quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Dia 05 de Setembro: Dia do Açaí



















Comunidade Monte Hermon, Alto Rio Pacajá, Portel.

Foto : Raylane Fernandes, estudante de Engenharia Florestal.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

sábado, 26 de agosto de 2017

AMAZONIZAR


 
Belém, abril de 2007.



Deslocar
O poder de mentes cômicas
Puxe
Um deboche
Amazônia para Amazônidas!


Nos irar
E pasmar as caras atônitas
Puxe
Um deboche
Amazônia para Amazônidas!


Se tu nasces ou vives
Nestas terras incríveis
Onde araras são livres
E Deus perto sentires!


Vão falar
De maneira tão ciclônica
Puxe
Um deboche
Amazônia para Amazônidas!


Brasília lá
A inércia pois biônica
Puxe
Um deboche
Amazônia para Amazônidas!


Trinca o dente o nativo
E o migrante cativo
Que enxergam sandice
Nos gestores burrice


Nos mandar
Imperícias que são crônicas
Puxe
Desembuche
Amazônia para Amazônidas!


É gritar
Em linguagem supersônica
Ruge
Desembuche

AMAZÔNIA PARA AMAZÔNIDAS!


Pantoja Ramos

Do E-Livro AFORISMOS DO GRANDE RIO/ site Recanto das Letras


sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Marajó, Reserva da Biosfera/ Parte 3 – É Momento de Mundialmente se Reconhecer o Marajó


Alunos da antiga Escola Família Agrícola de Afuá, fechada em 2007 por falta de recursos. Foto: FASE (Sérgio Costa, 2000)


“Nós somos parte da terra
A terra é parte de nós
Um é a extensão do outro
Nós não vivemos a sós...
Com muita sabedoria
Diziam nossos avós
Se cuidarmos da terra
A terra cuida de nós”.

Grupo Imbaúba de Carimbó[1].




Carlos Augusto Ramos[2]


Caríssim@s Carla, Rita, Olavo, Maria, Irineu e Vanda,

No último texto que faço desta série Marajó, Reserva da Biosfera, deixei propositalmente a explicação para o final do que é uma Reserva da Biosfera, uma vez eu precisava antes de tudo avaliar (não somente problematizar) a formação do Marajó enquanto ambiente natural, enquanto povo até hoje auto identificado[3] e os riscos que essa história sofre pelos grandes projetos que se aproximam, notadamente os campos marajoaras, com provas no sistema de Cadastro Ambiental do Estado do Pará. Também precisava analisar a floresta do Marajó e sua riqueza ainda presente, apesar da garimpagem madeireira[4] e do próprio conhecimento insuficiente pelos habitantes da região sobre o patrimônio florestal que possuem. Em comum, a necessidade de uma educação libertadora, não mais hermética para combater novas ondas destrutivas. A foto da Escola Família Agrícola veio bem a calhar: lá se formaram várias lideranças afuaenses que obtiveram grandes conquistas na luta pela terra.


Segundo a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, o Programa Homem & Biosfera (Man and the Biosphere Programme – MAB) tem como objetivo o uso racional e sustentável, conservação dos recursos da biosfera e melhoria da relação geral entre as pessoas e seu meio ambiente com bases nas ciências naturais e sociais[5]. Há de se entender que Biosfera é o conjunto de ecossistemas existentes na Terra[6], tratando assim da região do planeta habitável por todos os seres vivos.


No programa Homem & Biosfera da UNESCO, as Reservas da Biosfera são estabelecidas para promover e demonstrar uma relação equilibrada entre os humanos e a biosfera[7]. Tais reservas reconhecidas pelo Conselho Coordenador Internacional do Programa MaB, com pedido pelo país interessado, sem perda da sua soberania nacional[8]. Em resumo, é um Título Mundial de Reconhecimento pela ONU que naquela determinada região do planeta existe respeito dos seres humanos em relação às demais formas de vida existentes. No Brasil, elencam-se como RBs Reservas da Biosfera a Mata Atlântica e Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga, a Amazônia Central e a Serra do Espinhaço[9].


