sexta-feira, 29 de maio de 2020

Um Trovador da Floresta




"O que o mestre Rubão fazia? Tenho a impressão que já o vi". Disse uma amiga.

Direi algo me vem à mente, de primeira, um pedacinho só, pois sua biografia será longa. É histórica.

Rubens Gomes ou Rubão foi um músico que se encantou com o canto da floresta e disso fez uma das suas bandeiras que era promover o manejo florestal mais legítimo que existe: o das comunidades tradicionais.

Rubão foi um músico que viu que a arte de produzir melodias começa ali no violão, no cavaquinho de madeira e deste baile convidou a juventude para produzir com as próprias mãos de Luthier os sons da cidadania, cujos acordes seguiram para marchetaria, para a informática, para a educação, para noções de inclusão das pessoas. Que virou orquestra no pobre bairro do Zumbi, em Manaus, que abraçou a todos nesta sinfonia que só os atentos ao tempo percebem.

Rubão foi um mestre incansável para que a floresta se mantivesse em pé, usando fala mansa e segura como método. Que a muitos encantou com sua trova.

Um trovador da natureza. É isso amiga, Rubão foi um trovador da natureza. Que fixou em mim a lembrança da confraternização de um encontro em Gurupá com toda sua leveza e talento. Nunca vi alguém bailar no meio da multidão e cantar ao mesmo tempo. Certa hora eu nem já o via tão misturado que ficou com o povo dançante de sua seresta.

Agora, amorosamente, está misturado em nós.

Como uma canção.



domingo, 24 de maio de 2020

Crônicas do Corte: Tatu Vasco de Caminha



Belém, 24 de maio de 2020.


Nesta quarentena já muito me brigaram para arrumar algo pra fazer e não ficar tão ligado nas redes sociais.

Então deixa ver...

Lavei o banheiro. Podei o pezinho de maracujá. Ajeitei a telha. Colhi as duas batatinhas, as últimas do pequeno pé de ariá lá do quintal.

Sentei na cadeira. Passei a vista na tela do computador.

Entristeci. Como não ficar nestes tempos? Pela janela percebi: lá vem a chuva! Está na hora certa dela. Algo me observava. Virei a vista para a estante, vi o tatu de madeira.

O tatu de madeira. Produzido na Oficinas Caboclas de Gurupá, uma versão mais simples das famosas Oficinas Caboclas de Santarém, da Flona Tapajós, do mestre Antônio José.

Procurei a foto deste encontro no meu banco de dados. Imagens da ONG FASE. Dezembro de 2004. Comunidade do Carrazedo, nos Quilombolas gurupaenses. Olha lá o Seu Mocinho! Olha só a galera! Pedaços de madeira caída na roça que apodreceriam na certa, mas que viraram arte. Uma mesa. Um remo. Um banco. Um tatu.

Um tatu?

"Eu achei melhor fazer um tatu, seu moço".

Achei graça. Todos acharam graça. Cabeça, pés e rabo de macacaúba. Pés de maçaranduba. De tanto rir do bicho misturado na terra e na grama, resolvi comprar do menino criador (tomara que ele leia este texto).

Nunca concordei quando engenheiros florestais falavam em Manejo de Madeira Morta. Soava estranho. Já Manejo de Pau Caído ninguém levava a sério. Manejo de Madeira Caída? Não tenho certeza. Só sei que o Reaproveitamento de Madeira de Áreas de Roçado me presenteou com um ser inanimado que me faz recordar da vida estampada no rosto de cada dos participantes daquela oficina a despontar arte das mãos marceneiras, sem eletricidade, no calo obtido do esforço. Do ensinar que deveríamos aproveitar o máximo que nos chega da natureza, sem desperdício, pois tudo é vivo quando se vê com atenção.

Agora está a cá comigo, enquanto digito, o dito tatu olhando pelo meu ombro esta crônica. Dei-lhe o nome de Tatu Vasco de Caminha, o literário cintado das terras segredadas aos homens não sapiens.


"Agora que já me apresentaste, Pantoja, levanta da cadeira e vai fazer exercícios! Escuta seu daimon!".

"Tá bom, tá bom, eu vou".


Ele sabe quando estou enrolando.








sábado, 16 de maio de 2020

Assim Falou Zarazilda para Hannah: A Banalidade do Mal Paraense


Cara Dona Hannah (é assim que se escreve?),

Hoje li em uma dessas revistas na internet que um dominador de tudo, um ditador, é mais cruel que um dono de escravo ou um tirano e que tal dominador destrói mais que a miséria ou um grileiro desmatador[1]. Que um controle total das pessoas coloca no matapi os homens. Diminui eles a tal ponto que nem parecem mais pensar ou querer pensar.

