domingo, 31 de dezembro de 2017

Jardim



Ele foi Jardim.

Fernando Jardim.

Bom pai, bom esposo, bom amigo.

Professor, mestre de muitos que aprendem que a floresta tem valor, foi notável defensor da natureza. Trabalhou na minúcia dos ourives, dedicado a traduzir o que a regeneração natural aponta para aquilo que é harmônico e nós, tolos, ainda não acreditamos. 

Professor Jardim nos ensina (para sempre) que é preciso olhar para os pequeninos, sejam plantinhas, sejam crianças no entender do quão é necessário haver florestas.

Plantou gente. Árvores que cresceram de um Jardim de ética, firmeza e justo argumento.

Aos de profissão (mas poderia servir para todos aqueles que amam a vida), dá mensagem:

"Tem que ter mais engenheiros florestais pra cuidar da floresta pra que eu possa respirar".

Que assim seja, mestre.

Continuemos plantando neste jardim.

Fernando Jardim.

O Jardim da Floresta.
 


sábado, 23 de dezembro de 2017

Dezembrada Amazônica

Fotos que marcam o dezembro de 2017 como histórico para a população amazônica:




Protesto contra a empresa Hydro, acusada de gerar grandes impactos ambientais e sociais em Barcarena-Pa.






Ana Margarida Ribeiro recebe na Alemanha prêmio internacional WANGARI MAATHAI "FOREST CHAMPIONS" pelo reconhecimento de sua luta pela conservação da floresta amazônica, Porto de Moz-Pa.






Educadores de Breves pressionam os vereadores a não aprovarem a proposta de lei da prefeitura municipal que traria perdas trabalhistas aos professores.





Aqui é Amazônia!


Lá vem 2018!






Mibaraiós: Pió


quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Brasil Almanaque de Cultura Popular



Objetos não fazem parte dos meus apegos. Isto é sem dúvida a origem de muitas críticas que recebo. Não é que eu não goste do materialismo nosso de cada dia (refiro-me aos de ordem financeira), só que infelizmente tenho memória e olhares mais ávidos para coisas que passam pelo invisível (virtudes) ou suavemente visível (natureza).



Nas exceções que cada um de nós temos, alguns objetos conseguem nos cativar, não por si, mas pela lembrança que pescam lá do fundo do rio. O monóculo, o carrinho de rolimã, uma calça estilo anos 1980, criancice e adolescência resgatadas quando revisitadas em matérias frias e ao mesmo tempo teletransportadoras.



Dos primeiros anos de profissão, tenho forte saudade do Barco Comandante Souza da ONG FASE e das revistas ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR da TAM linhas aéreas (não se trata aqui de propaganda, mas de reconhecer a iniciativa, valha-me Deus!). Não obstante toda força questionadora que tenho ao empresariado brasileiro, não poucas vezes subalterno ao establishment estadosunidense e/ou europeuconfesso que é indelével para as minhas bases e brasilidades o saboreio que tive dos periódicos sobre cultura brasileira pensado/organizado por Elifas Andreato e patrocinado por aquela tão globalizada empresa de aviação civil.  



Naquele tempo de muitas idas e vindas na Amazônia e Brasil através de viagens aéreas, enganava minha fobia por voar nas revistinhas postas ali na cadeira. Constatado e engraçado: minha curiosidade é maior que o meu medo, pois entre uma tremida e outra nas nuvens densas amazônicas, tentava aliviar a mente nas tiradas do Barão de Itararé, nos "causos" de Rolando Boldrin e na seção de fotos Lambe-Lambe. Tudo de uma Brasilidade incrível. Como eu ficava contente ao ler ali "esse exemplar é seu". Bacana. Mais um exemplar pra mochila. A comissária de bordo perguntava: "algo para beber?", respondia, "um suco de laranja e um almanaque por favor".



A revista Almanaque Brasil de Cultura Popular circulou de 1999 a 2014, coincidindo com minha vida de passageiro na ponte aérea Belém-Macapá-Belém de 2000 a 2009. Guardo alguns exemplares e folheá-los é voltar num tempo bom em que eu era aprendiz da importância de valorizar nossas raízes, de bons mestres que tive, da pressão de sair de Belém em um avião, pousar em Macapá, pegar um táxi até o porto do Grego em Santana-Ap e engatar minha rede no barco do dia com destino a Gurupá, naquele vento bacana que me descansava, lendo ou relendo a revistinha. O Almanaque ganhou uma página na internet, porém, não substitui jamais o papel impresso, meio molhado das minhas missões. Entendo agora quem coleciona gibis, inexplicável sentimento.



Com o lançamento do ALMANAQUE BRASIL DE CULTURA POPULAR em formato de livro neste final de 2017, muitos poderão ter a oportunidade de rever nossas raízes, chão, tradição. Se perguntar qual motivo de não decolarmos enquanto nação, mesmo sendo pássaro altaneiro?



Eu tive meu almanaque para vasculhar possíveis respostas.

A Memória age contra todas as formas de escravidão.


Elifas Andreato. Foto: do site Almanaque Brasil.



terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Todo Ano Maria e Bené


Trapiche da Ilha do Maracujá, Afuá. Imagem: Pandilha.




Belém, 22 de dezembro de 2016.



Ei Benedito todo ano é ano tuíra
Do açaí que todo tempo te admira
Maria do Céu ispia vem o pingo d´água
Afogando sempre que pode as suas mágoas


Pra quem tu emprestaste a esperança?
Bacana teu Bené te devolveu
A maré agora encheu
Rede chama que é hora de se aquietar


Maria reparaste a mangueira como está?
Riem fácil as crianças
Benedito valsou-te a dança
Rodopio de todo tempo o velho e o novo


Ei Mariazinha todo ano assim termina
Saudade do que é bom e o ruim que finaliza
Seu Benedito quem provou a eternidade?
Uma manta de retalhos costurada de bondade


Bacuris avisam que tem fartura à vista
A Mãe Terra dá mais uma chance
Mais um início de romance
Do engatinho à bengala um lance
Maria e Benedito plantam no terreno todo ano


Dezembrada pra janeiro é sorriso no olhar
Comoção de quem partiu
Emoção de quem nasceu
Viajante da amizade que aportou


Ei Benedito sabe que horas são?
Será tempo de ir rever o seu irmão?
Ei Dona Maria quanto falta e custa?
A mata pede vida da mulher sendo justa


Algum dinheiro vira-e-mexe é um pedido
Mas pra Maria antes de tudo é a pessoa
Bené concorda e prefere a alma boa
Fala profética na mente ressoa
Verdade que para os netos ecoa


Seu Benedito abraça Maria e vê o mundo
Dona Maria é abraçada e percebe tudo
No seu trapiche de vista pro horizonte


"Ei Ano Novo seja mais belo e bom com a gente
Do ano velho quero saudade tal rio corrente"
"Ei Ano Novo queria assim só um favor
Sejas quebra-cabeças pra juntarmos as suas peças de amor"

Pantoja Ramos
Postado no Recanto das Letras