"Pobreza
é não ter escolha", gostou da frase Jô. Olha que interessante, seria uma
máxima eu que teria inventado? Não que eu queira na ambição boba um dia
pesquisar no Google e achar lá o nome
Pantoja Ramos vinculado ao termo pobreza
é não ter escolha, isso, repito, é bobagem. Interessa-me muito mais
provocar alguém para que leia este pseudo ditado, olhe pra cima e repita em voz
quase sibilante um "taí, pobreza é não ter escolha", sorrindo e avaliando
filosoficamente como fez João Grilo sobre a parte final da sentença proferida
por Chicó no Auto da Compadecida:
"pois tudo que é vivo, morre, taí?"[1]. Mesmo
o sabido João Grilo se surpreendeu com a profundidade proferida pelo amigo.
Tal frase
saiu de mim assim sem programação, talvez cuspida de tantas andanças e viajadas
de barco pelos interiores da Amazônia. Acúmulo de visões e conversas,
diagnósticos socioeconômicos e ambientais sem ficha de entrevistas e sim na
base da prosa. Eu vi a fome? Vi. Eu liguei os pontos sobre lugares onde havia
exploração sexual de crianças e adolescentes? Sim (Tajapuru). Eu constatei
jovens se embriagando e descontando seus traumas nas ruelas em forma de
assalto? Constatei. E de tanto caminhar, não sei o porquê de sair a frase, mas
saiu: “pobreza é não ter escolha”.
Se olhas
para os lados e não tem comida, é a máxima forma de pobreza. É a miséria, hoje
orçada quando uma pessoa tem menos de R$136,00 mensais para se manter[2].
Se não tem
caderno, se não tem escola, se não tem professor ou professora, ou falta
gasolina para o transporte dos estudantes, ou falta merenda para meninos e
meninas em plena fase de nutrição do cérebro a partir da boa alimentação; e se
não estudei por falta de escolha diante de tantas condicionantes, fiquei pobre.
Se me
contundo na bola e vou atrás de um posto de saúde, não encontrando material que
me cuide do joelho, nem médico (que até tinha na cidade próxima, mas foi embora
pra Cuba), minhas escolhas são limitadas. Sem alternativa a não ser rezar para
que Dona Nazaré e seu óleo de andiroba me sejam milagrosos (e são às vezes) enquanto
consigo ir para a capital para exames mais minuciosos. Enquanto isso, ando a
dor do peso dos anos, capenga de um lado. Contudo, mais capenga é um país com
declínio de solidariedade.
Nosso país
é midiaticamente pobre de conteúdo, enquanto paradoxalmente milionários seus barões
da comunicação. Ou é proposital? Não sei nem se tenho escolha para obter outras
formas de informação e conhecimento, pois o que me chega é que a Televisão e os
Grandes Jornais são os detentores da notícia. Não, estou equivocado. Não é bem
assim, torno-me rico quando pesquiso e encontro muitos profissionais sérios do
jornalismo no Youtube e outras páginas da internet. Tenho escolha, só não sabia.
Sou pobre neste sentido (as das notícias) até perceber que não preciso ser.
A escolha
e seu irmão mais velho e sábio, o Livre-Arbítrio, são elementos que precisamos
exercitar. Entender que algumas redes sociais lançam uma falsa sensação de liberdade,
provada por A+B nas últimas eleições dos EUA e no Brasil. Não sou filósofo, mas de tanto estranhar as propagandas
e temas que me chegam como se soubessem o que estou assuntando ou tenho
preferência, fiquei a desconfiar dos algoritmos, que agridem minhas escolhas
livres por meio da captação de meus dados pessoais[3].
Se Espinoza diz que precisamos nos libertar dos nossos sentimentos e sensações
para obtermos tranquilidade[4],
o volume de informações falsas e induções que mexeram com o emocional dos
eleitores brasileiros ideologicamente e na prática culminaram que milhões de pessoas
elegessem mandatários provavelmente a não nos trazer paz nos próximos 4 anos e
isso já se vê desde o dia 1 de janeiro de 2019. Portanto, devemos monitorar o quanto
da modernidade trazida nos aplicativos de celulares nos prejudica em nossa
capacidade natural de decidir em favor do bem-estar coletivo. Ou seremos
Id-Otas (aqueles que só olham para o próprio umbigo)[5]?.
De tanto
viajar e perceber que não sou nenhum técnico genial, mas apenas um apresentador
às pessoas de escolhas técnicas e escolhas políticas nas comunidades onde trabalhei,
percebi que os resultados destas famílias surgem quando elas entendem possuir
opções para jogar com esta ou com aquela carta contra as falhas governamentais.
Nada fenomenal, apenas o demonstrar que pode haver uma escolha, uma bomba
d´água diferente, uma forma outra de manejar a floresta, uma modalidade
fundiária, se planto essa árvore frutífera ou aquela outra, tudo aquilo que
possa enriquecê-los na Esperança.
Por fim,
penso na pobreza de espírito de algumas pessoas. Que não abrem a mente e o
coração para o diverso e o plural. Que internamente estão com a porta fechada
para as possibilidades do pensamento humano e para outrem. Que aboliram o
debate, que é canal de alternativas. Um país mais pobre do que nunca em
diversas áreas se não nos mobilizarmos.
Pobreza é
a falta de Escolha.
[1] “É
verdade; a cachorra morreu. Cumpriu sua sentença, encontrou-se com o único mal
irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra,
aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de
condenados, porque tudo o que é vivo, morre...”.
[2] Veja
o cálculo feito com bases em estudos do Banco Mundial em https://www.valor.com.br/brasil/5446455/pobreza-extrema-aumenta-11-e-atinge-148-milhoes-de-pessoas
, o qual me fez denunciar a Emenda Constitucional 95 como um ato contra a
população mais pobre em https://meioambienteacaiefarinha.blogspot.com/2018/05/sobre-os-repasses-federais-aos.html
[3] Ver
a reportagem da Folha de São Paulo sobre o assunto https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/12/operacao-de-influencia-russa-nas-eleicoes-dos-eua-visou-eleitores-negros.shtml
[4]
Recomendo a leitura do livro “O Mundo de Sofia” para entender de maneira
didática Espinoza e outros pensadores consagrados da Filosofia.
[5]
Mário Sérgio Cortella comenta este termo em seu vídeo publicado na página https://www.youtube.com/watch?v=XjpHBYLwL8Q
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