quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Para os piedosos de si mesmo, a Peconha



Almeirim, 20 de julho de 2014.



Mais moeda me pede
Centavo que és
Como posso te deixar ir
Sem ao menos te dizer

Eu te dou, mas oferto peconha
Pouco tenho, mas faço a peconha
Quer açaí então pega a peconha
Quando desceres terá mais vergonha

Pára de ser vítima
Indigente que és
Enquanto eu tô na lida
Ficas nessa besta queixa

Faz o seguinte, pega o matapi
Vê se te mexe, vai com o matapi
Camarões pulam de seu matapi
Até os pequenos lutam no fim

Não deixe que traíra vença tão fácil assim
Conheci porcos que varavam roçados na cara de macaco

Vai trampar, é suor de farinha
Deixa a frescura, suor de farinha
Pra resultado, suor de farinha
Te sai amoado da vida mesquinha

Caiu uma manga no jirau da tua cozinha
Pra plantar o abacaxi tem que ter a parte da mucura

Tá com pressa? Óleo de andiroba
Teu remédio é a pura andiroba
Paciência, óleo de andiroba
Que escorre só quando escolhe a hora
Pantoja Ramos
http://www.recantodasletras.com.br/poesias/4889075


terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Crônicas do Corte: Uso de Madeira Para Fins Sociais



Em 1998 consegui o título de engenheiro florestal pela então Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, hoje Universidade Federal Rural da Amazônia. Somadas as frases de colegas mais novos do tipo "nossa, você é do tempo da FCAP!", com a recente "agora você é vovô", cai uma ficha do tamanho de uma roda de caminhão que não está ali mais um jovem e potencial engenheiro. Putz, o tempo passou.

De uma base em estatística intensa (hoje quase diluída), matematizada de equações de crescimento e projetada para plantações de florestas nativas e manejo florestal madeireiro empresarial, minha formação sofreu uma guinada ao decidir por Gurupá, no Marajó e não tentar a continuidade de um doutorado quem sabe no exterior. De uma minoria que éramos, surgia naquele final de anos 1990 e inicio de anos 2000 o grupo de engenheiros florestais que desejavam o manejo florestal comunitário na Amazônia.

E dessa opção, confesso, mais aprendi do que ensinei. De mestres trabalhadores e trabalhadoras rurais, tenho conversado bastante sobre o mundo, suas físicas e metafísicas. Tudo muito natural de ser absorvido na ciência florestal que exercitava. E viajando, olhando, reparando, percebia no interior a comercialização de madeira como algo que poderia gerar grandes receitas para o próprio local. Ponta do lápis, cadernos, calculadoras, comparação com a Instrução Normativa do IDEFLOR sobre preços de madeira em pé, eis que milhões de reais anuais de nossas florestas acabam sendo subtraídos de municípios inteiros sem a devida arrecadação. Mas isso muitos já sabem, ou se não sabem, já desconfiam.

Como militante de que o manejo florestal comunitário poderia ser uma alternativa viável de desenvolvimento local, ajudei na elaboração de planos de manejo comunitários sempre no propósito da venda. Nos comitês de defesa desta modalidade, palestras, esta era sempre a ideia. Porém, foi numa visita a uma família no rio Acangatá, em Portel, que tomei o susto: antes de vender, estruturar; antes de sair, ficar. O resultado de alguma experiência adquirida no assunto.

Uma casinha ali de uma parede em meio a centenas de balsas das madeireiras indo e vindo com toras de ipê, angelim, maparajuba, verão a verão. Então, como o manejo florestal comunitário e familiar que eu defendo poderia conviver também com a casa de comunitários de apenas uma parede? Não se pode repetir o que tem sido feito pelo grande capital,


Uma casinha, 
solitária,
naquele rio
de uma parede
na sua prece
pros homens pede
"por que não aquece
a minha dona?
Tão senhorinha,
tão pobrezinha,
algumas tábuas
pra aquele quadro,
pra sua rede
tão desbotada.
Um assoalho
para seu neto,
ali brincar,
e saltitar
e um lambril,
para contar
que a sucupira
fofocar".

Uma casinha
acolhedora
pra uma mulher
trabalhadora...



Nossa proposta sempre foi outra, de um manejo florestal comunitário e familiar como agente de desenvolvimento local, mas no limpo, não tem atuado na melhoria das residências.

Casa de ferreiro, espeto de pau? Casa de manejador, casas malmente casas?

As associações comunitárias não podem obter lucro com a venda de madeira segundo sua composição perante a lei, o que não as impediria de fazer manejo florestal comunitário para estruturar as casas de seus associados, cumprindo o papel social das florestas, como assim prevê o Novo Código Florestal (artigo 23). Mas para tal, há de existir o conhecimento, há de ter o manejo florestal em prol do que é essencial para os agroextrativistas: uma casa digna.

As políticas públicas existem para a habitação rural.

As técnicas de manejo florestal também.

A organização social persiste.


É momento de construir uma nova casa para o manejo florestal comunitário e familiar na Amazônia.

Falamos da Floresta.

Falamos dos Bens e Serviços da Floresta.

Nunca mais uma casa de uma só parede para uma família.

Se é para voltar a ser jovem e militante, vamo lá!