e mecanismos de mercado como solução para a Amazônia?”. Inicialmente, integraram o grupo as organizações Amigos da Terra Brasil, CUT, Fase, Fetraf, Faor, Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social, Inesc, Jubileu Sul Brasil, Rede Brasil, Terra de Direitos e Via Campesina.

O seminário de 2009 foi uma das primeiras manifestações públicas no Brasil contrária aos mecanismos de mercado para combater a poluição da atmosfera, gerando grande impacto dentro e fora do Brasil e se tornando, a partir de então, um processo permanente de discussão.

O resultado destes dois anos de articulações e debates está no documento lançado este mês. O documento conta com 12 páginas que inicia explicando a lógica da economia verde e segue, na defesa de como funciona e qual a relação do REDD com o Código Florestal e o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).

Acessem e divulguem e debatem esse importante documento que serve ainda de instrumento de reflexão e ação, além de posicionamento dessas organizações para Rio + 20 e Cúpula dos Povos, realizada em junho deste ano, no Rio de Janeiro.


http://fundodema-para.blogspot.com.br/2012/03/quem-ganha-e-quem-perde-com-o-redd-e.html

quarta-feira, 14 de março de 2012

Viabilidade econômica de sistemas agroflorestais em áreas de agricultores familiares no Pará, Brasil 1

Revista de Ciências Agrárias / Amazonian Journal of Agricultural and Environmental Sciences, Vol. 54, No 2 (2011)


Viabilidade econômica de sistemas agroflorestais em áreas de agricultores familiares no Pará, Brasil 1

Daniel da Costa Francez, Leonilde dos Santos Rosa

Resumo


A viabilidade econômica dos sistemas agroflorestais é questionada, por tratar-se de sistemas mais complexos e que envolvem maiores riscos e incertezas do ponto de vista econômico. Assim, o objetivo desta pesquisa foi avaliar a viabilidade econômica de cinco sistemas agroflorestais, estabelecidos por agricultores familiares de Nova Timboteua, Pará. Os dados referentes às despesas e receitas para cada sistema agroflorestal foram coletados por meio de entrevistas estruturadas, observação direta, calendário agrícola e inventário florístico a 100% de intensidade. A viabilidade econômica foi avaliada pelos indicadores valor presente líquido, taxa interna de retorno e razão benefício/custo. Todos os sistemas agroflorestais analisados são economicamente viáveis no planejamento de 10 anos, às taxas de desconto de 6 e 8% ao ano. Estes sistemas apresentaram receitas líquidas negativas até o terceiro ou quarto ano. O sistema agroflorestal capoeira melhorada com Theobroma grandiflorum (Willdenow ex Sprengel) (cupuaçuzeiro) e criação de Apis Melífera L. (abelha) proporcionou o maior retorno  financeiro, podendo ser considerado como uma alternativa sustentável para a prática da derrubada e queima e redução do desmatamento na Região Amazônica. O sistema agroflorestal multiestrata, contendo Cocus nucifera L. (coqueiro) Citrus limon L. (limoeiro), Passiflora edulis Sims (maracujazeiro), Vigna unguiculata L. Walp. (feijão caupi) e Manihot esculenta Crantz (mandioca), foi o que apresentou menor retorno econômico.

Texto Completo: PDF 

segunda-feira, 12 de março de 2012

A Cobra Grande do Timbuí

Belém, 25 de fevereiro de 2012.


Cobra Norato é uma das mais conhecidas lendas do folclore amazônico. Conta a lenda que em numa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna (Cobra-grande, Sucuri), deu à luz a duas crianças gêmeas que na verdade eram Cobras. Um menino, que recebeu o nome de Honorato ou Norato, e uma menina, chamada de Maria Caninana.


Lá no rio eles, como Cobras, se criaram. Honorato era bom, mas sua irmã era muito malvada, um demônio, afogando banhistas, fazendo naufragar embarcações, assombrando viajantes, atacando os animais.


