Prezados amigos, parceiros e parentes, venho
compartilhar aqui a indignação e repudio dos povos indígenas karib do Parque do
Tumucumaque e TI Kaxuyana-Tunayana através de suas associações APITIKATXI e
AIKATUK sobre a lamentável morte do jovem
indígena Helder Kaxuyana Tiriyo, da Missao Tiriyo no ultimo dia 03.01.16,
segundo os caciques por causa da omissão de socorro e falta de assistência a
saúde indígena prestada pela nebulosa Secretaria Especial de Saúde Indígena –
SESAI Distrito Sanitário – DSEI Amapá e Norte do Para.
Talvez esta noticia será vista como mais uma
estatística de morte de indígenas por falta de assistência adequada e descaso dessa secretaria que tanto recebe
recurso para esse fim, recurso que diga-se de passagem somam milhões, mas que
estas cifras nunca fora transformada em atendimento de qualidade e diferenciada
a estes povos que tanto sofrem por falta de seriedade na prestação de serviço a
saúde indígena.
Quero aqui transmitir que nos povos indígenas
da região não suportamos mais o tanto descaso do Estado Brasileiro para com
nosso povo, não aguentamos mais o abandono, como se fossemos meros objetos
deste território nacional, não aguentamos mais ser mortos por tanta violência
moral, física e psicológica, não aguentamos mais ver 90% do nossos jovens
viciados em álcool, ver nossas meninas de 13 e 14 anos sendo aliciados pelos
aqueles que deveriam proteger a tal
soberania nacional, estamos cansados de ver profissionais de saúde da SESAI
chamar nossos parentes de índios fedorentos, estamos cansados de ver índios
morrendo de coma alcoólica, estamos cansados de ver jovens se suicidando porque
estarem drogados, estamos cansados de ver mulheres gravidas morrendo de parto
por falta de profissionais minimamente humanitários, estamos cansados de ouvir
que os governos não chegam ate o Tumucumaque por que e longe, estamos cansados
de sermos jogados como se fossemos simples adereços para responsabilidade de
outro estado como o governo do Para faz, estamos cansados de ouvir que não tem voo
de emergência por que atingiu limite de voo para buscar pacientes, estamos
cansados de comer quando doentes peixe estragados na CASAI, estamos cansados de
ver nossas mulheres se prostituindo em troca de 1 kg de arroz, estamos
simplesmente cansados de ver a morte dos
nossos jovens literalmente........ de tudo isso e muito mais estamos cansados.
E desta
vez não vamos ficar calados balançando a cabeça e receber tapinhas no ombro e
dizer que está kure, porque não esta kure desde dia em que transformou-se as
vidas dos nossos povos naquela missão trinômio que serviu só para ganhos dos
outros, missão para quem e de quem mesmo? Porque a missão de salvar as vidas ou
simplesmente mantê-las de forma digna não existe, essa missão há décadas só
usufrui dos recursos dos nossos territórios e de nossas imagens como sempre
fez. Quero aqui compartilhar a indignação não somente da família do Helder que
morre com pouco mais de 20 anos, que morre horas depois de ser impedido pelos
profissionais da SESAI de embarcar para CASAI de Macapá em busca de atendimento
com justificativas de que estava bem, essa indignação e somatória de todos os
descasos de décadas enfrentada pelos povos da missão Tiriyos e demais aldeias
do entorno.
Neste caso do jovem Helder, os familiares, os
caciques e a comunidade exige a responsabilização de quem tem obrigação de
socorrer e atender a saúde dos povos indígenas e não o fez , responsabilizar
aqueles que deslocam-se as aldeias com missão de atender as necessidades da
saúde dos povos indígenas e fazem o contrario,
exigimos uma investigação minuciosa do fato por partes do MPF de
Santarém e Macapá, para que outros jovens, crianças, mulheres não continuem
morrendo simplesmente por falta de compromisso, seriedade e atendimento pela
SESAI, como foi o caso do Helder.
Nos lideranças Indígenas NAO vamos nos calar
novamente diante de tanta perda, perdas que nunca serão reparados por nenhuma
ação, porem NÃO queremos mais
profissionais que brincam com a
vida das pessoas. Talvez a perda de um filho de pouco mais de 20 anos possa ser
mais simples aos karaiwa, para nos
Kaxuyana e uma perda dessa para o resto das nossas vidas, choraremos durante
anos, décadas ou ate mesmo o resto das vida dessa geração...estaremos de luto
para sempre.
Não ficaremos quietos, iremos exigimos
resposta, explicações contundentes e responsabilização dos envolvidos no caso.
Missão Tiriyo conclama pela ajuda, ajuda para
não perder mais jovens para o alcoolismo instalado, pelo abandono, ausência das
instituições como FUNAI, governo do Para, SESAI, Prefeituras, e demais
instituições que lá estão instalados.
Convidamos aos amigos, parceiros, advogados
para auxiliarem aos povos indígenas para levar essa investigação adiante,
solicitamos apoio na produção de texto de documentos e orientação para demais providencias na sede
da APITIKATXI em Macapá, assim como com deslocamento de 2 lideranças para
reunião urgente de lideranças na sede da associação em Macapá.
Contamos com apoio e solidariedade ao caso
Missao Tiriyos, aos que conhecem sabem que aquele povo (O MEU POVO) sempre
sofreu e sofre por tudo aquilo que citei acima, eu particularmente não
descansarei, esgotarei todas as minhas fontes de energia e vontade de ajudar o
meu povo, não somente porque 3 membros da minha família perderam a vida em função
dessa falta, mas por todos os povos que ali vivem bravamente a cada dia, por
tudo que minha mãe, minhas irmãs e eu sofremos naquela aldeia. Por todos os
meus parentes sangue do meu sangue, pois realmente sempre senti indignação por
tudo aquilo na dita Missão, mais ainda agora pela perda do meu irmão.
Conto com vocês, dentro da possibilidade de
cada um, seja para redigir documento, seja para traduzir algo, seja para dar
suporte jurídico enfim, não deixemos Povos da Missão Tiriyos morrer,
principalmente pela doença cruel o alcoolismo.
Angela
Amankwa Kaxuyana
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