Uma vez reconhecidos internacionalmente na Rede Mundial de Reservas de Biosfera, o Programa MAB da UNESCO se esforça para:

a) Identificar e avaliar as mudanças na biosfera resultantes de atividades humanas e naturais e os efeitos dessas mudanças na vida local e seus efeitos no contexto das mudanças climáticas;

b) estudar e comparar as inter-relações dinâmicas entre os ecossistemas naturais / quase naturais e os processos socioeconômicos, avaliando-se perdas de diversidade biológica e cultural e suas consequências para a continuidade dos serviços dos ecossistemas para o ser humano;

c)  garantir o bem-estar nos processos de rápida urbanização e do consumo de energia;

d) Promover o intercâmbio e a transferência de conhecimentos sobre problemas e soluções ambientais e promover a educação ambiental para o desenvolvimento sustentável.

Sobre as suas funções, entendi em minha pesquisa que as reservas da biosfera devem se esforçar para serem locais de excelência de uso da natureza em escala regional a partir:

a) da conservação, onde se contribui para a conservação de paisagens, ecossistemas, espécies e variedades genéticas;

b) do desenvolvimento: com fomento do desenvolvimento econômico e humano que seja sociocultural e ecologicamente sustentado;

c) do apoio logístico para promover projetos demonstrativos, educação ambiental e capacitação, pesquisa e monitoramento do uso sustentável dos recursos naturais da região, com olhares locais, regionais, nacionais e globais de conservação.


Ao que parece, no papel, trata-se de um programa mundial fascinante. Um olhar distinto da ONU em certas áreas do planeta por seu valor histórico-cultural-ambiental, com valiosa intenção de apoiar o fortalecimento da educação local. Mesmo tendo eu algumas críticas conceituais sobre o termo “desenvolvimento” que a ONU apresenta, mal hábito de palavra que o presidente dos EUA Harry Truman deixou legado e que condenou bilhões de pessoas à fome pelo mundo, talvez os itens funcionais descritos acima sejam estrategicamente o que mais precisa o marajoara neste momento, mas é bom saber se é isso mesmo que deseja a população. O valente José Varella, por exemplo, lançou uma petição pela internet sobre a indecisão do estado do Pará se lançaria ou não a candidatura do Marajó como Reserva da Biosfera. Na petição considera:

“...Em vista da falta de atenção pelas autoridades a respeito do dispositivo citado, durante reunião preparatória para a I Conferência Estadual e Nacional de Meio Ambiente, ocorrida na cidade de Muaná a 8 de outubro de 2003, a sociedade civil pediu providências para criação da Reserva da Biosfera do Marajó pelo Programa “O Homem e a Biosfera” (na sigla em inglês MaB) da UNESCO. Até hoje, assim como a APA resta apenas no papel, a candidatura da Reserva da Biosfera ainda não chegou à Comissão Brasileira do MaB, em Brasília...”[10].


Apesar da boa iniciativa, feita em 2014, de uma pessoa consciente como Varella que provoca a sociedade a se mexer, apenas 99 foram os apoiadores no site de petição para cobrar do Pará a candidatura do Marajó. É fato que precisávamos ajudar mais (e aqui ponho minha culpa também) numa campanha como esta, esclarecendo a sua importância para o hoje e o amanhã. Mas vejam só: como alguém que pega uma surra de carapanã e decide comprar um mosquiteiro ou aquele que amarrou sua canoa e não levou em conta a maré e aí inundou a montaria, aqui e ali escuto as falas, as prosas nas ruas, rios e igarapés, que o Marajó precisa ser melhor defendido. Ao ler projetos de puro estilo tecnocrata que se esgueiram em direção território marajoara, julgo que nem o país, muito menos o estado do Pará, podem ajudar a curto prazo neste meio de campo no evitar de novas maneiras de coronelismo e degradação, uma vez que o aparelho estatal hoje não está consonância com a vontade popular e sim com a das grandes empresas, sejam bancárias, de grandes obras ou da agricultura de larga escala[11].


