sábado, 22 de setembro de 2018

Crônicas, Passageiro: o líder que tu escolhes



Belém, 3 de setembro de 2018.

Esta crônica é o ajuntamento de fatos e impressões das conversas de nosso tempo. Talvez seja 18% representativo. Mas sinceramente, tomara que não. Se tal percentual nos ronda, perigosamente podemos acordar e ver nossas portas marcadas como assim tiveram os judeus. Não diga que estou exagerando. Com isso não se brinca. A história por mais que seja tratada com chacota pelos espíritos ruins, dá a volta e rebelde que é  (quando encontra a amiga Verdade),  mostra-se implacável. Não brinquemos.

Eis que volto de Uber. Papo com o jovem motorista, menos de 30 anos e sai a provocação política: "eu concordo com o Bolsonaro, é muita burocracia pra se ter uma arma. Enquanto isso, a bandidagem anda solta". Um caminhão entra na nossa frente, num cruzamento. O motorista do Uber e do caminhão trocam 1 minuto de xingamentos, cotocos e falsas arrancadas com os veículos. "Desculpe, senhor, eu não sou assim normalmente, sou um cara calmo". Olhei pela janela as pessoas passando rapidamente na vista em suas batalhas e disse "se uma arma sem burocracia estivesse na sua mão ou na mão do motorista daquele caminhão, haveria real chance de 'sobrar' pra ti, pra ele e quem sabe até pra mim, que só observava vocês". O jovem motorista ficou calado no restante do percurso. Será que ofendi? 

E o que dizer do homem que entrou na casa da pobre senhora em seus setenta e poucos anos, que cuidava dos netos, enquanto a mãe solteira daqueles meninos, naquele bairro da periferia de Belém, estava na lida. Truculento, vociferou para a idosa mulher: "Mulher, eu sou da Milícia e vim aqui atrás do celular da minha mulher que roubaram, o GPS diz que ele tá por aqui! !". A senhora respondeu, "a gente não sabe dessa coisa, aqui não se faz isso, vá embora". "Cadê teu marido? ??". "Ele já é falecido, vá embora por favor que os meninos estão com medo ". "Mulher que não tem marido merece ser estuprada! !". Saiu batendo porta afora, já invadindo outra casa na procura por seu dito. Só parou porque a polícia apareceu e o prendeu, antes que os traficantes chegassem, pois a notícia já se espalhara pelas ruas esburacadas do bairro.

Sempre que vou à feira, vejo homens ali reunidos em uma barraca, no assunto de carro prata, comentando o noticiário policial. Comemoram sempre quando saem reportagens da morte nas quebradas da capital. Sorrisos sádicos. É meio teatral o negócio,  vou lá duas vezes por semana e os pego nos mesmos assuntos: assassinatos, assaltos, "encomendas". Na última vez, estavam na expectativa de mais uma declaração do rádio kafkiano sobre o carro prata. "Morre policial que levou 3 tiros de um desconhecido que circulava num carro descrito por testemunhas como de cor prata...". Calaram. Saíram sorrateiros para cada serviço seu.

Nas campanhas eleitorais, homens que simulam tiros, que gritam em favor do armamento das pessoas, que incitam o ódio, que elogiam torturadores, que defendem assassinos de camponeses, que mandam intervir no morro lá de suas mansões.



Se esses são seus líderes,  pessoa pobre como eu, então te chamo de franguinho da Sadia. 

Fazes propaganda pro seu próprio carrasco.



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