Belém, 9 de outubro de 2024.
Por meio desta crônica quero registrar que neste dia, em comemoração ao aniversário de minha sogra, Dona Lene, encomendamos um bolo. Nesse dia de tanta luta, mais um dia entre tantos de lida de um lar, não houve tempo para preparar um bolo e assim optamos pela compra de um já feito, trazido pela minha cunhada ao retornar do trabalho.
Bolo estranho, parecia uma pedra, daquelas britas grandes que até hoje vemos nas ruas de Monte Dourado, lá no Jari. Era coberto com alguns brigadeiros e biscoitos, assim todo "gourmetizado". Continuei bagunçando, dizendo que o bicho parecia pesado de tão massudo. Minha esposa disse que ao contrário, era muito macio. E cantamos parabéns para Dona Lene, uma mulher verdadeiramente guerreira.
Enquanto as conversas seguiam na mesa, provei do bolo. O sabor que me veio fez minha cabeça voltar-se para trás como se tivesse levado um empurrão. Fui tirar a dúvida em uma segunda colherada, uma terceira e as sinapses me contaram o que havia me surpreendido.
As memórias surgiam, levando-me para minha casa em Monte Dourado nos anos 1980, ali na mesa de madeira as minhas irmãs, o meu irmão e o meu pai a esperar a minha mãe nos trazer aquele singelo bolo, um bolo de caixa de sabor laranja. Era simples, mas festivo. De caixa, mas com toques próprios de minha mãe Tereza.
Quando as sinapses me devolveram do passado, eu estava a lagrimar. Apesar de não querer demonstrar, fui traído pela voz embargada ao responder se eu tinha gostado do bolo:
- Lembra gosto de infância lá no Jari.
E saiu o choro de vez. Comedido, é verdade, mas ali havia um choro.
Hoje vou dormir com a experiência de um alimento te fazer viajar como se fosse uma máquina do tempo a ponto de despertar diversas emoções. E foi uma saudade boa.
Um sentimento de privilégio de ter vivido e revivido o bolo de minha mãe.
Pantoja Ramos.
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