terça-feira, 26 de março de 2013

O MENINO NENÊ RIPA DE PORTEL, MARAJÓ, EM 5 ATOS



Portel, 05 de março de 2013.


                                                           

ATO 1 – NASCER


Nenê nasceu naqueles idos de 1998. Época de verão moderado, mas de muita poeira e muinha espalhando-se pela cidade de Portel, naquele mês de junho. Seu Frank passando de bicicleta virou a cabeça para perguntar a si mesmo o motivo de tanta gritaria da moça Gracieli muito nova, naquele casebre que mal se via, apertada por duas outras moradias no lado das estâncias a receber madeira serrada. Estava para dar a luz a um pequeno, mas ela mesma era ainda pequena em sua idade, chutemos no máximo uns 16 anos porque não se deve perguntar a idade às mulheres nem dizer assim de graça. O pai, Dagoberto, futuramente conhecido como Viracopos, pede para Agenor e seu táxi velho, um Chevette 1980, levarem a quase parida para o hospital portelense. O motorista chega rápido na casa de moça Gracieli, porém na hora da saída com a gestante encrenca o carro e obriga aos 2 homens que por ventura passavam por ali, um carreteiro levando areia e um prestação, no obséquio de empurrar o calhambeque, batendo-se chave e pegando a bateria na terceira tentativa num “vamo que vamo”. E partiram pulando o pai, a mãe e a barriga nos buracos agoniando ainda mais a mãe Gracieli, em meio aquele cheiro de gasolina, estofado velho e tetânico do veículo que percorria o corredor de casas e galpões que abriam frestas para o rio de vez em quando e jogavam ao ar o barulho das pequenas serrarias a produzirem tábuas. Os homens que entulhavam a madeira pararam por um instante ao perceberem o choro da vizinha que rasgava a tarde.


A enfermeira jovem corre para a enfermeira chefe e diz do acompanhamento da parteira à moça Gracieli, que segundo dizem, apontava para criança virada. A parteira, Velha Silvana, deixou escrito que talvez tivesse tido sucesso em desvirar o nenê, registrado naquele bilhete com pontas meladas de copaíba e andiroba juntas, antes de partir para o Médio Camarapi, onde morava quase escondida de todos e só se permitiu cuidar da moça Gracieli porque esta era sobrinha de uma grande comadre sua, amigas que ficaram dos antigos cursos de reconhecimento das parteiras.


A enfermeira chefe torceu a toalha para a moça Gracieli morder, pois só assim, no urro e no dente, o menino sairia. Na maca dançante e enferrujada em suas quatro bases, a quase mãe botava todos os santos pra fora, o que fizera fugir até as aranhas, impregnadas ali faziam tempos nos escanteios da sala de parto. “Meu Deus”, pedia ao Supremo que resolvesse a questão, enquanto a enfermeira chefe escroteava com a pequena exigindo mais força para expulsar a criança. “bora, enfrenta, antes só bem bom, agora aguenta!”. “Vai pra merda”, respondeu moça Gracieli, quando surge a cabeça. “tá enrolado o pescoço no cordão!”, alerta a enfermeira jovem. A enfermeira chefe nos altos de seus 30 anos de trabalho, com muita habilidade traz a cabeça da criança sem magoá-lo no umbilical cordão até o ponto de achar que poderia ainda com o rebento não saído inteiro meter-lhe a tesoura e separá-lo da mãe fisicamente. Assim o fez. Veio um menino. Um pequeno meio engasgado pelo resto de cordão que prontamente foi-lhe aliviado. Levaram-no ao colo da mãe Gracieli quase desfalecida e os dois ficaram ali parados, soluçando um para o lado, um para o outro, solidários entre si no cansaço. Três horas depois, brigou pelo primeiro leite o pequeno Samuel, futuro Nenê Ripa.



ATO 2 – CRESCER NA PRAIA E NAS TÁBUAS


Primeiro chamaram-lhe de Nenê. Miúdo talvez da dificuldade da mãe Gracieli em alimentar-se direito durante a gravidez, por causa do excesso de enjoos que a perseguiram os 9 meses que a fizerem ter asco de quase tudo, até de Dagoberto e seu perfume de Alfazema. Não foi por falta de comida da mãe que nasceu o bebê magrelo. Dagoberto era funcionário da Madeireira Locama e naquele ano de nascimento de Nenê a firma estava em pleno funcionamento, vendendo madeira branca e madeira de lei sem maiores problemas. Contudo, sabiam que estavam indo mais longe do que o costume para buscar angelim e maçaranduba, nas cabeceiras do Camarapi e Pacajá. A virola estava começando a escassear nas bandas de Breves, do Mapuá ao Jupatituba. Vinham serrando e laminando sem maiores atropelos. Com pagamento em dia quinzenalmente, recebia os vales e mandava ver nos ranchos. Bebia só em momentos realmente especiais, até porque era vidrado mesmo no trabalho, de 08 às 18 hs e na sua esposa Gracieli, colocado muito jovem à condição de encarregado na empresa. Para exercitar o corpo, jogava bola no campo do Camel. Era um apurado na bola e um bom serrador, conhecedor dos lari-laris das madeiras que teimavam algumas em rachar.