Nas indicações de que os campos marajoaras estão comprometidos como áreas consolidadas ao agronegócio segundo o SICAR, com o aumento de conflitos agrários por conta da insegurança da terra (mesmo das áreas já regularizadas)[12]; no incômodo da possibilidade da circulação de navios petroleiros e os perigos ambientais que trazem consigo na costa marajoara de Chaves e Soure; da discussão de estradas cortando o Marajó em um Estado que tem dificuldades imensas de dialogar com a sociedade sobre impactos causados pelas vias que criam[13]; do Conselho (consultivo, ressalte-se) da Área de Proteção Ambiental do Marajó que ainda está se montando e já recebendo pressão do agronegócio segundo publicação no Jornal O Liberal de 18/08/17, coluna Repórter 70, vejo que é justificável internacionalizar o debate.


Pode parecer estranho, mas internacionalizar a discussão marajoara de conservação de seus recursos naturais e povos da floresta surge porque a capacidade governamental de dialogar com quem vive aqui está em péssima fase. Além disso, de uma certa forma, a internacionalização de nosso futuro já acontece com os estudos da The Nature Conservancy (TNC, ONG oriunda dos Estados Unidos) para o programa Pará 2030 do Governo do Pará intitulado PARÁ 2030: Desenvolvimento de cenários de uso da terra e estimativa de custos de implantação da agenda de desenvolvimento verde no Estado do Pará, que tem parcerias empresariais norte-americanas, chinesas e europeias. Lembro que li o folder do Programa Pará 2030 e achei estatisticamente sofrível a conta de que menos de 200 pessoas reunidas em seminários deste novo programa decidiram a vida de 8,2 milhões de paraenses pelos próximos 13 anos. Pode parecer futurista a ideia, mas não é: trata-se de uma metodologia de inclusão de pessoas de 30 anos atrás. Com todas as contradições socioambientais que a palma (plantios de dendê) trouxe para Acará, Moju e Concórdia do Pará, não desejo que Portel, que está tentando a duras penas se libertar da garimpagem madeireira, seja atacada pelo agronegócio da Palma[14]. Quem deu legitimidade à TNC e a AGROICONE apresentar ao Governo uma proposta de arranjo produtivo como a palma sem debater com os portelenses? Esse tipo de procedimento institucional é bastante ultrapassado (estou sendo gentil).  

Pará 2030-Para-Trás.

Se não nos convidaram (os trabalhadores e trabalhadoras rurais do Marajó) para festa, então vamos entrar de penetra dançando carimbó e botar todo mundo na roda, onde todos são iguais. Ao auto reconhecer o Marajó como Reserva da Biosfera, diremos quais são as áreas de proteção ambiental[15], quais as áreas de uso sustentável[16], os projetos estratégicos para nós[17], simples e essenciais.


A população precisa estudar mais a estratégia de proteção que é ser uma Reserva da Biosfera.

Não por causa dos governantes. Nem do título em si.

E sim, porque os marajoaras desejam abraçar a sua terra e memória como tesouros, neste açaí que corre em nossas artérias.

A “Marajonosfera” é uma Reserva Planetária da Vida.


Marajó, Oxalá, Reserva da Biosfera.


Belém, 18 de agosto de 2017.







