Caiu mais uma árvore de angelim vermelho. E o preço dela pago na hora
pelo madeireiro foi de 50 reais a árvore. Para o velho piquiá, pagou-se não mais que 30 reais. E se pergunta ao
extrativista, ao amazônida, ao brasileiro: quanto vale a floresta?
Se pararmos
pra pensar um pouco, tal qual na parábola dos talentos, a sociedade brasileira
tem algo valioso que não sabe cuidar. Talvez a maior pobreza da nação seja não
reconhecer a riqueza que temos, esvaindo-se ela em balsas de toras que somem
pelo rio, levando tudo, não deixando nada.
E como
pode um angelim de 10 metros cúbicos de volume ser vendido a 50 reais?!
Oficialmente, pelas normas do Pará, seu valor é no mínimo de R$51,12 o metro
cúbico da árvore em pé. Ou seja, ao menos R$511,20 vale este indivíduo,
patrimônio da floresta pública. Se explorado e transportado, vá lá, perdendo
30% de seu volume e passando a 7 metros cúbicos aproveitáveis, com valor em
tora de R$170,00 o metro cúbico, o valor da árvore exemplo passa a ser de
R$1.190,00.
Contra
os 50 reais
arrematados pelo madeireiro.
Ao considerar que 40% se perde no
beneficiamento (passando de 7 metros cúbicos em tora para cerca de 4 m3 de madeira processada), a um valor de R$ 600 pago pelo mercado pelo metro cúbico serrado, a mesma árvore de
angelim chega ao consumidor a um preço de R$2.400,00.
Contra
os 50 reais comprados na informalidade
e na falta de informação.
Agora, multipliquem esta situação às
inúmeras retiradas de madeiras clandestinas em nossa Amazônia. São milhões e
milhões de reais furtados dos cidadãos amazônicos por ganância de uns em
detrimento de milhares de famílias agroextrativistas. Imagine-se o quanto se
perde no avanço do desmatamento. Não se trata apenas de crime ambiental: é
crime socioambiental por tirar economia da geração vindoura.
Entretanto, há esperança como sempre no amanhecer
do dia. Gente que reconhece, por exemplo, que é melhor investir em frutos de
açaí do que decepar palmito sem planejar o futuro. Que faz a conta das mais
simples: se um açaizal tem 600 touceiras em 1 hectare, com 2 estipes produtivos
no mínimo a produzir cada um meia lata de frutos, recebe ao final a vitória de
ter 600 latas por hectare. Disseram-me que no rio Canaticu, Curralinho, em 2011, a média de preços da lata foi de
R$10,00. Ora, nada mal termos 6 mil reais por hectare com a valorização de
frutos do açaí!
E se
cuidássemos da copaíba? Pois seu Pacatuba, lá do Moju, me diz que
encontra do tipo vermelha que produz fácil 15 litros de óleo. Se o litro é
vendido a 60 reais nos mercados, é mais viável derrubar copaíba pela madeira ou
aproveitar o seu medicinal óleo? Neste exemplo, são R$900,00 de três em três
anos que se pode ter.
E se contássemos o que tem na mata?
Tenho certeza de que teríamos outra postura diante de toda destruição
existente. Em 100 hectares inventariados em Portel, estudos do Instituto
Floresta Tropical encontram potencial de receita vinda de manejo florestal comunitário
em 250 mil reais por ano para madeira em pé, 750 mil reais por ano para madeira
em tora e 1,2 milhões de reais por ano em madeira serrada, considerando uma
extração de apenas 10 metros cúbicos de madeira por hectare.
Com toda esta possibilidade, não
deveriam existir famílias com apenas uma só parede a proteger do frio
amazônico. As inúmeras reservas extrativistas, assentamentos agroextrativistas
e territórios quilombolas poderiam (aplicando manejo florestal) suprir a
necessidade de casas. Então porque não pensar em um Programa de Aquisição de
Madeira Manejada para os planos governamentais de habitação rural? Áreas de
manejo não faltariam, com certeza. E uma nova forma de renda surgiria.
Mas todas
as comparações acima mencionam preço. No entanto, qual o valor da floresta?
Quanto vale o clima saudável de uma mata, a escorrer os rios passando pela
nossa lembrança de infância? Tem preço a receita da avó nossa servindo piquiá cozido? Quão monetário deve merecer a árvore que convida os
bichos ao banquete de suas sementes e frutos?
Diante do aumento do desmatamento
e da escalada da extração ilegal de madeira, é moralmente necessário cuidar da
floresta e pensá-la como algo sem preço e sim com apreço e valor.
É pra ontem essa urgência, pois o hoje
nos preocupa o amanhã.
Pantoja Ramos, 27 de
novembro de 2013
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