quinta-feira, 7 de julho de 2016

Pretensão de traduzir gráficos: Precariados, Uni-vos! / PARTE 2

“A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...”.
Comida/Titãs.


Belém, 06 de julho de 2016.

Caríssimos e Caríssimas,

          Eu lembro. Lembro bem. Do menino que brincava com ossinhos de boi morto da fome do sertão nordestino[1]. Cada ossinho uma vaquinha, um bezerrinho, quem sabe uma cabra, sabe lá a imaginação de uma criança e seu escapismo naquela miséria toda. Era necessário combater a fome no Brasil, propalava-se e convenhamos, quem poderia fazê-lo sem timidez? Mandatários como Fernando Henrique Cardoso, aquele que ainda sonha em ver George Washington na cédula de real? Antes dele, só discurso. Com ele, também discurso, atenuado, bem verdade, pela estabilização da moeda (em contrapartida, a rapinagem no patrimônio público brasileiro). Eu me lembro. Antes disso, comprava pão com novidade ruim no preço a cada semana. Porém, enfrentar a fome de verdade, ser audacioso em planejar o fim dela, enfrentar esta mazela na prática, somente a partir da presidência de Luís Inácio Lula da Silva.  Você até pode ter ódio do PT nessa confusão toda midiática a embaralhar o cérebro, porém não podes negar que este resultado histórico coincide com a gestão de Lula.


      Muito mais poderia ter sido feito para finalmente colocar o Brasil no patamar consonante com suas riquezas naturais e população miscigenada e diferenciada. Infelizmente, não se logrou outros êxitos fundamentais. Vejam o gráfico abaixo:
    
    

Para nós que fomos incautos, não percebemos que enquanto se crescia o atendimento da previdência e assistência social, a dívida pública galopava pro alto, em valores muito maiores, suas taxas de juros, suas amortizações. Sinal que o Banco Central tem decidido sozinho este caminho, com a fraqueza das esferas executiva, legislativa, judiciária em monitorar responsavelmente o processo. Aliado a este quadro, um Quarto Poder (Grande Mídia) realizando com sucesso sua estratégia de isolar o problema de tal forma que pareça que ela não existe, tal qual age em relação a Aécio Neves em 2016, não obstante o óbvio de suas nefastas ações de poder[2]. São décadas em que a sociedade ficou alienada da situação da Dívida Pública Brasileira e suas migalhas para as áreas de saúde, educação, saneamento, cultura e fortalecimento das próprias instituições governamentais.

O avanço na educação enquanto acesso à universidade pública pelos menos favorecidos foi notável, mas poderia ser maior segundo o gráfico. Todas as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio seriam exemplares na América Latina. Agora eu sei.

A liberdade de expressar-se culturalmente a partir da redemocratização (?) é uma realidade, porém, agora sei, poderia ter maior apoio certamente. O que faria do filho do menino que brincava com ossinhos (se puxou pro pai a veia artística), um estudante em artes cênicas. Sei que poderia se a sociedade fosse senhora minimamente dos orçamentos.

As agências de assistência técnica seriam tão bem estruturadas e capazes que a agricultura familiar, por exemplo, seria mais destacável e dinâmica do que já é em alimentar nossas famílias. Sei que assim seria.

Se eu precisasse ir a um posto de saúde, ali teria a dignidade de ser bem atendido, numa condição em que entenderia meu mal segundo a explicação do médico atencioso. Ficou somente o sopro daquilo que ensinam os cubanos em sua medicina participativa[3].

De exorbitante e fato corrente foi a alta lucratividade bancária. Não é possível esconder esse absurdo. Saber e omitir tal informação é um ato de negligência que beira a corrupção.

 


Bancos, lucros, Wall Street, especulações maravilham George Soros, o ultra-mega-investidor-predador, pai intelectual de pessoas como Armínio Fraga e Pedro Parente, parceiros temerários da atual interinidade na presidência que não esconde a intenção de diminuir direitos conquistados nesta já injusta batalha. Serras e Motosserras a serviço do empobrecimento de um país inteiro por gerações, cuja a atual sucumbe na violência dirigida aos jovens da periferia. Não dá pra dizer agora que o Estado não tem culpa desta mortandade.

Enquanto isso, nós vivemos precariamente em nossas quase vãs políticas públicas. Alienados? Só que não.   


Precariad@s, Uni-vos!!



Carlos Augusto Ramos



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