Quando Lamberto, o Traumatizado, passeava com sua netinha Maria Aneci na pracinha naquele 19 de abril, aproveitou e resolveu cantar uma musiquinha indígena que um velho amigo seu, Justo Colares, lhe havia ensinado:
Umuarama, umuarama, umuarama,
aruê, aruá, chunguê, chungá...
Umuarama, umuarama, umuarama,
aruê, aruá, chunguê, chungá...
Um policial chegou próximo a ele, e coercitivamente, exigiu que o acompanhasse até a delegacia. "Mas o que fiz??", reclamou Lamberto.
"Apologia à Abel"*.
"Apologia a quem???".
Foram os três caminhando, quando pessoas se aproximaram e lhe dirigiram posturas de ódio, pareciam que o xingavam, mas as palavras em seu conteúdo não tinham cunho de tanto.
"FORA PATAXÓ!!". "PATAXÓ". "FORA XAVANTE!!". "TUPI!!". "YANOMAMI!!". "BUUUU!!". "BUUUU MAPUÁ". "SAI FORA PARACANÃ!!".
Estavam enfurecidas. Um homem lhe jogou um ovo no rosto, que espirrou gosmento também no rosto de Maria Aneci, que gritava desesperadamente em sua inocência e susto.
Na delegacia, o policial contou ao delegado a situação.
"Por sua criança, e por não conheceres a nova lei, te libero desta vez, mas não faças mais isto!". Disse a autoridade ali sem mais detalhes.
Lamberto saiu do local sem ainda nada entender.
Já na proteção do lar, seu filho Simone e sua filha Shana perguntam o que houve, com a mãe instantaneamente tentando acalmar a pequena que ainda soluçava.
Lamberto observa a televisão ligada no Vale a Pena Ver de Novo, no qual reprisava pela sétima vez O Rei do Gado.
Desligou a televisão. Pensou.
De frente à netinha já menos chorosa, porém, com lágrimas marcadas na face rosada, Lamberto começou a pisar firme, sorridente, cantando e dançando para alegrar a menina:
Umuarama, umuarama, umuarama,
aruê, aruá, chunguê, chungá...
Umuarama, umuarama, umuarama,
aruê, aruá, chunguê, chungá...
Pisa Ligeiro, Pisa Ligeiro...
Maria Aneci sorriu e até bateu palminha.
Sem Traumas.
(*) para entender, ler http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/5225528
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