Nenê dos 4 aos 7, quando já se saía da mãe Gracieli, corria por entre as tábuas da estância do tio Bosque próximo à sua casinhola. O tio era homem grandão, brincalhão e barrigão que “Ispia menino, cuidado com essas tábua”. Não tinha como evitá-lo. Menino que se preze quer espaço e sua residência mal dava pra ele disparar. Era ter a porta aberta e mergulhar por entre as pilhas de ripas, tábuas, pernamancas, flexais, esteios. Era perito em esconder-se dentro delas, muitas vezes deitado a camuflar-se. Esguio, serelepe e com odor de serragem de tanto se misturar, acabou Tio Bosque lhe rendendo o apelido de Nenê Ripa.


Outros moleques também brincavam naquela confusão, convidando agora Nenê Ripa para sair para as praias. Mãe Gracieli só deixava ele ir na praia próxima, do Joãozinho, com cuidado a observar as marés secas que chamavam as arraias. Botava medo nele que ferrada de arraia dói até depois de sarado, só de lembrar do sofrimento. E pior que pinica mesmo. A praia do Joãzinho depois dos grandões terminarem a sua bola virava um paraíso pra aquela meninada: era um show de acrobacias, de pega-pegas, de nadadas rápidas, de gargalhadas. Nenê Ripa já se destacava pela capacidade atlética de torcer o corpo em carambelas. Ia feliz e voltava feliz. Tempos depois passou a chegar tristonho, já aos 7 anos. Fugia para não escutar a briga dos pais, onde Dagoberto, agora apelidado de Viracopos, ameaçava bater em mãe Gracieli, caso ela não desse o dinheiro pra ele beber 2 dedos de cachaça, “Mulhé, e só!”. As coisas tinham piorado no trabalho da madeireira. O salário tinha baixado e colegas seus foram demitidos, agora bebedores além do final de semana e que traziam Dagoberto para esta nova fase de sua vida. Tal a sua vontade ficou em beber cachaça, tal a desenvoltura nos minicampeonatos de tragos, que não demorou a lhe darem o epíteto Viracopos. Não jogava mais bola, sua vergonha na última tentativa de conciliar futebol e álcool terminara ao quebrar a perna de um adolescente, uma promessa, que lhe dera uns aviões humilhantes. Foi banido futebolisticamente do Camel.





E isso refletia em Nenê Ripa. Agora, revoltado com a situação do seu lar, que aos poucos estava virando apenas casa, o menino começou a puxar confusão, partindo pros socos na primeira encarnação ou brincadeira com os pais. E nem importava o tamanho do adversário. Se apanhava, corria pra estância e trazia uma ripa. As coisas aí ficavam igualadas. Passou a ser temido e virou um magrelo fanfarrão, intimando os filhos pacatos dos outros e fazendo-se líder das cambadas que iam brincar de polícia e ladrão. Tio Bosque estava decepcionado com o menino. Era o único que deixava o moleque sem jeito com suas esculhambações. Quietava. Batia No filho do diretor da escola. Quietava. Balava calango só para ajeitar a mira. Ralhavam-lhe. Quietava. Espantava a velha Tonha com máscara de carnaval no dia de Finados. Surravam-lhe. Quietava. Quebrava o supercílio na guerra de castanhola. Quietava. Dedava a Rosa no corredor da escola. Apanhava. Quietava. Pisou em prego enferrujado quando tentava olhar a Raimunda se vestindo. Medicaram-lhe. Parava. Apossou-se do relógio de seu Eurico esquecido dentro do banheiro de um barco. Apanhava. E assim foi levando a infância.


ATO 3 – O ACERTO COM OS ARREDIOS

Mal se falava em Samuel. Na grande maioria das vezes citavam Nenê Ripa. Aos 10 anos seu pai Viracopos já estava no terceiro ano de desemprego formal, um ajuntamento de renda que ia do carregar de seixo ao carregar de malas nos portos da cidade. Não se conformava em não ser mais homem fichado com salário constante e supervisor. Culpava o Ibama pela decadência das madeireiras de tanto mandarem multa e prisão das balsas. Tio Bosque avisava que o Ibama era só uma das causas, que os próprios madeireiros tinham se fartado tanto e levado seu dinheiro ganho pra outro lugar, sem se preocupar em plantar, “só queriam tirar”. Dizia que o mercado da madeira lá fora também tava ruim, pois escutou isto do Velho Frank, o homem que mais sabia do mundo em Portel. Viracopos não ouviu nada, pois já tava na metade da garrafa de aguardente e continuava a culpar a humanidade por sua desgraça.


