domingo, 31 de janeiro de 2021

Ei Balsa! Volta Aqui! Portel Madeireiro 2019

 Caríssimas e Caríssimos,

 

Por meio desta publicação, trago números novos sobre a exploração madeireira em Portel referentes ao ano de 2019, disponível na página do IBGE na internet[1].


O volume de madeira identificado pelo IBGE para 2019 foi de 1 milhão de metros cúbicos. A receita gerada desta exploração foi estimada neste ano em 250 milhões de reais com a comercialização de madeira em tora.


Somando-se os valores de receita movimentada com a exploração de madeira entre os anos de 2009 e 2019, tem-se R$1.938.825.000,00. Para se ter uma ideia do quão vultosos tais valores, o município de Portel no mesmo período (2009-2019) recebeu do Governo Federal, de acordo com o Portal da Transparência[2], o montante de R$ 834.778.034,49. Isso significa que a movimentação de receita em madeira em tora em 11 anos de registro foi 2,3 vezes maior que o investimento da União em Portel.



 

Ei Balsa! Volta aqui...




sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Crônicas, Passageiro: a tragédia dos deterministas

 

Belém, 29 de janeiro de 2021.


Fui ao mercadinho comprar ovos.

Porta de acesso pequena.

Um homem sem máscara estava por ali batendo um final de papo. 

Esperei ele sair.

Quando ele sai e vou entrar, surge de repente um jovem correndo (sem máscara) adentrando na mesma porta.

Recuei.

Balancei a cabeça em negação e agora sim entro no mercado.

Lá fora, aquele homem que vi na porta subiu em sua bicicleta e esbraveja em minha direção para assim partir:

- Usa tua touca, rapá, quero saber se tu vai morrer de máscara!!

Não respondi. Comprei os ovos e saí calado, pensando nesta cruel filosofia espalhada pelos deterministas da Morte.



segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Um familiar de todos nós


Eu não o conheci pessoalmente.

Que jeito burocrático de dizer, não, não!

Vou consertar.

Eu o conheci enquanto pessoa.

E admirei que um juiz pudesse assim descer para o povo e fazer graça.

A graça que nos aliviava os dias. 

O sumano que me era familiar, parecia um irmão, parecia ser um primo ou aquele amigo que de vez em quando aparece pra contar fatos engraçados e potocas na cerca da sua casa.

Que oferecia sua risada gostosa para a gente "discunforme" rir também. 

No barco, na estrada, na rabeta, no avião, lá longe, onde estivéssemos, sua voz ressoava para nos lembrar de nossa sagrada caboclice.

Por isso ele é agora sagrado.

Tanto Cláudio Rendeiro, quanto Epaminondas Gustavo.


Ó, ispia!

Lá vai ele subindo no açaizeiro pra pegar aquele cacho no céu!

Escutem a gargalhada farta da alegria amazônica que somos.

Agora ele olha por nós como estrela que sempre foi.



Que fiques bem, sumano.





terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Companital-86: marcação pra virar o jogo

A camisa tinha o tamanho de um vestido em mim. Eu, pequenino, só teria as duas mãos de fora, a canela e os pés. O resto do corpo estava envolto por aquela camisa amarela surrada, timinho de futebol para jogar atrás do Ginásio de Monte Dourado, num campo de areia não tão pedrado quanto o famoso "sangue de areia", porém suficiente pra ralar qualquer joelho.

Eu nem iria escrever hoje. Sei lá. Estou pra baixo. Influenciado pelo aumento vertiginoso dos casos de Covid-19 no país. Sentei aqui na frente do computador a ensaiar uma tecladas até deixar o momento me levar. Faria uma montagem-charge? Faria um áudio da Rádio Buca da Noite? Não, não, sem vontade. Lembrei-me desse primeiro jogo meu, em 1986, na ideia que eu seria atacante. Saí de casa todo animado pra esse jogo das cinco da tarde para estrear na ponta-direita. 

"Lá vai Carlinho, rápido, insinuante, guisa pra cá, guisa pra lá, é muita habilidade... Uóooooo grita a torcida. Olé. Olé. Parece o Renato Gaúcho".

Pára.

Renato Gaúcho é Bolsonarista. Vai pra lata de lixo da História.

...

Tanta gente a nos sufocar hoje em dia. Atacando-nos de todas as formas, em todas as almas.

E eu, Carlinho, naquela memória pendurada na árvore do Jari, fui indicado pelo arremedo de técnico do meu time a não ser atacante e sim lateral-direito. 

"Carlinho, Tu vais marcar aquele lá, o Gilberto".

Esse sim um pequeno craque. 

Minha expectativa de driblador murchou. Franzi a testa chateado. Fazer o quê? Vou marcar o tal Giberto. E pelas embaixadas na hora do aquecimento, o cara era fera.

Na primeira bola que disputo, recebo um balão. Os homens do alambrado gritam "OLÉ!". Fui novamente: bola debaixo das pernas. 

"OLÉ".

No início até pensei que teria uma crise, daqueles meus arroubos, sentar no chão e chorar; ou sair quebrando tudo pela frente. Resolvi que não. Segui no jogo. 

Drible da vaca (que chamávamos "chagão"). O moleque corre muito!

Chapéu (diferente do balão, que é mais alto).

Guisa de Gilberto pra cá.

Guisa de Gilberto pra lá.

Caí de bunda no chão numa freada de bola que ele deu.

Os homens no alambrado rindo de mim. Gargalhavam. "Pede pra cagar e sai!!". Gritavam.

O jogo rolando. Fim do primeiro tempo.

Começa o segundo tempo.

