Belém, 2 de janeiro de 2021.
Filha, estamos em 2021 e quando criança, lá em 1986, eu jurava que veria agora carros voadores.
Filho, constato que estamos mais para Mad Max do que para Jornada nas Estrelas. Bacurau no meio desta estrada.
E por que eu decidi escolher o ano de 1986 para contar memórias minhas? Entre os possíveis motivos que sondam a minha mente, martelam o fato que neste dito ano tudo clareou, fixou-se, sinalizou que eu estaria saindo da infância para uma pré-adolescência, onze para doze anos de idade, nem lá, nem cá. A primeira confusão realmente mental, nem tanto influenciada pelos hormônios e sim principalmente pela curiosidade e grandeza dos fatos, para o bem e para o mal, que chegaram-me. Confesso que a morte recente de Maradona influenciou pela decisão de escrever sobre Monte Dourado, região do Rio Jari, município de Almeirim, divisa entre os estados do Pará e Amapá, driblada a minha timidez junto com os zagueiros ingleses naquele golaço de El Pibe. O nome primeiro eu já tinha ensaiado: Companital, auto intitulada variação do termo Company Town, aquela que seria a cidade, a vila de uma empresa. Aqui no Pará eu conhecera além de Monte Dourado, a Companital Vila dos Cabanos, em Barcarena; e a Companital Carajás, no sul do Estado. São lugares, como o nome já explica, em que a vida gira ao redor das indústrias que os construíram e cuja rede de relações sociais é profundamente marcada pelo efeito do trabalho nestas firmas e vice-versa.
Companital já estava acordado há tempos entre as partes que envolvem meu pensar e meu teclar. O acréscimo 86 veio-me das imagens ainda coloridas da Copa do México e do Rock In Rio! Ahhhh, eu já queria ser jovem! Era um frangote que tentava sem sucesso me destacar no papo dos mais adultos e que frustação de ser colocado no meu devido lugar, menino de cara lisa sem um fio de bigode ainda. No ano anterior, 1985, a Organização das Nações Unidas o decretara como Ano Internacional da Juventude. Virou o ano e eu mantive a sensação de ainda estarmos celebrando os jovens mundialmente, afobação que me bagunça a mente. Portanto, se eu misturar fatos ocorridos em outros anos, favor desculpar a minha equivocada linha temporal. Talvez lance pitadas de 1984, 1985 e até mesmo até 1989, mas fica por aí. Sei da década vivida perfeitamente balizada no meu cognitivo, cujo símbolo dos sentimentos vários que tive está representada no ano de 1986.
Assim, fica: Companital-86. Fiz a checagem. Título escolhido: certo. Período da vida abordado: certo. Quando escrever... Hum? E agora? Não estava certo de quando começar e aí tenho que informar que sou muito fiel ao que leio ou escrevo porque realmente crio verdadeiros relacionamentos literários com minhas obras. Muitas pessoas conseguem ler vários livros ao mesmo tempo, escritores produzem mais de um livro simultaneamente e eu gostaria muito de também ter tais características profícuas, mas não. Mantenho o foco nestas construções e como tenho um projeto de livro (já iniciado) para 2021, veio o dilema. Chamei pelo gênio que me acompanha, minha esposa Neri:
"Amor, estava pensando, que tal se eu fizesse uma série de textos como crônica para falar de Monte Dourado? Desse jeito, acho possível conciliar com o outro livro sem causar conflitos a mim mesmo. O que você acha?".
O gênio respondeu envolto em uma nuvem cheirosa de café:
"Parece que já tens a resposta. Então por que perguntas?".
Gênio magnífico me acompanha. Não tenho dúvida que a voz do gênio que perseguia Sócrates era na verdade de sua esposa, Xantipa.
Pronto! Companital-86 caminhará.
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