quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Brasil Almanaque de Cultura Popular



Objetos não fazem parte dos meus apegos. Isto é sem dúvida a origem de muitas críticas que recebo. Não é que eu não goste do materialismo nosso de cada dia (refiro-me aos de ordem financeira), só que infelizmente tenho memória e olhares mais ávidos para coisas que passam pelo invisível (virtudes) ou suavemente visível (natureza).



Nas exceções que cada um de nós temos, alguns objetos conseguem nos cativar, não por si, mas pela lembrança que pescam lá do fundo do rio. O monóculo, o carrinho de rolimã, uma calça estilo anos 1980, criancice e adolescência resgatadas quando revisitadas em matérias frias e ao mesmo tempo teletransportadoras.



Dos primeiros anos de profissão, tenho forte saudade do Barco Comandante Souza da ONG FASE e das revistas ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR da TAM linhas aéreas (não se trata aqui de propaganda, mas de reconhecer a iniciativa, valha-me Deus!). Não obstante toda força questionadora que tenho ao empresariado brasileiro, não poucas vezes subalterno ao establishment estadosunidense e/ou europeuconfesso que é indelével para as minhas bases e brasilidades o saboreio que tive dos periódicos sobre cultura brasileira pensado/organizado por Elifas Andreato e patrocinado por aquela tão globalizada empresa de aviação civil.  



Naquele tempo de muitas idas e vindas na Amazônia e Brasil através de viagens aéreas, enganava minha fobia por voar nas revistinhas postas ali na cadeira. Constatado e engraçado: minha curiosidade é maior que o meu medo, pois entre uma tremida e outra nas nuvens densas amazônicas, tentava aliviar a mente nas tiradas do Barão de Itararé, nos "causos" de Rolando Boldrin e na seção de fotos Lambe-Lambe. Tudo de uma Brasilidade incrível. Como eu ficava contente ao ler ali "esse exemplar é seu". Bacana. Mais um exemplar pra mochila. A comissária de bordo perguntava: "algo para beber?", respondia, "um suco de laranja e um almanaque por favor".



A revista Almanaque Brasil de Cultura Popular circulou de 1999 a 2014, coincidindo com minha vida de passageiro na ponte aérea Belém-Macapá-Belém de 2000 a 2009. Guardo alguns exemplares e folheá-los é voltar num tempo bom em que eu era aprendiz da importância de valorizar nossas raízes, de bons mestres que tive, da pressão de sair de Belém em um avião, pousar em Macapá, pegar um táxi até o porto do Grego em Santana-Ap e engatar minha rede no barco do dia com destino a Gurupá, naquele vento bacana que me descansava, lendo ou relendo a revistinha. O Almanaque ganhou uma página na internet, porém, não substitui jamais o papel impresso, meio molhado das minhas missões. Entendo agora quem coleciona gibis, inexplicável sentimento.



Com o lançamento do ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR em formato de livro neste final de 2017, muitos poderão ter a oportunidade de rever nossas raízes, chão, tradição. Se perguntar qual motivo de não decolarmos enquanto nação, mesmo sendo pássaro altaneiro?



Eu tive meu almanaque para vasculhar possíveis respostas.

A Memória age contra todas as formas de escravidão.


Elifas Andreato. Foto: do site Almanaque Brasil.



Nenhum comentário:

Postar um comentário