Que
interessante receber convite do Centro ARCORES, de Portel, local cativante que
possui várias ações educacionais para as crianças portelenses. Naquela tarde do dia 13 de junho conversei com os voluntários deste centro sobre literatura e filosofia. Não sou
formado em literatura, nem formado em filosofia, mas nos permitimos debater ao
vento essas duas ciências já que tantos livros ali estavam na estante à
disposição dos pequenos leitores.
Falamos
sobre Anne Frank (“O Papel Tem Mais Paciência do que as Pessoas” foi uma frase que Frei Manoel gostou muito), sobre
Carlos Drummond de Andrade, sobre Paulo Freire. Decidimos fazer um exercício de
discutir a nossa realidade a partir do primeiro livro que escolhêssemos na
estante, um exercício paulo-freiriano.
“Hummm,
deixa ver... vejam esse título: TAPETE DE PELE DE TIGRE. Um livro interessante,
mas me digam, vocês já viram uma pele de tigre?”.
“Eu
nunca vi”.
“Aqui
tem tigre?”, começamos a série de perguntas.
“Não,
não tem”, lá do fundo responderam.
“E se
pudéssemos mudar o nome deste livro, com todo o respeito à boa intenção do autor que
escreveu o livrinho? Se ao invés de Tapete de Pele de Tigre fosse
Tapete de Pele... de Pele...”.
Um
voluntário do fundo da sala respondeu:
“Pele
de comboia!”.
Todos
riram.
Que
interessante. Tapete de Pele de Comboia. Rrssrsr.
“O
que é uma comboia?”, perguntou uma moça.
“Uma
comboia é uma cobra”, respondeu um jovem.
“Ela
é venenosa?”.
“Deus-o-livre,
é sim!!”.
“Onde
ela vive? Em que tipo de mata?”.
“Ela
vive em terra encharcada, nas matas de várzea e igapó”.
“Como
o senhor sabe disso?”.
“Porque eu já tirei muito açaí e sei disso”.
“Alguém
que o senhor conhece já foi picado de comboia?”.
“Ixi,
se foi, um amigo meu foi batido de comboia e veio pra Portel”.
“O
que aconteceu com ele?”.
“Ele
quase perdeu a perna, mas deu tempo de chegar na cidade e tomar o soro”.
“Graças!”.
“Ele
voltou a trabalhar?”.
“Ficou
difícil pra ele, ficou de benefício, mas acho que ele vai se aposentar”.
Uma
voz da frente se posicionou:
“Se
ele se aposentar, não viu o que diz essa Reforma lá no Congresso??”.
“Que
reforma?”.
“A
da Previdência!!”.
Silêncio
pairou. Do Tapete de Pele de Comboia chegou-se até Brasília.
O
assunto correu para a Reforma da Previdência. Informação, esclarecimentos. Entendimento
sobre o jogo e os jogadores deste país que teima em não ser nação.
Voltando-me
para a literatura, escrevi no quadro um poema de Drummond:
“Tinha
uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha...”.
“Um
Buraco!”.
Palmas
para quem entendeu a sua realidade!
Clap-Clap-Clap...
Pantoja
Ramos.
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