"A
história da Comunidade Repartimento
Foto: Dilva Araújo
Quero contar uma história que muito me
chama atenção de uma comunidade chamada Repartimento do Pilão. Em 5 de janeiro
de 1960, montados em uns burrinhos por caminho de mata fechada, chegamos neste
lugar. Acompanhados de nossos pais – Sr.
Osvaldo Antônio de Araújo e D. Isaurina Almeida de Araújo – e de outras famílias
que vinham somente para a colheita de castanha, neste belo lugar que só existiam
duas famílias (o Sr. Paraíba e D. Gita, Sr. Raimundo Lopes e D. Joana).
As famílias tinham roças, só tinham
algumas plantas de raiz em seus quintais e não havia luz elétrica, era somente
lamparina a querosene. Existiam duas estruturas, sendo um galpão de colocar a
castanha e a cantina onde os castanheiros ficavam até irem para seus
castanhais. Essas estruturas pertenciam ao comprador de castanha, o Sr. Otavio Simplício
dos Santos, que morava na comunidade de Paga Divida.
No
final da safra de castanha meu pai e o sr. Jose Santana, resolveram não ir mais
embora, aí que começou a agricultura na comunidade. em 1961, já tinham roças
com plantios de mandioca, meu pai fazia farinha em um forno feito com duas
latas de querosene, enquanto minha mãe moía milho em moinho para fazer cuscuz, complemento
de nossa alimentação.
Foto: Dilva Araújo
Em 1962 já havia um morador, porém,
ainda continuava ruim, não tinha estrada para irmos para a Comunidade Bandeira,
tínhamos que ir montado em burros. No dia 24 de dezembro de 1962, meu pai
faleceu... A coisa mais triste que aconteceu, mas mesmo assim, minha mãe e nós
continuamos aqui. Em 1963 chegou um Sr. chamado Raimundo Coutinho, juntamente com
o Sr. Feliz Matias de Sousa. Eles reuniram os homens que aqui já estavam e
abriram uma estrada para que o carro chegasse até aqui. Não existia motosserra,
só existia machado e facão, e esse cidadão tinha na época um trator pequeno, que
ajudou a fazer a estrada e esse campo que hoje existe aqui na comunidade.
E assim foram se passando os anos e a
comunidade foi desenvolvendo os trabalhos de agricultura e extrativismo. Ai, chegou a vez de uma empresa chamada Jari,
que mesmo trazendo alguns benefícios para a comunidade, junto veio muito
sofrimento. Tudo era difícil: não podíamos fazer casa, só se fosse com ordem da
empresa, pois os seguranças não deixavam e assim por diante.
A comunidade só deu passo melhor com a
entrada dos prefeitos. Em 1985, um sr. Alfredo Hage, doou um motor de luz para
nossa comunidade, isso foi uma alegria. Logo depois veio a Sra. Marta Feitosa e
o Sr. Jaime Boi na Brasa, que presenteou a comunidade com a primeira televisão
e antena parabólica.
Hoje graças ao nosso Deus, a comunidade
já se encontra com escola, duas igrejas, uma evangélica e a outra católica,
cada morador tem seu plantio. Os conflitos nunca deixam de existir, mas também
temos uma associação que com muita luta esta organizada. Ah! Quero tirar uma dúvida
a respeito deste nome de Repartimento do
Pilão: primeiro, Repartimento,
por existir um igarapé que se divide em três partes, segundo, Pilão, por ser o lugar de referência
para chegar a comunidade.
E, continuando a historia, quero lhes
dizer que hoje, já tem pessoas que se deslocam de seus lugares para habitar
aqui, no caso de algumas famílias que vieram de Altamira/Xingu para conseguir a
sua sobrevivência neste lugar. Não tinham nada como quando chegamos, mas
encontraram uma comunidade com muito mais. Uns vieram com vontade de trabalhar
e ajudar a comunidade a crescer, como é o caso do Sr. Eugenio e sua família.
Outros vieram somente para gozar do que já tinha e melhorar suas vidas,
colocando bar na comunidade, fazendo roçado nas áreas de tradição dos moradores
(em castanhais) que somente as pessoas que já moravam aqui utilizavam.
Em nossa comunidade cultivamos:
mandioca, milho, arroz, feijão, banana, mamão papaia, também plantamos aqui
plantas de raiz como: laranja, pupunha, manga, caju, abacate, acerola, cupuaçu,
biriba, açai, cajá, jaca, graviola, noni, coco e jambo, também temos
hortaliças: pepino, alface, couve, maxixe, cebolinha, cheiro-verde (coentro),
salsa, pimentão, tomate, etc. Temos também criação de animais: pato, galinha,
porco, gado, burro, carneiro e picote (galinha da angola).
Então, meus amigos,
eu escrevo esta carta para que vocês saibam o que já passamos para chegar até
aqui, para que outros venham se aproveitar de nossa luta, gostaríamos que os
órgãos públicos entendessem o por que nós pedimos o documento (coletivo) para a
nossa comunidade e nos ajudasse a melhorar a nossa tradição, porque somos
tradicionais, temos 35 pessoa que trabalham na agricultura e na castanha e
outros que só trabalham com a agricultura."
Dilva Araújo, liderança comunitária
Foto: Dilva Araújo
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