sábado, 11 de abril de 2020

Crônicas, Passageiro: Pedro Barbosa, o Bom, o Mal, o Feio e a Grandeza

Belém, 11 de abril de 2020.


Esta é uma crônica sem floreios.

Porque o homenageado não suportava floreios.

Porque registro palavras sobre alguém autêntico.

Não é mesmo, seu Pedro? Pedro Barbosa, nome eternizado no Marajó.

Conheci Padro Barbosa em 1990, na cidade de Monte Dourado, lá no Jari. Reuniu com meu pai, conterrâneo seu, em casa, buscando eleitores e apoiadores. Sequer vi a cara deste homem, só escutara a voz grave dele se destacando no meio das pessoas na cozinha. Ainda assim, recebi ordem do meu pai de ir falar com meus amigos e estes falarem para os pais deles sobre o tal candidato. 

"E quem é Pedro Barbosa??", perguntavam meus amigos, querendo uma justificativa para irem adular seus pais sobre este voto.

"Ora, ora, é... é primo do Beto Barbosa!".

"Ahhhhhh simmm".

Que coisa feia, Carlinhos. Não sei se consegui eleitores. Tentei. E talvez lutasse mais por tais votos, se soubesse a cena que me ocorreu depois. De um homem que dormiu por quase um dia inteiro em uma rede lá em casa por não ter sido eleito.

"Mãe, por que esse homem dorme tanto?".

"Ele tá triste por ter perdido a eleição". Achava que seu projeto político iria lograr êxito, na exposição de toda uma capacidade analítica do mundo, moço estudado e preparado para ser um legislador paraense, por que não? Ah, eu digo o motivo: é "pusquê" talvez homens inteligentes e sabedores que o Sistema é vil e cheio de fragilidades não podem facilmente ter cargos  de decisão a nível estadual ou nacional ainda mais oriundos de lugares pobres como Portel. É ameaçar a pirâmide. É risco à Democracia por castas.

E teimando por suas teses, depois de muita tentativa, foi eleito prefeito de Portel. Não quero arriscar alto, mas estaria bem nas apostas se indicasse que Pedro foi o melhor prefeito daquele município. Foram oito anos em que coincidentemente estive de volta a Portel trabalhando pela ONG FASE e IDEFLOR e percebendo suas ações. O barco da saúde, a Madonna, o apoio às atividades de ordenamento territorial no município, temperadas com sua simplicidade bicicleteira nas ruas me convenceram de seu comprometimento.

No dia em que apanhei do Sarney (mais detalhes disso é melhor contar em uma roda de conversa), lá estava ele no mesmo palanque que eu, convalescente da quimioterapia e do câncer em estágio de superação. O bom murro de Sarney foi acertadamente errada nele e acertada em mim, jovem ainda, cheio das forças para suportar aquele bom galo na nuca. Para Pedro, poderia ter sido um complicador de sua já desgastada saúde. O Bispo Dom Luiz Azcona que também estava no palanque não entendeu nada. Nem eu, que parecia um porre a falar asneiras, resultado do baque. 

Quando Pedro se tornou gestor da Associação dos Municípios do Marajó, nos aproximamos mais, dada a ideia junta que tínhamos de um Marajó necessitado de ser liberto de sua escravidão causada pelo patrão, pelo aviamento e pela depredação dos recursos naturais. E a cada discurso, a cada piada e a cada mostra da oratória franca que fazia ("miserável!" ele dizia) , aparecia na gente o entendimento leve que tudo sim podia ser transformado e transformador. 

Nunca entendi algumas de suas articulações políticas, o porquê da opção historicamente pelo PMDB.  Sei lá, tinha todo o jeito de pertencer à Partido de Esquerda e mais que Esquerda, de Baixo. E reparem, diante dos atuais dias, de tanta gente estúpida, ignóbil em seus mandatos país afora, não exagero em dizer que Pedro fazia bem seu papel, de debatedor de ideias, mesmo nas costuras. 


E foi assim que ouvi uma das frases que até hoje me move: "o Marajó vai cumprir seu destino". 

E foi assim que minha memória se fortaleceu navegável: quando da última vez que nos encontramos, viemos em sua voadeira do Monte Hermom, rio Pacajá até a cidade de Portel, conversando em fim de tarde sobre os jogos de futebol em que ele e meu pai faziam quando moços. Zaga forte, dos clássicos de Camel e Fabril.


Só nunca gostei da alcunha que lhe deram, de feio.

Feio é não ser Grande como Pedro Barbosa.





"Muitas vezes, desgraçadamente, nos sentimentos pequenos demais para lutar pela nossa própria Grandeza".
Pedro Barbosa.








Um comentário:

  1. Muito bom CArlos...Pedro Barbosa merece TODAS AS homenagens possiveis...

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