Muitos outros pais estavam na mesma situação e esse problema causava um desvio de comportamento aos seus filhos: de serem arredios às suas figuras paternas. “não quero buscar ele, ele tá porre”. “mana, o pai te mexeu?”. “mãe, porque você tá chorando?”. “sou o Miquéias, não o João”. “pai, não me bate pai, não, pai!!”.
 Assim os arredios foram se encontrando, se acertando. Passaram a só andarem juntos. Uns queriam ser iguais aos pais e um dia que eles não esquecem, o Tarugo veio com 5 latas de cerveja. Tarugo, Miquéias, Sombra, Jabota e Nenê Ripa provaram do suco alcoólico. Ali selaram o pacto. Continuariam a ter lazer, mas conversariam coisas de adultos sem que ninguém percebesse, fariam saliências ao mesmo tempo com a Celina da rua do cemitério, roubariam as galinhas do seu Ramos, dariam porrada nos irmãos Macacos, jogariam no time do Dudu e beberiam com dinheiro dos pais bebuns. Nenê Ripa sem querer liderava a palavra final aos atos. Cresceram nestes estratagemas.


ATO 4 – SER CONVENCIDO PARA O DESESPERO

Nenê Ripa e os 4. Não era uma banda de rock. Era uma pequena turma formada que aos 14 anos de cada um badernavam na cidade e já no interior. Foi num cascudo dado em Jabota por um professor que começou de fato a fama dessa trupe. Ao darem uma surra no professor Laurelino, percebeu-se o quanto tinham ficado perigosos, sem atenção dos pais e da sociedade local nos últimos 4 anos, crescendo silenciosamente na vontade de bater nos seres humanos, muitas vezes sem causa aparente. Apesar da luta dos professores em formá-los dignamente e com todas as dificuldades existentes, foi no despreparo de um que surgiu a notoriedade infeliz de Nenê Ripa, o primeiro a socar Laurelino, logo depois os 4. E passaram a ser párias temidos, com o preconceito gratuito de meninos encrenqueiros e nada mais.


Foi quando Sebo de Holanda chegou em Portel. Vindo de Abaetetuba trazendo maconha e umas petecas de cocaína, chegou-se primeiro aos adultos alcoólatras. Não foi investimento para seus planos funcionarem. Teve dificuldade pelo já estado deplorável de homens como Viracopos que não renderiam nada, nem tinham mais forças para roubar. Pesquisando na saída das escolas e andando pela praia, já naquele sereno de sábado, viu os cinco garotos bebendo cerveja na praia do Arucará perto da antiga igreja. “e aí, que é que tá pegando?”. “nada”. “olha que eu tenho aqui. Melhor do que cerveja”. “que é isso?”. “maconha”. “é isso que é maconha?”. “Gala Seca tu nunca viu?”. “kkkkkk”. “toma estes 5 cigarro, se quiserem mais, to parando ali no bairro Muruci perto da Caixa D´água. É só perguntar pelo Sebo de Holanda”. E o homem fedia a sebo mesmo.


Nenê Ripa e os 4 pegaram os cigarros mas não tiveram coragem. Não entendiam o motivo, mas sabiam que tinham na mão algo mais poderoso que a bebida, segundo pensavam. Voltaram para suas casas, guardando cada um o cigarro em diferentes lugares, por entre os esteios, em uma caixa atrás do sanitário do quintal, na casa do Tio Bosque que tava viajando para Macapá, na mesma mala que guardava as revistas de sacanagem já descoberta pela mãe e que já não ligava, dentro de um saquinho plástico colocado dentro do caderno. Em ocasiões acumuladas fatidicamente nos próximos 2 meses, os meninos se revoltam de vez e decidem vingar-se do mundo experimentando a maconha dada por Sebo de Holanda.


Tarugo teve a irmã abusada pelo pai novamente.


Miquéias não recebeu os parabéns do pai por não ter repetido de ano. Só o irmão João.


Jabota viu o pai bater na mãe novamente.


Sombra enxotou os urubus que confundiram o pai dormindo bêbado com um cadáver.


Nenê Ripa apanhou de corda de náilon até as costas parecem uma seringueira riscada, só que o látex era vermelho.


Em cima do barco que sempre ficava ancorado lá na praia do Arucará, o Desespero os convenceu que a vida estava péssima e sem alternativas. O melhor era fugir dela. Decidiram fumar maconha. Todos juntos em sinal de protesto. E ficaram altos. E beberam. E riram feito abestados. E falaram fino. E meteram cerveja em cima. E Jabota vomitou pra caramba. E Sombra quase morreu afogado. E deitaram na proa deste barco até o dia amanhecer.

Procuraram Sebo de Holanda. Não o acharam no Muruci. Souberam que estava na frente de Portel dando um tempo por ter esfaqueado um rapaz que não pagou direitinho suas dívidas. Nenê Ripa e os 4 foram até lá pedir por mais maconha. “como é que vocês vão me pagar?”. “não sei, com venda de picolé?”. “Gala Seca mesmo tu é!”. “toma, mas me paguem com a televisão da casa do Seu Brito, que mora a quatro casas no mesmo lado da rua da farmácia do Quincas”. “quero com o controle remoto, viu?”.
Discutiram se valia a pena. “eh, Nenê, se a polícia pega a gente?”. “pega nada Jabota”.