[1] O Grupo Imbaúba, formado por Celdo Braga, Rosivaldo Cordeiro, João Paulo Ribeiro, Roberto Lima, Sérvio Túlio e Sofia Amoedo, é um trabalho musical acústico, basicamente instrumental, que reúne em seu repertório músicas de autoria própria, compostas a partir da sonoridade da natureza (música orgânica), como trinado de pássaros, farfalhar de folhas, batidas de sapopemas, enfim, de sons e ruídos que ocorrem na floresta, temperados pela magia e pela mística que emanam do universo amazônico - Saiba mais visitando o site www.imbauba.art.br
[2] Engenheiro Florestal, consultor socioambiental.
[8] A Rede Mundial de Reservas da Biosfera é composta por 631 reservas da biosfera localizadas em 119 países, incluindo 14 sítios transfronteiriços/transcontinentais - http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/natural-sciences/environment/biodiversity/biodiversity/
[10] Ver em site de Petições Charge: Apresentação da Candidatura do Marajó para Reserva da Biosfera da UNESCOhttps://www.change.org/p/governador-e-canditados-ao-governo-do-estado-do-par%C3%A1-apresenta%C3%A7%C3%A3o-da-candidatura-do-maraj%C3%B3-para-reserva-da-biosfera-da-unesco
[11] Para Zygmunt Bauman, “os governos vivem presos entre duas pressões impossíveis de reconciliar: a do eleitorado e a dos mercados. Eles têm medo de que, se não agem como as bolsas e o capital móvel querem, as bolsas quebrarão e o dinheiro irá a outro país. Não se trata apenas de que possa haver corrupção e estupidez entre os nossos políticos, mas sim que essas situações os deixam impotentes. E, por isso, as pessoas buscam desesperadamente novas formas de fazer política - http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/bauman-talvez-estejamos-em-plena-revolucao/ .
[13] Como exemplo, o Governo do Estado do Pará através de sua Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, caminha a passos largos para implantar uma estrada de ferro sem escutar comunidades da floresta, pensando-se interligar Açailândia, no Maranhão, ao Porto Vila do Conde, no município de Barcarena, com um traçado de 477 quilômetros e um custo estimado em cerca de R$ 7,8 bilhões. Segundo uma líder comunitária quilombola que vive na região do projeto, “ninguém, nem do governo e nem da empresa, nos procurou para conversar, mas tive a preocupação de visitar outros lugares que já sofrem com os impactos de ferrovias. Vi que coisa boa não tem. O que mais me impactou no Maranhão foi ver os igarapés destruídos. Tenho esperança que a linha não passe por aqui” - https://fase.org.br/pt/informe-se/noticias/pa-quilombolas-temem-construcao-de-ferrovia/ .
[14] Segundo estudos de Elielson Silva, os biocombustíveis foram, durante alguns anos, considerados uma escolha benéfica para o planeta. No entanto, seus efeitos colaterais se mostraram outra perversa realidade. Em recente diretiva da própria União Europeia, o uso de biocombustíveis nos combustíveis foi reduzido para 7%, após o reconhecimento de que os agrocombustíveis ou biocombustíveis competem com a produção de alimentos, contribuem para as mudanças climáticas e forçam mudanças no uso do solo. Para Elielson Silva ““Existe o discurso de que o dendê seria a redenção econômica da região (Moju, Acará, Tailândia, Concórdia do Pará), de dinamizar e promover transformações, incluir a agricultura familiar, mas constatamos inúmeras contradições, na prática não é bem assim. Os direitos territoriais estão ali sendo disputados por vários atores. Existe um incentivo oficial para a produção de dendê porque o Brasil não tem uma produção que atenda à demanda interna – chegamos a importar óleo de palma da Colômbia. O país quer se projetar internacionalmente com a produção de biocombustíveis, mas por outro lado quais são os custos para se fazer isso?”, questiona. Ver em http://midiaeamazonia.andi.org.br/artigo/efeitos-do-monocultivo-do-dende-na-amazonia ; ver também file:///C:/Users/CARLOS%20RAMOS/Documents/BIBLIOTECA/DISSERTA%C3%87%C3%95ES%20E%20TESES/DENDE%202015_Dissertacao_Elielson.Pereira.da.Silva.pdf
[15] De forma atrapalhada, o Governo do Estado do Pará criou em 2010 o Parque Estadual Charapucu, Afuá, em área onde já estava decretada um ano antes o Projeto de Assentamento Agroextrativista do INCRA de mesmo nome, sem a devida consulta às famílias locais, nem justificativa socializada a contento da escolha daquele local para uma unidade de proteção integral. Após recomendação do Ministério Público Estadual, o IDEFLOR-BIO e comunidades locais passaram a reunir para ajustar a referida unidade de conservação de modo a não prejudicar a população local. Como acompanhei a confusão no seu início, lembro que o Parque teria também o objetivo de atender às condicionantes da UNESCO de criação de zonas núcleos. Foi um mal começo.  A problemática do Charapucu retrata um dilema existente entre os órgãos ambientais que criam e gerenciam unidades de conservação no país ao relacioná-los aos conceitos de Reserva da Biosfera da UNESCO. As autoridades brasileiras, de maneira geral têm levado a discussão de RB para o preservacionismo, com dificuldades de incluir a socioeconomia das populações que gira no redor destas unidades, aspectos que se inserem entre as características de RB previstos pela UNESCO de conservação, desenvolvimento e apoio logístico
[16] O Marajó detém 37% de seu território de 10,4 milhões de hectares com regularização fundiária e 96% de sua área coberta de florestas, ainda em condições de abrigar pesquisas e práticas de longo prazo de manejo florestal, manejo de recursos pesqueiros e dar retorno socioeconômico aos cerca de 500 mil habitantes viventes em 16 municípios.
[17] A energia solar é um dos destes projetos estratégicos, sintonizados com meios de vida sustentáveis e que precisam contrapor o uso dos combustíveis fósseis – ver http://meioambienteacaiefarinha.blogspot.com.br/2014/04/o-determinante-das-riquezas-futuras.html