Lendo isso, percebi que era um pensamento seu e resolvi escrever. Isso, sobre a Banalidade do Mal. Quando o Mal fica assim, assim, espalhado. Quando o sentimento sobre o Mal é tipo nem-fede-nem-cheira. Que quando isso se prega nas pessoas, elas nem ligam mais se alguém está morrendo, se está sofrendo e até participam desta matança, sem mais matutar sobre essas coisas que fazem.

Umas visagens vivas, ruins, ruins, da maldade.

Aí eu pensei no Seu Marciano. Pobre Marciano.

Marciano era um faz-tudo. Era bom na carpintaria, bom como pedreiro, bom como encanador. E mais do que isso, Dona Hannah, Marciano, que era um vizinho meu, era um bom sujeito. Uma pessoa de coração grande, calmo, calmo. Não mexia com ninguém. Sempre falava como que estivesse cantando um trecho de Martinho da Vila. É devagar, é devagar, é devagar, devagarinho...

Voltando ao que li da senhora, Dona Hannah, percebi que as pessoas podem se tornar maléficas por um conjunto de situações que as fazem parecer que anestesias foram aplicadas nelas, na principal artéria da alma. É esquisito, pois ao mesmo tempo elas mesmas a modo que se negam a ser boas, até de certa forma sabendo o que está sucedendo. Fico confusa.

Por que uns meninos e umas meninas que são informados às vezes agem com maldade? Olha que chegam neles as notícias, vá la, mesmo que não como deveria ser, pois zap-zap não é escola e sim uma ferramenta que nasceu pra gente fofocar. Mas é tempo em que quase ninguém pode dizer que é desinformado e ainda assim, brincam com a doença que tá por aí a tirar o ar das pessoas até matar num repente.

Aí que penso que o Marciano poderia estar vivo. Ele tomava todos os cuidados. Era álcool-gel em tudo, na porta, nos móveis, andava de máscara dentro de casa até, sabia? Ficava no quarto dele se resguardando. Mas os netos, ahh, os netos passavam com aquele amontoado de meninos e meninas pro quintal pra fazer farra. Isso mesmo, farra! A casa era um entra e sai danado e o coitado do Marciano a reclamar, mas não tinha força pra enxotar toda aquela algazarra a beber e babar pela casa toda.

Mas esses meninos e essas meninas sabiam... Tamanho mais de 20 anos e por cima faziam era xingar o velho que reclamava do barulho e do furdunço. Não era desinformação. Não. Não era. Tá tudo aí nos celulares falando. Gritando até.

Não. Era... como dizem... um posicionamento! Sim, cadê a solidariedade? Saber que o Marciano era um idoso? Cadê? Será que tanta violência passada na televisão, será que tanta opressão das autoridades, será que tanta falta de pensar ou ter escolha de um futuro fez destes netos anestesiados a tal ponto que nem se importavam que seu avô poderia morrer?

Olha Hannah, eu vejo aqueles malucos lá em São Paulo fazendo carreata em favor da morte e do doido maior. Ali não tem espaço pra Jesus no coração, não. É maldade. Só que eu também tô falando que esse sentimento do Mal Banal pode ter pego entre o pessoal mais pobre, por que não? É mau pastor falando todo dia de um jeito de querer que o outro se lasque. É gente pobre mas metida a rica que se pudesse pisava na cabeça do irmão ferrado que nem ele. É feirante dando cotoco pra jornalista como se dissesse “vou furar a quarentena, sim e daí??”.

“E Daí?”, disse também o doido maior.

É mostra que a maldade se espalhou, Dona Hannah.

Agora é hora dos indecisos se juntarem aos bons pra lutar, não é sempre desse jeito que tudo acaba? Porque de outra forma, vai ser um massacre.

O mal banalizado em nós que o Corona só arredou a cortina.

Agora os netos estão lá chorando a morte do Marciano, sem velório, tudo rápido, tudo acabado... Que o Universo receba este compadre. Que sua energia, agora estelar, se alimente do Amor e da Memória daqueles que lhe tinham um bem querer.

É, Dona Hannah, a briga no final é esta. Valeu a pena a nossa vida? A de Marciano valeu. Os netos? Ihh, vão correr a vida toda atrás do prejuízo por esse remorso. 

Pode até ser que algum deles nem tenha. 

Quando dele se apoderou o Mal Banalizado e não enfrentado.

O Cão existe, mas o Amor é maior.


Agradecida pela atenção,

Zarazilda, Bombozeira do Paar-Ver-O-Peso.

Estudante de geografia.








