José Varella Pereira é escritor e historiador marajoara, nascido em Ponta de Pedras. Oficial de Chancelaria aposentado pelo Itamaraty, o que lhe proporcionou notável conhecimento histórico sobre o Marajó e sua população, é um ótimo analista dos caminhos e contradições governamentais para desenvolver o Marajó. Luta para manter viva a memória do tio, Dalcídio Jurandir, consagrado romancista amazônico, porém, pouco valorizado nos currículos escolares.
Aos setenta anos, mantem firme a ideia de defender a "Criaturada Grande" (índios, quilombolas e cabocos). Ama o Marajó, a Amazônia: "Viva o Brasil, o maior país amazônico do mundo!".
Para conhecê-lo mais, pesquisar no Blog http://gentemarajoara.blogspot.com.br/
Abaixo, apresenta-se parte de seu ensaio sobre a Pax de Mapuá, evento escanteado das páginas escolares que marca o acordo de paz entre as sete caciques Nheengaíbas das ilhas do Marajó com a delegação de paz em nome da coroa de Portugal, negociada pelo Padre Antônio Vieira em 1665.
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AOS 400 ANOS DE BELÉM DO PARÁ,
LEMBRAI-VOS DE MAPUÁ.
Segundo o historiador José Honório Rodrigues, em "Teoria da História do Brasil", a História não é para os mortos. Quantas vezes, no passado, já foi dito que o relato do chamado "payaçu dos índios" é um caso inverossímil e que o tal acordo de paz entre caciques do Marajó e portugueses do Pará não tem interesse acadêmico?
No entanto, a historiografia das gerações passadas ou as esperanças do porvir, só tem significado no presente. A geografia esconde as consequências históricas. Se a academia ainda não despertou para o fato, pior para os acadêmicos do período colonial. Para os excluídos da História só o futuro interessa. Para isto a leitura a respeito de que somos, de verdade, donde vieram nossos antepassados e aonde podem ir nossos filhos e netos; é de todo nosso interesse.
A Criaturada grande de Dalcídio Jurandir (comunidades tradicionais ribeirinhas), em especial a associação de usuários da Reserva Extrativista Florestal de Mapuá, têm direito de saber o que rolou por ali há mais de três séculos e meio.
Porque sem Gurupá, em 1623, Mapuá, Aricará (Melgaço) e Aracaru (Portel), em 1659, certamente não poderia acontecer a adesão do Pará em Muaná, em 28 de Maio de 1823. A peça de teatro estampada tem, evidentemente, intenção se superestimar o papel dos padres e impressionar a corte. Mas, o fato é que o Pará dependente de índios para tudo, no século XVII, não havia como evitar a expansão das Guianas holandesa, inglesa ou francesa, caso não tivessem recebido a adesão dos chamados rebeldes "nheengaíbas" (nuaruaques) e seus parentes além Cabo do Norte (Amapá). Como Vieira frisou, na carta abaixo, enviada à regente de Portugal, Dona Luisa de Gusmão; viúva de Dom João IV, durante a menoridade de Dom Afonso VI, espécie de prestação de contas e preparação para regressar definitivamente a Europa.
É das atuais consequências da Lei de abolição dos cativeiros, de 1655, e da pax dos Nheengaíbas, fraudada pelos colonos do Pará para doação da ilha dos "Nheengaíbas" ou "Aruans" como capitania hereditária da Ilha Grande de Joanes (1665); que os marajoaras de hoje, com o mísero IDH dos municípios, devem se interessar a fim de saber mais sobre a invenção da Amazônia Brasileira no passado, a partir do Maranhão (1615).
Cujo empoderamento em curso por descendentes daqueles índios bravios e seus camaradas desertores degredados e negros escravos, todos eles refugiados em mocambos (quilombos) pelos centros da ilha; é garantia efetiva da soberania do Brasil democrático na região.
http://gentemarajoara.blogspot.com.br/2013/08/por-que-o-brasil-precisa-saber-da-pax.html
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Leia, escreva, cresça e apareça!
Vamos Lançante, escorrei mundo afora.
em tempo: Zé Varella é oficial de chancelaria aposentado pelo Itamaraty, não fez parte do quadro de diplomatas.
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