Rebroto e Raiz


terça-feira, 15 de agosto de 2017

6° Encontro de Lavradores e Lavradoras de Bagre

Caríssim@s,

De 27 a 30 de julho de 2017, na comunidade Nossa Senhora das Graças, Rio Piará, em Bagre, Marajó, realizou-se o 6º Encontro de Lavradores e Lavradoras daquele município, promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.

Foi um importante momento para atualizar os agroextrativistas locais da difícil conjuntura nacional que o campesinato em todo o país enfrenta.

Abaixo, a Carta do Evento:










CARTA DO 6º ENCONTRO DE LAVRADORES E LAVRADORAS DO MUNICÍPIO DE BAGRE.

            Nos dias 27, 28, 29 e 30 de julho de 2017 reuniram-se na sede da comunidade Nossa Senhora das Graças, Rio Piará, município de Bagre, representantes de 9 comunidades rurais do município, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Pará, Partido dos Trabalhadores, Comissão da Pastoral da Terra no Marajó e Paróquia Santa Maria de Bagre.

            O encontro - moderado por Olavo Pereira e Maria José, ambos dirigentes do STTR de Bagre - iniciou-se com análise da conjuntura e estrutura do país. O objetivo desta reflexão foi compreender como as 3 esferas governamentais do país (executivo, legislativo e judiciário) vem atuando na aprovação de emendas constitucionais e como isso afeta os direitos conquistados dos trabalhadores e trabalhadoras rurais nos últimos 50 anos. Nos três dias de encontro foi socializada as preocupações dos trabalhadores e trabalhadoras rurais no que diz respeito ao abandono das políticas públicas por parte do governo federal, estadual e municipal, principalmente no acesso a programas como o de fornecimento da merenda escolar pela agricultura familiar, regularização fundiária, previdência social, bolsa-família e financiamentos via PRONAF.

            Também é preocupação dos lavradores e lavradoras a tramitação do Projeto de Lei 107, de autoria do deputado estadual Hildegardo Nunes, de consagração da pecuária como única atividade tradicional no Marajó, tentando-se diminuir a importância de atividades como a coleta do açaí, a pesca artesanal, o plantio de mandioca e a extração de óleos da floresta. A Prelazia e Diocese do Marajó lideram um abaixo-assinado contra a PL 107, documento que foi aprovado pelo STTR de Bagre e comunidades para o recolhimento de assinaturas e assim posicionar o município de Bagre contra a desvalorização das atividades extrativistas e agroextrativistas dos lavradores e lavradoras.

            A assistência técnica e a política de financiamentos foram debatidas no sentido de fortalecer a agricultura familiar, buscar parcerias para melhorar a capacidade produtiva dos lavradores e lavradoras e eliminar dívidas junto ao Banco do Brasil e Banco da Amazônia. Em curso existe uma proposta de negociação das dívidas junto ao Banco da Amazônia que foi bem recebida pelos participantes.

