sábado, 1 de outubro de 2011

O Elias



                                                      setembro de 2003,


Meu avô passara.
Passara por mim
e quase deu pra tocá-lo.

Homem bom, de Breves,
puro,
viúvo desde cedo na vida,
abdicou da sacanagem, sua de direito.

Tocador de banda
daquelas que banjo e músicos ficavam cansados nos piseiros
e dançarinos que eram vigiados pelos pais das moças,
ai de quem beijar.

Ia para a roça,
da roça para casa
pentear filha,
catava lêndea
“e continuava homi”.

Radinho de pilha,
jogo do Remo,
sete da noite,
“pára com a zoada, meninu”,
quando o conheci.

Seu Elias, velhinho, não podia mais roçar.
Malmente escutar rádio.
Os nervos reclamaram:
“vou imbora daqui, si não pudé mais passá terçado no matu!”
E foi-se certa noite.
Não foi pro céu. Já era do céu.

Uma bonita jovem de sua mocidade o aguarda:
“cata meu piolhu, Elias,
faz tempu qui eu tô esperandu. Tá aqui a lata”.
Enquanto isso, aqui, nós continuávamos pecando...
Pantoja Ramos
Enviado por Pantoja Ramos em 04/09/2011
Código do texto: T3200954

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