Lamberto, o Traumatizado, hoje almoçou na Avenida Bernardo Saião, no tumulto de carros, ônibus, carretos, bicicletas, motos e gente pra lá e pra cá ganhando a vida nos portos e nos navios.
Bateu a fome. Sentou em um restaurante modesto, mesão de madeira para que todos almoçassem juntos, na
mobilização de pratos, farinha, água, pimenta e palitos de dente. O PF era bom,
bisteca, arroz, feijão e farinha. Lamberto pediu uma tigela de açaí para arrematar.
Enquanto comia, guardou o celular
e antenou os ouvidos para as conversas ao lado, de cabeça baixa para não
expressar qualquer tipo de julgamento. Chamou sua atenção a reclamação de
uma jovem senhora, por volta dos trinta anos de luta, que alto falava para suas
interlocutoras, senhoras a comer e ao mesmo tempo manejar as crianças que por ali estavam. Relatou
que mataram um jovem hoje de manhã cedo por lá. Segundo a jovem líder, 2 jovens
em bicicletas iriam assaltar uma pessoa num carro estacionado, mas assim que aproximaram, do carro saíram homens
armados e atiraram em um dos rapazes, que logo morreu, com o outro conseguindo
fugir por dentro do canal.
Ela contou que sua região era
muito barra pesada por causa dos traficantes e da própria polícia. Sobre esta,
disse que há 10 anos, quando estava grávida de seu primeiro filho, um grupo
entrou quebrando a porta de sua casa atrás de suspeitos. Que um dos fardados estapeou forte seu rosto, mesmo ela estando gestante de 6 meses. Apesar de dizer que não tinha
nada a ver com aquilo tudo, nem ela, nem sua família, por pouco não recebeu novamente
um tapa. Disse que passou muito mal com esta violência, temendo complicações na sua condição de esperar um bebê.
Lamberto ficou escutando essas tragédias.
“Tragédias que vão continuar”, pensou.
Deste assunto, aquela mulher pulou para outro de que abrira mão do "seguro da colônia" para não perder seu "bolsa-família". Que em anos passados, teve seu seguro de pescadora desviado de sua conta. Que chorou na Caixa Econômica para que recuperassem seu dinheiro e assim o fizeram. Em outro tema, confirmou para as demais que tudo estava muito caro. Que só não passa fome porque pinta unha, faz chopp, que não tempo pro que é mundano. Que seu marido é barbeiro, que é carregador do porto se preciso for. Uma luta. Imensa luta.
Lamberto levantou-se, pagou a conta e ainda escutou da jovem senhora: “por isso que vou votar no 22, pois Lula em 8 anos nunca fez nada e ainda roubou 3 trilhões de reais... Em nome de Jesus!".
Sem traumas (?).
Nenhum comentário:
Postar um comentário