            A regularização fundiária e ambiental recebeu da plenária uma profunda discussão sobre o ordenamento territorial de Bagre, hoje contando com 7% de destinação de terras em benefício dos trabalhadores e trabalhadoras locais, segundo informações trazidas por Carlos Ramos. Por outro lado, 63% do município está coberto pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR), o que traz dúvidas sobre a moradia de fato ou tentativa de especulação de terras pelos seus cadastrantes. De certeza sobre os CARs legítimos, há apenas os casos dos 9 assentamentos agroextrativistas que possuem CARs feitos pelo INCRA.

            Nas discussões sobre Previdência Social, Maria Rosa da FETAGRI expôs toda a problemática atualmente verificada a partir da proposta de emenda constitucional de Reforma da Previdência. A diretora da Fetagri apontou as falhas do projeto de lei e o quanto isso pode impactar negativamente a vida dos trabalhadores e trabalhadoras rurais em suas aposentadorias, auxílios-maternidade, auxílios-doença e toda forma de benefício previdenciário. Nesta luta que a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG), é preciso mobilizar os lavradores e lavradoras de todas as faixas etárias para a real possibilidade de perda de direitos. Maria Rosa aponta na valorização e organização dos aposentados rurais pelos STTRs como uma estratégia da classe rural trabalhadora.

            Para enfrentar este ataque de direitos, os participantes entenderam que o STTR de Bagre deve promover uma série de ações de fortalecimento do movimento social rural bagrense a partir:

    1. Da Organização Social – com retomada dos mutirões; incentivo à participação de jovens, mulheres e pessoas da terceira idade nos grandes debates do município; criação das associações comunitárias; da luta pela implantação do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural; da mobilização dos grupos de mulheres rurais de Bagre para debater seus direitos e meios de produção; com criação de uma turma da ENFOC para a formação de novas lideranças;
    2. Da geração de renda – com luta pela criação do porto e feira do agricultor familiar em Bagre; incentivo à criação dos fundos comunitários como o Fundo Solidário do Açaí; da quitação das dívidas para acesso a novos financiamentos pela agricultura familiar local; dos estudos de produção nas comunidades; do incentivo à maior diversidade de produção pelas famílias além do açaí e da farinha; do aumento da horticultura em Bagre; do acompanhamento dos trabalhos do Tribunal de Contas do Município para a implantação do Programa Nacional de Alimentação Escolar, hoje sem nenhuma compra pela prefeitura municipal de produtos da agricultura familiar (o mínimo segundo a legislação é 30% da merenda ter como origem a agricultura familiar);
    3. Da assistência técnica – da integração de esforços com a Emater local para melhorar a assistência técnica aos trabalhadores rurais; do aproveitamento e incentivo de trabalhos dos jovens que estudam no IFPA de Breves para atuarem no campo;
    4. Dos estudos sobre a floresta – com necessidade de aprofundamento de estudos sobre a capacidade produtiva das comunidades e valorização dos produtos da floresta a partir da provocação feita pelas estudantes de engenharia florestal Yara Monteiro e Alynne Maciel; da socialização para as comunidades rurais dos dados de extração de madeira em Bagre segundo o IBGE de 2009 a 2015; da exigência junto à prefeitura e SEMAS para que as madeiras apreendidas sejam doadas em benefícios das famílias do campo;
    5. Da regularização fundiária e ambiental – de realizar estudos detalhados sobre os CARs existentes em Bagre para verificar quem possui a posse mansa e pacífica; de exigir do INCRA a emissão dos recibos dos CARs aos 9 Projetos de Assentamentos Agroextrativistas criados no município; de solicitar uma audiência em Bagre com a presença dos promotores de justiça da Vara Agrária de Castanhal para denunciar os conflitos fundiários e invasões de madeireiras nas áreas das comunidades; de exigir do INCRA a atualização da Relação de Beneficiários dos assentamentos agroextrativistas em Bagre; de solicitar à SEMAS e IDEFLOR-BIO a lista de empresas que estão com planos de manejo florestais atuando em Bagre; da solicitação ao IDEFLOR-BIO de Kits de viveiro agroflorestal para produção e mudas.
    6. Dos debates sobre Previdência Social – do envolvimento do STTR de Bagre na formação para acesso ao novo sistema do INSS digital; de levantar o volume de recursos financeiros que chegam a Bagre advindos dos benefícios previdenciários; de se elaborar um plano local de mobilização para participação dos aposentados rurais, com apoio da FETAGRI; de mobilizar a população rural contra a Reforma da Previdência; de realizar seminário regional no Marajó para esclarecer e discutir os direitos dos aposentados.


