Belém, pensando no rio Pará, 26 de setembro de 2021.
Peço passagem.
Volto a viajar após 18 meses, resultado dos impactos da pandemia de Covid-19 que a todos afetou e comigo evidentemente não seria diferente. Dou graças aos céus por até o momento não ter ninguém adoecido gravemente em minha família. Somente Neri inspirou maiores cuidados, ela que chegou a ter 30% do pulmão comprometido e que se não fosse uma talentosa médica que a atendeu, talvez sofresse real perigo de morte. Ficou acamada, isolada, cuidada, cercada de amor e após 20 dias, teve alta.
E seguindo nesses zelos, consegui abrir espaço para o sentimento de indignação e justiça, olhos fixos quando penso como BolsoDeles e sua horda serão punidos, porque certamente serão por seus crimes. Vista alerta também para os seus cúmplices, circulantes de nossas ruas, praças, feiras e salas de jantar, capazes de promover massacres enquanto bradam pela Pátria ou por Deus de tal maneira que parecem ser arrotos das almas sebosas que adquiriram ou sempre tiveram.
Eclodiram o que há de pior na gente.
Quando entrei na embarcação rumo a Breves e de lá para Portel, senti-me realmente mascarado, quase um fora-da-lei tal a quantidade de rostos desprotegidos, apesar das recomendações científicas. Embebidas as mãos de álcool, caminhei dentro do navio com um infravermelho mental tentando ver cada parte da embarcação contaminada, calculando a metragem de distância entre os passageiros até atar minha rede confortavelmente separada das demais pessoas. O navio ao numerar os pontos de escápula, ajuda a diminuir os riscos.
É estranho ter que pensar assim, logo eu que fico à vontade com o contato humano e nunca me preocupei com o entrelaçado das redes. Ao contrário, achava legal aquela muvuca. Só evitava os flatulentos (risos).
E desconfiado escondido na minha baladeira, eis que revi o Rio Pará.
Rio Pará que não é rio. Peguei o celular, achei o PDF do poema que fiz e li como se fosse oração:
Rio Pará
Rio Pará que não é rio
Leve-me pra longe
Das coisas ruins da vida
Navegue navegue navegue
Vazante vazante vazante
Vazante é meu olhar pra ti
Sobe um turbilhão de água
Sobe um turbilhão de mágoa
Rio Pará que não é rio
Diga que sou inocente
Das coisas que na terra fiz
Vai barco vai barco
Leve-me à liberdade
Decidido é meu olhar pra ti
Bate-me um forte vento
Bate-me um contentamento
Penso num banjo
A tocar para mim
Tá dizendo em suas notas
Que a vida segue
Rio Pará
Pára o rio
E começa a encher
Navego navego navego
Enchente enchente enchente
Enchente é essa fé em mim
E terminada a meditação, reparei na minha rede bastante puída, desbotada.
- Tenho que comprar uma rede nova, pois o tempo requer. Hummm...A Humanidade também carece de uma nova rede.
Uma rede, um rio, esperança, outro caminho.
Anotei aqui.