E foi uma dessas Cobras Grandes reencarnando Maria Caninana que provavelmente atacou Seu Armando, lá no médio rio Timbuí, na divisa entre Gurupá e Melgaço, no Marajó, naqueles tempos de pouca gente nos rios, onde a televisão ainda despontava pelo Pará e Brasil afora.


O rio Timbuí é afluente direto do Amazonas, fugindo sinuoso da maresia braba do Grande Rio até os campos, já em terras de Melgaço. Os mururés tomam conta do rio em época do inverno, que ao se somarem à neblina das madrugadas, lança a região algumas vezes ao ano de maneira solitária e misteriosa.


Armando era marreteiro. Vivia de tempos em tempos buscando mercadorias para dentro do rio Timbuí, comprando barato na sede de Gurupá e vendendo caro aos ribeirinhos. No seu batelão, carregava as dívidas de vários compadres, que largavam às vezes toda a sua produção para quitarem as dívidas com ele. Armando estava se tornando patrão e sabia disso.


Na certeza de que cresceria ainda mais na arte do comércio e do aviamento, Armando decidiu fazer viagem das longas. Sua intenção era chegar até Macapá e adquirir barco a vapor, possante forma de ganhar ainda mais dinheiro, reforçando a idéia de que quanto mais veloz o marreteiro se move, maior é a sua influência. E assim partiu.


Três anos depois, Armando voltara. Conseguindo seu intento, assustou a todos com a geringonça que cortava o Timbuí, bem rápido e mais ganancioso a distribuir novidades de roupas, de cigarros, bebidas, remédios, recolhendo dinheiro ou palmito, ou frutos de açaí, ou porcos, ou galinhas. Tudo valia, desequilibrado sempre ao seu favor os valores de troca. Seu maior poder era o fato de agora estar mais bem informado das coisas do mundo, talvez a melhor moeda do marreteiro.


Com o retorno, alguns moradores do Timbuí ficaram contrariados com o aumento da falta de justiça nos negócios de Armando. Mais do que isso, incitava o descontentamento de atravessadores menores que também andavam no rio, já contados que o primeiro tinha ido embora para sempre, cujo seu barracão já estava objeto de negociatas dos novos comerciantes.


E numa dessas saídas de Gurupá para nova prática de marretagem, caiu viagem adentro na noite das mais escuras do ano, sem luar, sem vento, céu encoberto, de Amazonas liso e silêncio que incomodava Armando quando o barco parava. Preferia logo que o motor trabalhasse. Enquanto parado, cantarolava para espantar o medo:


- Chicuã que voa sozinho / vai cantando em longo assovio / e a vida vai esvaindo / do compadre amigo vizinho...


No rio Timbuí, a luz do candeeiro a querosene tentava iluminar um rio que esfumaçava em nevoeiro, de poucos sapos coaxando e grilos aqui e ali conversando. De vez em quando parava para tirar os mururés da palheta que impediam o barco de curvar as várias dobradas que havia. Conseguiu neste vai-pára-recolhe-vai chegar de madrugada no médio rio.


Na capela da comunidade, foi recebido pela Velha Joca, idosa que tinha encomendado tabaco dos melhores a Armando e pagaria com alguns patos gordos que criava. Enquanto embarcavam os patos, Dona Joca comentou:


- Seu Armando, melhor era que o senhor ficasse por aqui pra passar o resto da noite. O tempo tá feio.


- Não dá senhora.  Ainda tenho que chegar lá no alto pra cobrar o velho Totonho. Tá me devendo a criatura faz duas viagens.


- O que se pode fazer amanhã pode adiá o de hoje, né? E olha, sumiu duas crianças só duma vez lá na ponte do Sabá Sarapó. Tão dizendo que é coisa de cobra grande...


- Mas quando, Dona Joca, é afogamento. Só isso.


- Só sei que depois que veio morar uma mulher lá no alto sem marido, sem filho e bonita como só o senhor vendo, não me espanto se é Maria Caninana.