Naquela noite sem luar, Sombra fincou acampamento do alto do galho da mangueira que ficava em frente à casa do Seu Brito. Observava e daria o sinal quando na casa ficasse quieto e a luz da frente apagada. Mas desde já não dava pra vê-lo. Jabota estava na outra esquina e quando avisado receberia a televisão da sala do lado de fora e sairia, pois era o mais forçudo. Como preparação, Tarugo ainda de dia, daria uma balada no cachorro de Dona Vanda e outra na lâmpada do poste que costuma iluminar aquela parte da rua da farmácia. Miquéias e Nenê Ripa aproveitariam a barulhada para tirar pregos da tábua meio solta no assoalho da casa de modo que um menino magrelo passasse. Pegariam a chance da ida apressada dos entes da casa de seu Brito no susto de ouvir o grito do cachorro Araqueto. Para dar certo, contavam com o escândalo habitual de Dona Vanda a gritar contra a danadice dos moleques contra seu animal e a apontar o poste. Ela não decepcionou. Fez o maior escarcéu e os moleques enfraqueceram o assoalho.


De noite, Sombra percebeu a quietude e deu apenas um sinal de lanterna, apenas o suficiente para chamar a atenção dos pequenos comparsas. Eram duas da manhã entrando-se já no alto sono. Nenê Ripa esgueirou-se pelo quintal e usou seu próprio corpo para arrecadar a tábua do assoalho com a ajuda de Miquéias, cumprindo mais uma vez seu destino de ripa e confundiu-se com a madeira. Com o sofrimento de 20 minutos de varar pela fresta, enfim chegou à sala. Cuidadosamente pegou a televisão LED de 32 polegadas e foi para a janela da casa. Pegou o óleo de máquina que tinha no bolso, passou nas dobradiças da janela para evitar o ranger e arredou para cima o ferrolho, abrindo-a. Jabota já estava embaixo para receber o aparelho, aguentando a duras penas o peso. Pulou a janela e caíram no mundo.


E caíram esquecendo o controle remoto. “porra”! resolve Nenê voltar para pegar o dito. Tarugo pede pros outros irem embora e fica para esperar Nenê. O cachorro Araqueto reconhece Tarugo. “agora me vingo!” e late, late, late, late, late, late. Acordou Dona Vanda que pegou os meninos no ato. “mas que cês tão fazendo aí? Quem é?”. Sombra e Nenê disparam pelo quintal da senhora, Araqueto e latir, Dona Vanda a gritar ladrão. Agora sim o controle nas mãos. E nas mãos de Sebo de Holanda passaram a TV. Feito o pagamento.


Nenê Ripa e os 4 sentiram-se indestrutíveis. Intocáveis. Os mais espertos do mundo nas suas concepções. Arrogantes.


ATO 5 – Fim

Naqueles tempos, tudo se percebia sinistro. O vento do inverno passava frio a Portel e mostrava a escuridão da baía do Camarapi, assobios vindos de não-sei-quem. As pessoas evitavam estar nas ruas depois das 22 horas. Até os bares com suas músicas andavam tenebrosas, por mais que tocassem os mesmos tecnobregas e melodys. Tudo por causa das turmas que bebiam por ali. Como zumbis, andavam de um lado a outro pela rua da praia, parecendo gostarem de pousar na praia da igrejinha, o local mais escuro daquelas paragens. Desde a morte de um senhor alvejado por tiros em sua casa por ladrões surgidos do rio próximo, seria um lugar de lembranças e alerta para as pessoas que não faziam mal a ninguém.


Nenê Ripa e os 4 mantinham-se na concorrência, maiores, mais perigosos e mais audaciosos. Quando Sebo de Holanda fugiu pra Belém, pois a polícia tinha-o mapeado no Marajó, entre Breves-Melgaço-Portel, deixou como aviãozinho-mor ou chefe de boca interino o jovem Nenê. Maltratava assim o coração de mãe Gracieli, alguns anos sobrevivendo dos enganos de si mesma em relação às atividades do filho. O pai, Viracopos, vivia em frangalhos pela cirrose adquirida faziam ano e meio. Além do chefinho, Sombra, Tarugo, Jabota e Miquéias mantinham agora a rotina de beber no Arucará, vender “produto” na Portelinha e roubar no resto da cidade.
No carnaval, sangraram um menino até a morte durante a passagem do Bloco do Porco, simplesmente pela vítima ter atraído a atenção da namorada de Tarugo, Condessa. Todos sabiam que foram Nenê e sua turma, mas nada de justiça, inebriados estavam a população por aquele festejo. Vendiam bebidas aos jovens, outros apontavam que os jovens eram a causa da situação caótica, outros culpavam o governo, aqueles xingavam o presidente, já sabidos achavam que era um fenômeno explicado pela sociologia; indiferentes estes ficavam a contemplar a situação, ali em cima do cadáver. Apenas seu Frank avisava que em seus tempos de sobrevivência à segunda guerra mundial, percebia a mesma indolência da população europeia em relação aos problemas e que isto é caldo fértil para ditadores. Tio Bosque falava da perda de 3 gerações por conta da falta de um gostar maior de Portel. Os esclarecidos que poderiam mudar a situação brigavam muito entre si.


Naquele mês de março, um segundo sábado, chovia na noite portelense. Assim mesmo, no Mormaço, fazia-se o campeonato local de Treme, dança coqueluche no Pará. Tarugo era o cara nesse sentido. Nenê dava o jeito dos bons concorrentes abandonarem a competição. Tava tudo armado, mas o China, garoto da Portelinha, resolveu talvez por ingenuidade dos seus 13 anos, vencer a competição. Ficou marcado por Nenê e os 4. Como vingança, entrariam na maior na casa de China e roubariam o que viesse pela frente.