      Os pontos levantados acima demonstram a vontade dos trabalhadores e trabalhadoras rurais de Bagre em construir um novo tempo. Para monitorar as propostas, grupos de estudos serão formados para apoiar o STTR de Bagre no alcance dos resultados, a serem avaliados no 7º Encontro de Lavradores, agendado para os dias 24 e 25 de julho em 2018, na comunidade São Miguel, rio Tiririca, Distrito Carauá.

          Apesar de ser um desafio, as propostas apresentadas poderão dar o devido protagonismo das comunidades da área rural nas discussões sobre direitos, bem-viver, renda, proteção da memória e proteção dos recursos naturais de nosso querido município.

É Bagre reagindo!

Bagre, 30 de julho de 2017.




Orçamento Geral da União: pensa numa inversão de valores...


quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Sobre Grilos e Gafanhotos



Arapari, Barcarena, 26 de julho de 2017.



Eu me sinto um inseto
Mas você é mais inseto
Pois ao menos respeito Tupã 
Iavé e tudo que é sagrado
Ingrato 
Tu és mau filho da Terra 
Enquanto teu cano berra
Encerra
A vida de quem queria paz
Rimar em luto triste jamais 
Mas como evitar se mais
João da luta aqui jaz
Maria da fé ali Jaz
Não 
Não digo só Saudade
Presente! 
Não quero estar por perto
De um gueto a céu aberto
De capim vermelho de sangue
De um grito que se arranque
De um gado envenenado
A pá , cupim pra ser assado
Grilado
É eu sou grilado
Pois pode haver um país
Que abate os seus compadres?
E Frades?
E Madres?
Irmãs?
Manhãs?
E Esperanças?
E Mansas?
Ah grilo é sinonímia de matança!


Hipócrita
Sim eu sou hipócrita
Enquanto como costela
Um sonho vira quimera
Enquanto como bisteca
Comodidade me cega
Jagunço tiro de alerta
Acampamento alerta
"Direitos humanos" alerta
É certo um fuzilamento
Entendo 
Isso é coisa que passe
No Face, Tv ou no zap
Que o Agro é novo emblema
Do velho coronel do sistema
Agora tem até tatuagem 
Pra ser tão moderninho
Não passa de um gafanhoto
Escroto,
Pensamento mesquinho
Só que ei! Cuidado
Quando comer uma alcatra
Repare repare irmão
Se não geras escravocrata
Repare, repare mana
Se a carne da ave engana
Se ela veneno brutal
Nem a pau! Nem a pau!
Se ela hormônio animal
Nem a pau! Nem a pau!
Só que 
Continuo um hipócrita
Assisto meu futebol
Assisto tudo normal
Assisto o comercial
De um banco e um frigoboi
Que arrombam o que era e não foi
Qual é meu percentual
Nesta história sem final?
Sem começo e sem fim?
Sem um fim qual o começo?
Mas pensando eu bem mereço
Pois eu sempre pago o preço
De um bife acebolado
De um PF caprichado
De um ser esfomeado
Sem começo e sem Fim?
E um boi a rir de mim
nesta terra de Caim
Fala irmão de matadouro
Enquanto meu pasto é ouro
Tu é resto pobre homem
Mais uma cruz e mais um nome
Um nome 
Um nome
Um nome pro gafanhoto
Um nome
Um nome
Um nome pra este grilo

Um nome 
Um nome

Um nome pra tudo isso...