- Maria Caninana?


- É meu filho. É filha de Cobra Grande que vira Cobra Grande e apronta com as pessoas só por maldade.


- Hum-hum.


- Só sei que depois que ela chegou, duas criança sumiu, vi canoa revirada aqui no trapiche sem ter maresia. Seu Neco lá do Baixo disse que viu a água soprá outra noite.


- E eu só sei que tempo é dinheiro, senhora. E eu já to perdendo o meu nessa conversa. Licença – e se foi.


Desamarrando a corda da defesa da ponte, repete o cantarolar:


- Chicuã que voa sozinho / vai cantando em longo assovio / e a vida vai esvaindo / do compadre amigo vizinho...


Dona Joca, ao se afastar, acende o cachimbo e joga recado:


- Deixa de cantar besteira, homi. Não mete chicuã no meio. É ave de agouro.


- Conversa – resmunga o marreteiro partindo.


Na luta por prosseguir no rio tomado de plantas, tenta curvar para enfrentar aquilo que chama de Alto Timbuí. O breu conseguiu ficar mais escuro ainda, com nada de casas a quilômetros de distância e nenhum um sinal de lamparina. O leme travou. Cambava só pra esquerda e se não é pela habilidade do comandante, acabaria mergulhando no aturiá.


- Bando de mururé sacana!


Armando pela quarta vez naquela viagem pulou na água escura do Timbuí para limpar o fundo da embarcação.  Mergulhou e retirou uns dois quilos de plantas só na primeira leva de limpeza. Enquanto empurrava o mato, percebeu o movimento da água maior do que a que seu braço fazia. Dois plás a proa do barco escutou. Cantando desconfiado, deu uma olhada pelo beiço direito e não vira o que causou o barulho.


- Chicuã que voa por cima / já deixou citado a sina / e se foi a linda menina / o meu choro é a chuva fina...


No falar do repetido refrão, algo por baixo dele o levanta até a cintura sair da água, num pulo de matar coração cerca de três metros pra frente. Sem saber o que cavalgara, voltou as braçadas para o barco em metros que pareciam enormes distâncias. Quando tentava subir, uma maresia forte quase o jogou novamente no rio, fazendo-o aterrissar por sobre as panelas de sua pequena cozinha. Na medida em que correu por dentro de seu transporte, a maresia ia e vinha renovada por força que não era vento. E escutou forte assopro como se uma cachoeira fizesse caminho contrário entre o céu e a terra no meio do rio.


Na ânsia de ligar o motor, escorregou a mão, batendo-a no assoalho do barco e pressionada pelo resto do corpo assustado. Mas nem sentiu a dor direito, quando  duas luzes como dois holofotes dos mais robustos navios e um grito rouco iluminaram o ambiente. Deu pra ver os dentes, sentir o odor pitiú e o pequeno barquinho tombando, tombando...


Equilibrando-se no torto que estava, ouvindo um estralo enorme da madeira do pô-pô-pô, num rastilho de coragem tirou o facão da cintura molhado da limpeza, saltitou e jogou-a na direção de um dos grandes olhos iluminados, ferindo-o, chacoalhando ainda mais a situação dos pés. Isso o permitiu rapidamente desatar a corda que prendia a canoazinha que trazia sempre para as ocasiões em que visitavam comunidades e suas praias. Agiu de tal forma que quase se alagou. E remou como nunca tinha o feito antes para longe daquela confusão de fedor e medo. Ofegante, chegou até a terra, atravessando a mata como um desvairado até tropeçar e cair escondido pelo mututizeiro de largas raízes.


Algumas horas depois, sua respiração voltou ao normal. Pensando no que acontecera, tentava achar uma resposta que não havia. Enquanto esperava pela chegada da conclusão e do raiar do sol, brincando de enterrar o remo no chão meteu-se em canção:


- Cabocla linda Maria é / Cabocla feita pra me servir / Maria filha do seu Tomé...


