Belém, pensando no povo munduruku, 19 de setembro de 2023.
Sendo o vento uma sinfonia que nos unia,
fiz uma contribuição junto ao Povo Munduruku
que me disse sorridente: "Kabia."
Tentei dizer o que minha civilização inventava.
Sim, inventava para dizer que sabia das coisas do mundo
pois na verdade pouco demonstrava saber,
já que escaldamos o planeta com nossa poluição,
já que esfumaçamos o oxigênio de nossos peitos,
já que envenenamos os rios dos inocentes,
já que nossa ganância há duzentos anos parece não ter fim.
E ao mesmo tempo em que eu explicava, eu me envergonhava:
Quem era eu pra contar sobre árvores, biomassa e vidas dos seres?
Quem era eu que cinicamente criticava o tal mercado de carbono
quando eu mesmo sou produto desta geração de poluidores?
E diante de mulheres que eram a própria
transfiguração da Mãe Terra,
e no meio de minha timidez e pequenez,
um dos caciques avisou-me:
"Essa árvore gostou do que você falou... ela até sorriu".
E fiquei tão lisonjeado, como nunca tinha ficado antes.
Kadaí (árvore) sorriu pra mim e eu até percebi.
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