[1] Ler a matéria de Odílio Aguiar, Violência e Banalidade do Mal -  https://revistacult.uol.com.br/home/violencia-e-banalidade-do-mal/








quinta-feira, 14 de maio de 2020

CARTA SOBRE A NECESSIDADE URGENTE DO HOSPITAL DE CAMPANHA PARA A REGIÃO ORIENTAL DO MARAJÓ




ATT.
HELDER ZAHLUTH BARBALHO
GOVERNADOR DO ESTADO DO PARÁ
ASSUNTO:CARTA SOBRE A NECESSIDADE URGENTE DO HOSPITAL DE CAMPANHA PARA A REGIÃO ORIENTAL DO MARAJÓ

Belém, 14 de maio de 2020.

Excelentíssimo Senhor,

A Campanha Marajó Vivo é uma rede de solidariedade que objetiva atender a população marajoara com informações e ações de suporte para o enfrentamento da Pandemia causada pelo Novo Coronavírus. Tal iniciativa é composta por várias instituições da sociedade civil, religiosas, comunitárias, profissionais autônomos, professores e comunicadores do Marajó.

Acompanhamos de perto a crise sanitária que assola sobretudo o Marajó com a expansão da pandemia da COVID-19, pois as condições sanitárias e de acesso à saúde são muito precárias neste imenso território marajoara.

Ao analisar os dados oficiais sobre a progressão da Covid-19 nos 16 municípios do Marajó, verificamos que a taxa de letalidade da doença Covid 19 neste território (13) é de quase duas vezes maior que a do Brasil (6,8). Além disso, o aumento no número de casos quadriplicou nos últimos dez dias.

A Organização Mundial de Saúde, recomenda 1 médico para cada 1.000 habitantes e o Marajó tem muito menos que isso (0,12 médicos por cada 1.000 habitantes em 2018). Sabemos que investir em hospitais e profissionais diferenciados é uma estratégia decisiva neste momento de crise.

Diante desse contexto preocupante da expansão da Covid no Marajó, a Campanha Marajó Vivo vem solicitar a V.Exa. que:

1. Viabilize o Hospital de Campanha do Marajó Oriental de Soure o mais rápido possível para evitar que as pessoas dessa região procurem a capital do Estado, uma vez que Belém já está não possui vagas nem leitos de UTIs;

2. Incorpore, urgentemente, mais profissionais da saúde às equipes já atuantes para atender os centros de atendimento em saúde dos municípios marajoaras;


3. Viabilize a realização de testes rápidos na população marajoara para detecção da Covid-19;

4. Equipe os hospitais municipais com UTIs e Casas para Quarentena, devido à grande quantidade de famílias numerosas vivendo em residência com poucos cômodos, sem condições de isolamento em casa.

Estamos em uma corrida contra o tempo. Agradecemos as iniciativas tomadas pelo Governo do Estado do Pará no enfrentamento da pandemia no Estado e nos somamos aos seus esforços para ajudar a salvar vidas.


Pela Campanha Marajó Vivo:

Ima Célia Guimarães Vieira –pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi
Eduardo Portal –presidente da Associação O Museu do Marajó
Tomé Marques de Avelar–Coordenador Geral da Irmandade do Glorioso São Sebastião
Maria Nillene Colares Viana –Diretora Administrativa e Financeira da Fundação pela Inclusão do Marajó
Carlos Maciel –Coordenador Adjunto do Observatório de Direitos Humanos e Justiça Social do Marajó - OBAM/UFPA
Tainá Marajoara -Instituto Iacitatá Amazônia Viva









segunda-feira, 11 de maio de 2020

Imunidade e Primavera


Eu lamento a partida de tantos.

Eu tento manter o que penso de muitos na área da indignação. Para não ter raiva dos estúpidos, eu respiro o máximo que posso e conto até dez.

Até dez mil? Até quanto??!

Que exercício, Meu Deus ou Minha Deusa! Que exercício de humanidade.

Que minha imunidade seja salva.

Que o Sol a fortaleça em meu agradecimento à sua luz.

Que eu agradeça a cada bom alimento saudável para refletir sobre quem o produziu.

Que eu exercite o corpo para suar e expulsar toxinas e os tóxicos.

Que eu durma o sonho de quem sabe que haverá justiça. Também que eu tenha o sono tranquilo ao saber que meus filhos estão dormindo bem. Se não estão, não deixarei os podres dormirem.

Que eu beba a santa água da vida, é de lá que eu vim, naquela barriga.

Que eu ore, reze ou medite. Não sei se consigo fazer isso de forma absoluta.

Só que escrevi tudo isso pensando num futuro próximo.

Para quem estará em Setembro.

Para quem estaria em Setembro.