E um grande olho ergueu-se de dentro do igarapé que seguia de frente a Armando.


Lampejo de mordida!


Os sapos voltaram a coaxar. Os grilos a cantar. Uma guariba cantou.


De manhã a moça do Alto Timbuí desconhecida passeava com o ventre cheio, remando preguiçosa...

Pantoja Ramos
Enviado por Pantoja Ramos em 02/03/2012
Reeditado em 08/03/2012



quinta-feira, 8 de março de 2012

Entrevista com Wanderléa Almeida, de Chaves

Caríssimos,

ENTREVISTA COM WANDERLÉA ALMEIDA, SECRETÁRIA DE MEIO AMBIENTE DE CHAVES, NO MARAJÓ.

Para ouvir, clique no link a seguir: http://flipzu.com/MaafMeioambienteacaiefarinha/119334


DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Caríssimas mais do que caríssimas,

Desejo que o ano inteiro vocês possam se sentir suaves, poderosas, valiosas, fortes e fundamentais.

Recebam esta singela flor amazônica como homenagem.

E Viva a Mulher!






quinta-feira, 1 de março de 2012

Dia do Marajó sobre a produção de Arroz em Larga Escala em Cachoeira do Arari

Participantes do Dia do Marajó (promovido pelo Instituto Peabiru,)  em votação simbólica aprovando audiência pública em Cachoeira do Arari.


Objetivo: debater os grandes plantios de arroz na região.


Foto: Suane Melo



Jupati



Nota do autor: Jupati é o nome popular de uma palmeira da família
das Arecáceas (ex-Palmáceas), que ocorre na região Norte do Brasil, especialmemte no estado do Pará em áreas inundadas e pantanosas. Possue troncos multiplos formando touceiras. Após algumas frutificações morre.


Jupati

agosto de 2007,

Tu me eras palmeira,
palmeira dourada
teus braços pro alto jocosa risada de um ser
que queria ser tudo,
ser tudo na vida
tua melodia no dia em que ouviste querida
pra sempre a brisa te sopra,
te sopra na face
quem sabe te ama e pula num rio que passe
por perto do lugar formoso,
formoso que moras
sortudo lugar que te abriga, te cuida e floras
enchendo por dentro de ouro,
de ouro as talas,
teus cachos, teus sonhos que cumpres, morrendo te calas...



Pantoja Ramos
Enviado por Pantoja Ramos em 20/02/2012
Código do texto: T3509550

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/3509550


Novos assentamentos agroextrativistas em Gurupá

Caríssimos,

Vejam esta ótima notícia vinda de Gurupá.

Parabéns ao STR de Gurupá, lideranças, comunidades, movimento social, INCRA.

Grande conquista!!

 ------------------------------------------------------------------------------



O Movimento Social de Gurupá através do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Gurupá, vem agradecer os esforços de todos pela luta em regularização fundiária de nossos territórios, com as reivindicações do Movimento social nos dias 04 e 05 de outubro de 2011 para o INCRA Belém tivemos a honra de receber duas equipes do órgão nos meses de novembro e dezembro  para os levantamentos de ocupação e cadastramento das  familias em RB (relação de Beneficiários).


Com isso nos dias 29/12/2011 foram criados 03 PAEs 01 Ilha Grande de Gurupá com uma área de 304.590,6481 Ha capacidade do Assentamento 1.292 familias 02 Ilha do Gurupaí com uma área de 6.684,5054 Ha capacidade do Assentamento 89 familias 03 Santa Bárbara com uma área de 1.280,5474 Ha capacidade do Assentamento 27 familias, esta luta continua para o melhoramento das familias do meio rural por mas políticas publicas são diretos garantidos. Portanto queremos agradecer ao INCRA pelo desempenho do trabalho feitos nesses meses em nosso Município.



Heraldo Pantoja da Costa 
Presidente do STTR de Gurupá
(notícia de 24 de fevereiro)



Ilha de Santa Bárbara. Foto: FASE