sábado, 29 de junho de 2019

Crônicas, Passageiro: Tapete de Pele de...





         Que interessante receber convite do Centro ARCORES, de Portel, local cativante que possui várias ações educacionais para as crianças portelenses. Naquela tarde do dia 13 de junho conversei com os voluntários deste centro sobre literatura e filosofia. Não sou formado em literatura, nem formado em filosofia, mas nos permitimos debater ao vento essas duas ciências já que tantos livros ali estavam na estante à disposição dos pequenos leitores.

         Falamos sobre Anne Frank (“O Papel Tem Mais Paciência do que as Pessoas” foi uma frase que Frei Manoel gostou muito), sobre Carlos Drummond de Andrade, sobre Paulo Freire. Decidimos fazer um exercício de discutir a nossa realidade a partir do primeiro livro que escolhêssemos na estante, um exercício paulo-freiriano.

“Hummm, deixa ver... vejam esse título: TAPETE DE PELE DE TIGRE. Um livro interessante, mas me digam, vocês já viram uma pele de tigre?”.

“Eu nunca vi”.

“Aqui tem tigre?”, começamos a série de perguntas.

“Não, não tem”, lá do fundo responderam.

“E se pudéssemos mudar o nome deste livro, com todo o respeito à boa intenção do autor que escreveu o livrinho? Se ao invés de Tapete de Pele de Tigre fosse Tapete de Pele... de Pele...”.

Um voluntário do fundo da sala respondeu:

“Pele de comboia!”.

Todos riram.

Que interessante. Tapete de Pele de Comboia. Rrssrsr.

“O que é uma comboia?”, perguntou uma moça.

“Uma comboia é uma cobra”, respondeu um jovem.

“Ela é venenosa?”.

“Deus-o-livre, é sim!!”.

“Onde ela vive? Em que tipo de mata?”.

“Ela vive em terra encharcada, nas matas de várzea e igapó”.

“Como o senhor sabe disso?”.

“Porque eu já tirei muito açaí e sei disso”.

“Alguém que o senhor conhece já foi picado de comboia?”.

“Ixi, se foi, um amigo meu foi batido de comboia e veio pra Portel”.

“O que aconteceu com ele?”.

“Ele quase perdeu a perna, mas deu tempo de chegar na cidade e tomar o soro”.

“Graças!”.

“Ele voltou a trabalhar?”.

“Ficou difícil pra ele, ficou de benefício, mas acho que ele vai se aposentar”.

Uma voz da frente se posicionou:

“Se ele se aposentar, não viu o que diz essa Reforma lá no Congresso??”.

“Que reforma?”.

“A da Previdência!!”.

Silêncio pairou. Do Tapete de Pele de Comboia chegou-se até Brasília.

O assunto correu para a Reforma da Previdência. Informação, esclarecimentos. Entendimento sobre o jogo e os jogadores deste país que teima em não ser nação.

Voltando-me para a literatura, escrevi no quadro um poema de Drummond:

Tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha...”.

“Um Buraco!”.

Palmas para quem entendeu a sua realidade!

Clap-Clap-Clap...

Pantoja Ramos.



terça-feira, 18 de junho de 2019

Jordana


Todo estudante pobre é um resistente nos dias de hoje. Assim considero todos os estudantes do Marajó.

Na vontade de um jovem que busca um futuro sossegado mesmo contra um sistema que não dá vida fácil a quem luta simplesmente por dignidade.

Por isso a tragédia que ocorreu na BR ceifando a vida da jovem Jordana de Melgaço é tão sentida. Pais, mães, irmãos, irmãs, amigos, amigas, professores, professoras sabem deste sonho que aparentemente é individual, mas na verdade é coletivo.

Uma saudade coletiva, um ato de solidariedade, o desejo de se esforçar mais nos estudos em honra à Jordana, do pobre município de Melgaço que nem sabe da riqueza que possui pela quantidade de sonhos que carregam jovens como nossa querida estudante marajoara.

Que os céus a recebam.

Jordana?

- Presente!