Letrados na arte do roubo e da intimidação ainda precoces, Nenê Ripa e os 4 foram ao bar, compraram umas cervejas, beberam e cheiraram ali mesmo na calçada. Pegaram das pistolas, meteram debaixo da bermuda frouxa e meteram suas cabeças pintadas para o rumo do lado oposto da cidade. Chegando à Portelinha, foram andando por entre as vielas, cabeças erguidas, passos dançantes, com as pessoas se escondendo em suas casas, pois sabiam que ali tinha confusão. Nenê na frente. Sombra fazendo a retaguarda. Jabota tropeçando. Tarugo com a mão dentro da bermuda. Miquéias empurrando o casal que teimava em não sair do caminho.


Na casinha de madeira feita de guajará e marupá, China assistia televisão enquanto o pai escutava o rádio Am com as últimas notícias do clássico Remo e Payssandu.


“Ei! Te arreda daí, te arreda daí!”. “como é que é?”. Tapa. China: “que foi?”. Tapa. Tapa na mãe. Tapa na filha. “Bora, cada um pega o que der...”. O pai de China corre pra cozinha. “Ê rapá, quer morrer??!!”, berra Nenê Ripa. E segue o velho com a arma em punho. Quando chega à cozinha, recebe um canhão no meio do peito da espingarda 12 que arrebenta o peito magrelo de Nenê, fazendo cair ali no corredorzinho, estrebuchando. O pai de China cria toda a coragem que lhe restava e sai atirando em tudo que se mexa na sala, até quase acerta a filha. Jabota pega um tiro na perna e sai mancando. Sombra puxa o revolver, mas a mãe de China se enrosca com ele, e na briga com a senhora atira em si mesmo, no queixo. Tarugo dá um tiro no velho, mas erra, e na reação do dono da casa, pega um tiro na barriga, se socorrendo no pé de mangueira novo que vigiava por ali, abraçando-o. Miquéias sai correndo pro mundo. E some. Jabota quase é linchado pela população, mas graças ao policial que chegara no local, livrou-se do fatal.


Por milagre, Sombra e Tarugo sobrevivem. O primeiro perdera a língua. O segundo carregaria os chumbos por toda a vida até a úlcera final. Jabota passaria a mancar e a engordar, castigando o lado esquerdo do corpo. Miquéias realmente sumira. Nenê Ripa morrera. Viracopos, desesperado com a morte do filho, se encheu de uma falsa razão e matou o pai de China com uma facada no pescoço, quando este saía da igreja. Foi preso e mandado para o presídio de Americana, em Belém. Por lá se desfez.


No enterro de Nenê, só estavam mãe Gracieli e Tio Bosque. De mãe Gracieli só escorriam as lágrimas, pouco barulho havia, pois seu menino a muito não era mais seu.
Ao ver Nenê Ripa e caixão que mais parecia um caixote, Tio Bosque lamentava-se: “Não foi uma ripa. Foi apenas uma árvore maltratada”.


Miquéias foi morar no Maranhão, lá pras bandas de Imperatriz. Converteu-se ao protestantismo. Casou-se. Teve filhos. Mas ao rádio Am, quando escutava uma faixa paraense, chorava copiosamente na música de seu Gilberto:


“já não aguento,
toda essa ansiedade,
to morrendo de saudade,
com vontade de voltar,
pra minha terra,
minha gente, meu Portel,
meu pedacinho do céu,
no recanto do Pará...”.

http://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/index.php
Pantoja Ramos

sábado, 16 de março de 2013

Linhão de Tucuruí e Comunidades

Rio campina, em Portel, já divisa com Melgaço: Linhão de Tucuruí passando em cima das comunidades e nelas, nada de energia elétrica. 

É hora de retomar o Luz para Todos com tecnologias para as famílias ribeirinhas.


Já é hora de mudar esses grandes empreendimentos que não incluem as comunidades agroextrativistas.












fotos - Carlos Ramos




sábado, 9 de março de 2013

DISCURSO DO PROF. NENA SOBRE A FUNÇÃO DO VEREADOR - 3ª SESSÃO ORDINÁRIA DO DIA 07 DE MARÇO DE 2013.


Excelentíssimo vereador Labinho de Oliveira, Presidente da Câmara Municipal de Breves; ......; ........;
Secretários, Senhoras e Senhores,

Ao tomar posse como vereador, descobri que existe um grande abismo entre o discurso teórico e as práticas existentes. Descobri que as praticas se contradizem com os discursos.


Esse abismo me fez mergulhar numa crise existencial porque ao longo de 14 anos de militância político-partidária e nos movimentos sociais, fui formando um posicionamento politico ideológico que acreditei ser verdadeiro, mas que na prática nos força a abrir mão dessa formação e ceder ao sistema aí imposto. Ceder às práticas existentes que se tornaram corriqueiras entre nós.


