Carlos Augusto em viagem da equipe da ONG FASE do Pará ao Espírito Santo. Ano 2005.
Viagem ao norte
do Estado do Espírito Santo, amém. Tratava-se de uma paisagem
esverdeada, lembrando a minha infância jarilense, criancice voltada para
aquele bando de soldados dispostos em linha, tal qual uma parada
militar soviética, tal a sincronia. Florestas de eucaliptus prontos a
guerrear com as nativas, frios, competentes, pragmáticos contra os
absurdos assimétricos e colossais árvores legitimamente equatoriais.
Em terras capixabas, os patrocinadores
são o fiel da balança em favor dos eucaliptais que abastecem as
indústrias de papel como Aracruz, Bacel, Veracruz. Suas armas são
representadas por políticos e meios de comunicação que apresentam a sua
superioridade econômica quando comparada à já rala Mata Atlântica. Do
lado fraco, somente parceiros. Índios que outrora pescavam, caçavam e
plantavam. Recordações de flora que abrigava vidas e culturas orais e
escritas que estão a definhar pelo tratamento hostil do plantado.
Constatei o impensável: guaranis e
tupiniquins pedindo para visitarem uma reserva de mata para ensinar os
filhos o que é uma envira, um sauí-preto, um caxinguelê. No eucaliptal,
um gavião voa tedioso e se depara com um tatu perdido, como sempre
solitário: “nosso acordo é continuar existindo por aqui. Vá em paz”,
comenta a ave.
Mata estéril que isola os homens e as
mulheres, que esteriliza o solo e seca as fontes de água, avançando
conforme seus patrocinadores ordenam. E são gulosos. Quilombolas e
índios condenados a viverem de restos de madeira deixados para trás como
esmola para fazerem carvão, sujos nos pulmões e na dignidade. Cercados,
anulados, atrofiados. Eu vi um gueto. Um gueto cercado por imensos
muros verdes.
Aracruz, 09 de Agosto de 2005.
Texto publicado nos sites Recanto das Letras e Racismo Ambiental
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