segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Justa Causa


Belém,  09 de outubro de 2016.


Eu vi meu pai se arrastar
eu vi um trauma tramar
a chave do homem guardar
compra do mês a filar
eu vi o salário
esgotar
hora-extra
que detesta
álcool fez sua festa


Bate o cartão ó João
bate o cartão coração
máquina de opinião
não vejo o dia senão
na novela de uma nação
vai Maria
que acredita
que é sua vida
que é liberta
liberta
do patrão


Fugindo vou pela mata
quase a boca me escapa
"quanto o dinheiro maltrata"
fã de um escravocrata
uma cortina aparta
da sociedade a nata
“Agro é tudo”
menos pro mundo
um solo fecundo
é tão estéril
estéril
o patrão


O ônibus óbvio lotado
de um pescoço esgotado
pressinto o olho cansado
de um modelo adornado
Pro meu dinheiro trocado
e um cobrador anulado
motorista
ativista
freia na pista
pra acordar
acordar
do patrão


Na base de um açaí
que mela o dente a sorrir
que roi às vezes um mari
que rasga um jaraqui
a minha aldeia sentir
a ameaça cair
traz fome
como um drone
sem a alma só nome
só a fama
a fama
do patrão


Carrego o peso dos anos
carrego o peso dos bancos
você que era meu mano
agora se diz soberano
entramos os dois pelo cano
Baixa classe
Média classe
nós daremos a face?
pra bater
bater
o patrão?


Agora o plano de aula
viver a mente na jaula
maneira tão dinossaura
de aperta-lhe a válvula
de abobar a sua lauda
lhe colocar uma cauda
do burrinho
burburinho
escapou um bilhetinho
“Sou distinto
distinto
do patrão”


O meu profeta era livre
assim meus sonhos mantive
Tenacidade decide
cantar um salmo que vive
comerás o pão que te grite
“Sobriedade
Humanidade
Liberdade”
quem tem coragem?
pra derrotar
o patrão
Pantoja Ramos

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/5786914

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