Soma-se a isso, o fato de que nossos próprios eleitores não entendem a dinâmica do processo legislativo, ainda não compreendem o papel da câmara municipal, que o vereador não tem a função de conseguir um emprego, comprar uma receita, comprar uma passagem, mas sim exercer o papel de fiscalizador do dinheiro público e elaborador de leis que beneficiem a nossa população.


E mesmo que eu não tenha me comprometido, os pedidos vêm. Muitos desses pedidos vêm de pessoas que não me apoiaram. Diante de tanta pressão, quase fui forçado a ceder.


Confesso que fui tentado a abrir mão daquilo que me foi dado no berço da minha família e moldado ao longo dos anos por pessoas que convivi e outras que não convivi, mas que sempre lutaram por um ideal.


        Fiquei pensando se Ganga Zumba seguido de Zumbi dos palmares não tivesse lutado pela liberdade dos negros num sistema escravocrata do século XVI; Se Guamiaba, cacique dos Tupinambás ou Ajuricaba tivessem se conformado com a escravidão indígena ou o domínio dos seus territorios; Enquanto muitos africanos estavam conformados com o Aphartaid, Nelson Mandela rebelou-se; o Pastor Martir Luter King lutou pelos direitos civis dos negros norte-americanos numa sociedade racista, mas quanto entre eles apenas se conformaram com a situação e não fizeram nada para fazerem a diferença.


Vindo para os dias atuais como ser o legislador, como ser um fiscalizador do executivo se estamos cheios de indicações? Até onde tenho liberdade para exercer o meu papel de vereador se estou sendo beneficiado por aquele que eu tenho que fiscalizar. Como pedir para chamar os concursados se eu fiz indicação de pessoas para trabalharem? Como solicitar concurso publico se a folha esta inchada por temporários?


Não sei quantas vagas os senhores indicaram, se indicaram. Mas eu quero lhe informar que abri mão de fazer qualquer indicação, não que eu não tenha tentado, confesso que até tentei encontrar uma brecha.


Eu abri mão de fazer qualquer indicação no serviço público, por vários motivos, porem citarei dois: se o voto aqui nesta casa tem peso igual para todos os vereadores independente da quantidade de votos obtidos nas urnas porque as diferenças nas indicações de emprego? Por que vereador A indica mais que vereador B?


Outro motivo é exatamente quando a minha categoria ou qualquer outra categoria do serviço publico municipal falar que a folha de pagamento esta inchada em virtude de indicações dos vereadores, que na campanha eleitoral fizeram promessas de empregos em troca de voto eu possa andar de cabeça erguida entres eles e falar eu estou livre desta acusação. Eu optei em fazer a defesa do concurso público.


Nobre pares, continuo falando isto, porque mesmo que eu tenha entrado na crise de ideologia, neste choque de realidade, mesmo que eu tenha sido tentado pelo sistema, pelas práticas que se tornaram corriqueiras na câmara de vereadores, largando tudo aquilo que eu acredito que é certo. Após dias de reflexão preferi segui na contramão. Por Favor, não confundam contramão com oposição.


É logico que esse meu posicionamento seria muito fácil se tivesse sido eleito na oposição, pois os argumentos seriam mais convincentes, as pessoas entenderiam facilmente que não posso arranjar nada porque o prefeito não é do meu lado.


Na situação é bem mais difícil explicar para as pessoas que eu não tenho passagem, que não tenho remédio, que não consigo emprego.


Quero que o meu conselho Politico compreenda que estou tentando quebrar esse vício politico que sempre ouve na câmara municipal. O vicio da obediência, de balançar a cabeça.


Sei perfeitamente que a minha atitude aponta apenas para um mandato de quatros anos, pois, por mais que eu me esforce na elaboração de leis, na fiscalização do dinheiro público, que eu entre oitos horas na Câmara e só saia as quatorze horas. As pessoas não reconhecem esse tipo de trabalho. É igual obra de saneamento básico ninguém quer fazer porque obra enterrada não atrai voto.


Mas o que seria do homem sem seus sonhos, sua fé? O que seria de mim se eu abrisse mão das minhas ideologias, das minhas convicções. Desta forma eu prefiro ousar a lutar por aquilo que eu acredito embora os meus eleitores não conheçam o conteúdo programático do meu partido. Eu quero seguir acreditando na esquerda, acreditando nos movimentos sociais, acreditando que nós podemos fazer a diferença, por menor que ela seja. Quero seguir em frente mesmo que não seja reeleito na próxima eleição para vereador, mesmo que a sociedade não entenda o que eu estou fazendo. Quero que todos saibam que eu não me candidatei para me manter no poder. Eu me candidatei para mostrar que é possível ousar, que é possível fazer diferente.


Este é o meu posicionamento e não o do partido.

Um bom dia a todos

Flávio Bentes – conhecido como Professor “Nena”.
Vereador do município de Breves em seu primeiro mandato


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Imperadores


Marabá, 06 de fevereiro de 2013.


Por muitos anos, um século e pouco, muitos interpretaram que a máxima “mais apto” surgida da obra de Charles Darwin em sua Origem das Espécies falava do mais forte. Apesar do erro de interpretação, soou como música aos ouvidos do capitalismo que a competição agressiva deveria ser a motivadora para o crescimento, selecionando os líderes e os países que dariam as cartas.


