Belém,
07 de maio de 2013.
Caríssimos,
Primeiramente convêm informar que esta mensagem é dirigida aos homens e
mulheres de amanhã. Pois para entender o tema aqui escrito não se pode pensar
somente no hoje, mas entender matematicamente os efeitos da decisão de alguns
em detrimento das reservas daqueles que serão os condutores dos futuros
processos de manejo florestal madeireiro.
Mulher e homem do ano de 2043 que lidam com a floresta, no ano que escrevo
ainda se falam e ainda se aprovam planos de manejo florestais utilizando aquilo
que nós chamamos de UPA Única. A despeito do que preconiza o manejo florestal
em seus princípios quando se refere ao ciclo de corte para extrair madeira (o
que para vocês futuros serão regra geral), em nossa época faz-se as operações
de exploração madeireira em uma única área e de uma só vez. Assim, por exemplo,
em uma área licenciada em 2013 de 1000 hectares, a depender da intensidade de
exploração, no exemplo aqui, permitam-me, de 20 m3/ha, 20 mil metros cúbicos
seriam explorados com toda força do imediatismo. No ano vindouro outra área
seria procurada na mesma garimpagem. E assim, e assim...
As UPAs Únicas foram criadas para atender o mercado madeireiro que não tinham
terras regularizadas suficientemente para cobrir um ciclo de 25, 30 ou 35 anos.
E com o caos fundiário do Estado do Pará em todo século XX e início de século
XXI, o que era para ser exceção virou regra e assim as UPAs Únicas viraram
moda, repetidas em vários cantos da Amazônia. Licenciadas ambientalmente pelos órgãos
ambientais. Não monitoradas tecnicamente como deveriam. Um atraso para a
ciência florestal. A mata não fora valorizada como merecia. Relato para vocês
que muita exploração madeireira houve nas primeiras relações empresas x
comunidades sem levar em conta a opinião lá na frente das famílias e arrisco
prever o homem e a mulher de amanhã olhando para o passado ao avisar-nos:
- Ei! Não tirem de uma vez! Tirem pouco a pouco, ano a ano para fazer se o
manejo funciona!
- Espera! Não derrubem tanto piquiazeiro porque hoje (em 2043) o fruto virou
joia valiosa no mercado internacional.
- Puxa vida, pegaram muito dinheiro de cara, mas não estavam preparados para
administrar. Cabô cedo o que saiu da mata! Até hoje não temos floresta rica
como teve nosso avós.
- Se houvesse cuidado dos antigos, não teríamos que contingenciar a extração da
maçaranduba e do angelim. O acapu tá proibido!
- Quanto estrago se viu na mata.
- Mãe, o que é um tamanduá?
Pois é. Como um único ano em uma comunidade decidiu 30 anos? Por que se
arriscou tanto? O interesse de um foi a madeira, o do outro era viver da terra
e da floresta. O Estado Brasileiro diriam vocês do futuro: “foi o grande
responsável pela omissão, pela falta de educação”.
As concessões florestais nasceram em 2006 para dar disciplina à atividade da
madeira, porque vocês de 2043 não imaginam o quanto se deixou de arrecadar com
a floresta com a extração em área pública. Se deu certo a política das
concessões, ofereçam parabéns aos que lutaram. Se não deu, elogiem a intenção
dos pobres deste tempo em tentar dar uma solução ao problema madeireiro.
O que espero realmente que vocês de 2043 digam para mim que a luta pela
regularização fundiária em favor das comunidades não foi em vão. Que não se
aproveitaram os oportunistas para perpetuar a prática da UPA Única e do
desmatamento, só pela madeira, só pelo dinheiro, sem pensar no bem-estar das
pessoas como vocês.
Seria bom que vocês mesmos das comunidades estejam tocando as operações de
manejo florestal em 2043. Ah, seu filho deseja ser engenheiro florestal? Que
legal! Ah, sua filha está se formando em medicina e quer se especializar em
saúde socioambiental? É bom saber que seu sobrinho está fazendo faculdade de
engenharia química com monografia sobre óleos de essências florestais na
universidade federal do Marajó, campus de Afuá. Curralinho tem um dos maiores
PIBs do Pará por causa das exportações de frutos de açaí manejados e com
floresta de rica biodiversidade.
Se acertei, obrigado, não foi nada. Se não, desculpem-me pelo excesso de
esperança no amazônida. O otimismo me tem sido boa enfermidade.
Pantoja Ramos