E num momento tocante à todos simultaneamente, os expectadores barrigudos do alambrado começaram a perceber que o jogo estava empatado e que Gilberto só firulava, driblava-me sim, mas não prosseguia muito perto da trave, eu sempre na perseguição. Não dei pernada. Não fazia falta. Perseguia, perseverava. Atrapalhava, chutava pra lateral. De repente Gilberto cansou-se, estava sem paciência, pois eu não o largava. Eu sei que individualmente estava sendo humilhado, mas o foco de marcação não me abandonava. 

O jogo terminou empatado. Gilberto não fez gol. Olhou pra mim, passou a mão na minha cabeça, meio carinho, meio alertando. Admitindo que eu não desistia fácil.

Os homens do olé passaram a grunhir comentários. Alguns me elogiaram. Talvez eu tenha virado o jogo das opiniões quando Gilberto e eu fomos atrás da bola e juntos demos com as caras na cerca de arame demonstrando que o esforço estava nivelado. Falávamos de brio na atitude.

O brio de quem está sendo driblado pelos acontecimentos como os de hoje.

E caído por ter sido driblado vergonhosamente pela estupidez das pessoas na pandemia que nos assola, eis que o menino Carlinho me chama pro jogo.

Tá certo, Milton, "... toda vez que o adulto fraqueja, ele vem pra me dar a mão...".


Aí, você que me lê, deixa a tua criança te levantar.


Bora pra luta.





segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Lamberto, o Traumatizado: Jesus não é verbo?

Lamberto, o Traumatizado foi comprar pão. Encontra um senhor idoso sem máscara no caminho.

"Senhor, use máscara pra se proteger. O negócio tá pegando...".

"Não tenha medo, tenha fé! Não tenha medo, fé" - respondeu o senhor com ênfase.

"Tenha fé e cuide dos outros também".


Saiu resmungando...

Sem máscara.






Sem traumas (?).





sábado, 2 de janeiro de 2021

Companital-86: prefácio

Belém, 2 de janeiro de 2021.


Filha, estamos em 2021 e quando criança, lá em 1986, eu jurava que veria agora carros voadores. 

Filho, constato que estamos mais para Mad Max do que para Jornada nas Estrelas. Bacurau no meio desta estrada.

E por que eu decidi escolher o ano de 1986 para contar memórias minhas? Entre os possíveis motivos que sondam a minha mente, martelam o fato que neste dito ano tudo clareou, fixou-se, sinalizou que eu estaria saindo da infância para uma pré-adolescência, onze para doze anos de idade, nem lá, nem cá. A primeira confusão realmente mental, nem tanto influenciada pelos hormônios e sim principalmente pela curiosidade e grandeza dos fatos, para o bem e para o mal, que chegaram-me. Confesso que a morte recente de Maradona influenciou pela decisão de escrever sobre Monte Dourado, região do Rio Jari, município de Almeirim, divisa entre os estados do Pará e Amapá, driblada a minha timidez junto com os zagueiros ingleses naquele golaço de El Pibe. O nome primeiro eu já tinha ensaiado: Companital, auto intitulada variação do termo Company Town, aquela que seria a cidade, a vila de uma empresa.   Aqui no Pará eu conhecera além de Monte Dourado, a Companital Vila dos Cabanos, em Barcarena; e a Companital Carajás, no sul do Estado. São lugares, como o nome já explica, em que a vida gira ao redor das indústrias que os construíram e cuja rede de relações sociais é profundamente marcada pelo efeito do trabalho nestas firmas e vice-versa.

Companital já estava acordado há tempos entre as partes que envolvem meu pensar e meu teclar. O acréscimo 86 veio-me das imagens ainda coloridas da Copa do México e do Rock In Rio! Ahhhh, eu já queria ser jovem! Era um frangote que tentava sem sucesso me destacar no papo dos mais adultos e que frustação de ser colocado no meu devido lugar, menino de cara lisa sem um fio de bigode ainda. No ano anterior, 1985, a Organização das Nações Unidas o decretara como Ano Internacional da Juventude. Virou o ano e eu mantive a sensação de ainda estarmos celebrando os jovens mundialmente, afobação que me bagunça a mente. Portanto, se eu misturar fatos ocorridos em outros anos, favor desculpar a minha equivocada linha temporal. Talvez lance pitadas de 1984, 1985 e até mesmo até 1989, mas fica por aí. Sei da década vivida perfeitamente balizada no meu cognitivo, cujo símbolo dos sentimentos vários que tive está representada no ano de 1986. 

Assim, fica: Companital-86. Fiz a checagem. Título escolhido: certo. Período da vida abordado: certo. Quando escrever... Hum? E agora? Não estava certo de quando começar e aí tenho que informar que sou muito fiel ao que leio ou escrevo porque realmente crio verdadeiros relacionamentos literários com minhas obras. Muitas pessoas conseguem ler vários livros ao mesmo tempo, escritores produzem mais de um livro simultaneamente e eu gostaria muito de também ter tais características profícuas, mas não. Mantenho o foco nestas construções e como tenho um projeto de livro (já iniciado) para 2021, veio o dilema. Chamei pelo gênio que me acompanha, minha esposa Neri:

"Amor, estava pensando, que tal se eu fizesse uma série de textos como crônica para falar de Monte Dourado? Desse jeito, acho possível conciliar com o outro livro sem causar conflitos a mim mesmo. O que você acha?".

O gênio respondeu envolto em uma nuvem cheirosa de café:

"Parece que já tens a resposta. Então por que perguntas?".

Gênio magnífico me acompanha. Não tenho dúvida que a voz do gênio que perseguia Sócrates era na verdade de sua esposa, Xantipa.



Pronto! Companital-86 caminhará.