E cá estava eu a pensar nas formigas. E dirijo o olhar para as abelhas. De forma coletiva, vivem na objetividade de manter a espécie em cada um tem seu dever, sua tarefa para o grupo sobreviver. E no caso destes insetos, quanto mais organizadas, mais aptas estão para enfrentar os desafios de sua vida e continuar nesta terra. E nós, seres humanos, ao escolher a individualidade exagerada, permaneceremos por quanto tempo?


Nestas semanas estive em Itaituba, em Tailândia, em Marabá e ouço vozes do Marajó. Em todas as falas, percebi que demos às costas à floresta e aos rios, apesar de precisarmos bastante de seus recursos. Nos desmatamentos que vi, nos dendezais que passeei os olhos, nos novos grandes projetos que me informei, nas novas frentes agrícolas que constato, reflito a imensa dificuldade de nossa sociedade em reconhecer a natureza como objeto de zelo e cuidado. Sem manejar, poderemos levar a Amazônia a possuir no século 22 apenas 40 por cento de sua cobertura original, contra os nossos 80 por cento atuais . E daí inimaginável as consequências não somente para os nortistas, mas para o Brasil e para o mundo.
Acontece que o problema está em cada um de nós. Existe uma mania que chama a atenção: a de tentarmos sermos imperadores. Ganhar territórios, ser influentes, obter muito dinheiro, poder, influência, sermos temidos. Vangloriar-nos de levantar divisas sem ao menos morar na terra onde exploramos. Só de longe: imperadores. Sermos os mais fortes.


Tão metidos a imperadores que achamos que temos a solução para tudo. Que vamos lá de nossos gabinetes resolver o déficit em energia elétrica mesmo que seja em troca do afogamento de direitos, que vamos ganhar muito com a venda de cimento, que vamos colocar mais carne no mercado, que vamos transformar o município com a venda de madeira, que vamos salvar economicamente o Marajó com uma nova empreita patronal. E queremos espaço, terra, poder, dinheiro, admiração.


A educação nos oferecida tem sido campo fértil para formar imperadores. Nos governos militares serviu para impedir saberes e conhecimentos de fatos para poucos lucrarem absurdamente. Com a ignorância geral tentou-se despir a Amazônia. Nas décadas seguintes, começou-se a retirar a cortina que escondia a imensidão de riquezas que possuíamos, mas nosso olhar permanecia como a de imperadores: “o mundo é dos espertos”. E parodiando Garrincha que era convocado a driblar todos os jogadores adversários para fazer um gol, dizia “falta combinar com os russos”.


E o planeta ao parece e não devia, é o adversário dos imperadores. Entretanto, faltou combinar com o clima que ao mexermos demais com a natureza, colocaríamos a nossa condição humana em dificuldades. Faltou combinar com as matas do município de Tailândia que a cidade teria que mudar o ramo da madeira, pois se garimpou a floresta ao máximo e que morreria o rio Tailândia. Esqueceu-se de acertar com os rios que ficassem para irrigar os novos dendezais, mas o pasto anterior secou-os e não passam agora de fantasmas. Faltou combinar com o bacurizal que pintava o quadro de nossa infância que não sumisse. Só que agora, é grande plantio sem acerto prévio com a história das pessoas. Não estamos combinando com a Terra.


Na esperança nunca diminuída apesar dos dissabores, só uma educação distinta da atual pode nos mostrar um novo curso, com mais humanismo e holística. De desenvolver o ser e não o ver. A competição entre as pessoas e entre os países nos fere a cada dia e se alguém ganha materialmente com isso, é só durante a sua passagem na vida, ficando a herança para os vindouros tentarem equilibrar ou mesmo consertar.


Poxa, Sr. Paulo Freire, como posso ajudar a libertar as pessoas de serem imperadores, que tanto está levando a Amazônia e o planeta para o buraco?
Lá, de seu livro, o mestre responde:

- Meu caro, ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão. Pense nisso.






Pantoja Ramos

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Arrozeiros de Roraima agora ocupam o Marajó



Em 2009 terminou um longo e desgastante processo de desocupação de terras indígenas em Roraima, de onde plantadores de arroz foram retirados da reserva Raposa Terra do Sol. Aos poucos o assunto perdeu o interesse dos meios de comunicação e foi esfriando, até que uma nova luz vermelha se acendeu, desta vez no arquipélago do Marajó, onde já se instalou a maior parte dos produtores de arroz expulsos de Roraima, com uma proposta de ocupar 300 mil hectares com essa cultura.