Isso, eu estou com meus olhos voltados para os sorrisos de Setembro.

Melhores serão os sorrisos.




sábado, 9 de maio de 2020

Lamberto, o traumatizado: Quando a História faz em ti Cemitério

Lamberto, o traumatizado, comentou a matéria de um sítio de notícias da Bahia:

"Vocês sabiam que o Netinho vai promover uma carreata pró Coronavírus em Salvador amanhã, no dia das mães?".

A neta Maria Aneci indagou:

"Vô, quem é Netinho?".

"Ahhhhhh, que bom, que bom que sua geração já não sabe", disse Lamberto sorrindo.

Maria Aneci deu de ombros e continuou a desenhar.




Sem traumas.







segunda-feira, 4 de maio de 2020

Repasses federais para o Combate à Pandemia Causada pelo Novo Coronavírus no Marajó: Portaria 774 do Governo Federal e PLP aprovado pelo Senado em maio de 2020


Caríssimos,

Repasso os valores pesquisados da Portaria 774 do Executivo e da PLP 39/2020 aprovado pelo Senado Federal.




Agora é monitorar o uso dos recursos.



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(*) Fonte: Fonte: Diário Oficial da União/ Portaria 774 de 9 de abril de 2020 - http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-774-de-9-de-abril-de-2020-251969714   ; https://bacana.news/prefeituras-recebem-bom-dinheiro-do-governo-federal-para-combater-o-coronavirus-saiba-quando-cada-cidade-recebeu/?fbclid=IwAR1znu4aC5I1bRr5XnEH5wXx44mc_ZuVGvZdebLy-bjZYEOzmJa6bjHMFVg 
(**) Fonte: IBGE Cidades - https://cidades.ibge.gov.br/
(***) Fonte: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/05/02/senado-aprova-auxilio-de-r-125-bilhoes-para-estados-e-municipios



sábado, 2 de maio de 2020

Edaísmo


ELE NÃO é igual a você eu até concordo.
Mas é fruto de uma sociedade doente e má.
Se não fosse, como poderia ser alçado a cargo tão alto?
Se não houvessem falsos profetas, como haveria de ter apoiadores?
Se não houvessem uma quantidade enorme de tiozões arrogantes que acham que tudo sabem, como poderiam criar engarrafamentos de maneira proposital na porta de hospitais?
Estávamos doentes há muito tempo.
Sociedade marcada pela TV de canal aberto tacanha e mesquinha, no ápice de apresentadores espalharem o ódio à tarde e à noite. Tem sido uma carga viral significativa.
O EDAÍSMO sempre esteve aí, na morte do menino pelos policiais, no ridículo apoio à saúde, educação e saneamento basico. Na farra dos acionistas que comem dinheiro público.
É uma sociedade doente.
De impaludismo?
De individualismo?
De alcoolismo?
Escravismo?
É sobretudo de EDAÍSMO.
Não sei desde quando estamos enfermos, talvez desde sempre. Talvez a minha idade ou a sua.
Só sei que não se pergunta a idade aos poetas, nem às vítimas do Covid-19.
Porque esse assunto precisa ser tratado para a eternidade.
Pois estando ou não nas estatísticas, apontaremos nossos dedos para os desgraçados que nos iludem de Brasil enquanto aplicam EDAÍSMO.

Causa Mortis.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

O Novo Nome Daquela Estrela


Belém, pensando em Manaus, 1 de maio de 2020.


Caíste do nada
Nada eu pude fazer
E nas perguntas ziguezagueando
Bati com a cabeça na realidade
Sumiste daqui
Nem pro tempo me dar um conselho
A lacrada vista do meu bem querer
Eu luto por ti

Luto por tua memória enfim
Me dá um sinal qualquer

Recordei o café que tomamos juntos
Eu lembrei da porta que você sorriu
O Sagrado Abraço
Que me aperta
Aperta
Aperta o peito
Tu te lembras da chuva que nós pegamos?
Tens na mente os bons momentos juntos?
O Sagrado Abraço
Que me aperta
Aperta
Aperta a voz


Fizeste tão falta
Olha que eu fiz pra ti
Não sei se é uma foto ou uma arte
Só sei que meu sonho mudou
E ficas assim
O tempo agora entendo a lição
Não vejo mas sinto na alma
Viraste estelar

Eu falo de sua raiz
Eu digo pra sua semente

Era uma vez tua pessoa feliz
Era uma vez tua pessoa amada
O Sagrado Sopro
Que me cerca
Cerca
Cerca de Amor
A saudade faz eu olhar pra cima
A saudade faz eu rezar aos céus
A Sagrada Prece
Que me traz
E te dá
A Paz.
Pantoja Ramos