Marajó é um dos territórios mais pobres do Brasil e, apesar de ser desde 1989, ano da Constituição do Estado do Pará, uma Área de Proteção Ambiental, nenhuma ação efetiva para a gestão dessa APA e para a regularização fundiária da região jamais foi implementada. Desde 2010 organizações da sociedade civil vem trabalhando para a estruturação de um plano para elevar a região à categoria de “Reserva da Biosfera” a ser reconhecida pela UNESCO. O processo está em andamento e é coordenado pela ONG Instituto Peabiru em um programa chamado “Viva Marajó”.
O pesquisador João Meirelles, diretor do Peabiru e autor de diversos livros sobre a Amazônia, alerta que a ocupação desordenada dessa região vai afetar a vida de milhares de quilombolas, ribeirinhos e moradores do Marajó, e aponta a inexistência de Estudos de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) para expansão da monocultura de arroz no Marajó.  Ele explica que o Marajó é a única área do Pará que não possui o Zoneamento Ecológico Econômico e a elaboração de um Plano de Manejo da APA seria o primeiro passo para se discutir a implantação de grandes projetos econômicos na região.
O tema está sendo alvo de debates no âmbito da Federação da Pecuária e da Agricultura do Pará, do Conselho do Agronegócio do Pará e da Secretaria de Estado da Agricultura, que na última desta terça-feira, 29 de janeiro, reuniram-se em Belém para debater o potencial econômico da produção de arroz irrigado no Marajó. Mas ficou fora da pauta as questões ambientais, fundiárias, sociais e de arqueologia que envolvem a atividade.
Está se formando em torno desse tema o duro jogo maniqueísta de “quem é contra joga a favor da fome e da pobreza” e que preservar a biodiversidade e a cultura local significa “condenar a população à miséria”. Não se discute um aspectos relativamente simples, que é cumprir a legislação ambiental e fundiária em uma região onde apenas 25% dos pouco mais de dez milhões de hectares é legalizada com títulos de propriedade e destinações públicas.
O que grupos ambientalistas e lideranças sociais da própria região defendem é que se faça a regularização fundiária da região, junto com um Zoneamento Ecológico Econômico para que se definam as áreas passiveis para a exploração agrícola e pecuária, não apenas pelos produtores de arroz, mas para qualquer atividade de impacto na região.
Algumas das principais questões sociais e culturais levantadas ambientalistas e lideranças sociais são:
- Saúde humana – o uso de agrotóxicos em larga escala, especialmente aqueles lançados por aviões, constitui-se em forte ameaça à saúde de crianças e idosos;
- Agravamento de risco de doenças – a presença de grandes áreas inundadas, inclusive em períodos de seca, no entorno de núcleos urbanos poderá resultar em aumento de insetos transmissores de doenças tropicais (dengue e malária, principalmente), o que precisa ser monitorado;
- Exclusão da participação local – A comunidade local está totalmente excluída. Os moradores das comunidades do entorno das fazendas de arrozeiros são afetados diretamente pelos empreendimentos e ninguém os ouviu!
- Comunidades Quilombolas – qualquer empreendimento de grande porte precisa ouvir as comunidades quilombolas do entorno;
- Patrimônio arqueológico – por lei, qualquer intervenção de grande porte precisa ser precedida de estudo sobre a existência de patrimônio arqueológico. A região do Marajó é considerada como uma das que possui maior patrimônio de artefatos de cerâmica do Brasil.
É simples, cumpra-se a lei e haverá espaço para todos.



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

RESEX Verde Para Sempre Receberá apoio do Governo Federal




Representantes do governo federal anunciam, nesta segunda-feira (21/01), pacote de medidas de apoio à Reserva Extrativista Verde para Sempre, localizada no município paraense de Porto de Moz (569 km da capital Belém). Dentre as ações, estão previstas atividades de melhoria nas áreas de energia elétrica, infraestrutura (habitação, abastecimento e saneamento), apoio à assistência técnica e regularização ambiental. A reserva, criada em 2004, é uma unidade de conservação federal sob gestão do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Hoje cerca de 2 mil famílias vivem na região, que está inserida em área de 1,2 milhão de hectares do bioma Amazônia. 

O anúncio será feito no local durante reunião com lideranças da reserva e contará com a participação de representantes dos ministérios do Meio Ambiente (MMA) e de Minas e Energia (MME), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Paulo Guilherme Cabral, representa o MMA no encontro.


Dentre as medidas de apoio à Resex Verde para Sempre, na área de energia elétrica será anunciada autorização à Celpa (Centrais Elétricas do Pará S.A) para publicação de edital do leilão para suprimento de energia elétrica. Também será divulgada a publicação de Portaria interministerial (Cidades, Desenvolvimento Agrário, Fazenda e Planejamento) autorizando atendimento dos beneficiários da reforma agrária pelo programa Minha Casa Minha Vida, ação do governo federal de apoio à construção e reforma de habitações populares. Para a região Norte os valores são de R$30.500,00 para construção e R$18.400,00 para reforma, e serão os mesmos adotados na Resex.

Também será anunciado o edital do Incra para contratação de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) Extrativista. O objetivo é garantir apoio diferenciado para as famílias que vivem na reserva, com contratação de técnicos e especialistas que irão fortalecer e apoiar as atividades extrativistas desenvolvidas pelas famílias que vivem na região. Ainda fazem parte do anúncio o levantamento e cadastro das famílias, diagnóstico das atividades produtivas e levantamento fundiário, e inclusão de cerca de 750 famílias da região no Programa Bolsa Verde, ação do Ministério do meio Ambiente de apoio às comunidades extrativistas que vivem em áreas de preservação ambiental.


Fonte: http://www.mma.gov.br/informma/item/8996-reserva-extravista-tem-apoio