“Ô Josué,
Nunca Vi
Tamanha
Desgraça
Quanto
Mais Miséria Tem,
Mais
Urubu Ameaça...”.
Da
Lama Ao Caos/ Chico Science & Nação Zumbi.
Caríssimos
e Caríssimas,
A
escrita nada mais é do que uma tradução, diria José Saramago. Se o mestre
literário está correto, então é dever de cada um que costuma redigir ser intérprete
das bem-aventuranças do mundo e das perversidades escondidas nas cortinas belamente
estampadas pelas estruturas humanas ignóbeis. Do que é singelo e expoente da
Criação eu diria que é mais fácil a espontaneidade de declamar poemas, tecer
prosas, narrar épicos, pois basta olhar a vida e sua plenitude original e se
sentir contagiado em desenhá-la pelo ato de escrever. Por outro lado, denunciar
o absurdo feito por nós mesmos nos alicerces construídos de injustiça
globalizada é algo desafiador, talvez devido à esquisitice a priori de reclamar de nossa própria condição e ação humanas, pois
não era para ser assim.
Neste exercício que
faço sobre a perversidade, caiu-me como uma luva os estudos da ONG Auditoria
Cidadã sobre a Dívida Pública Interna Brasileira, que me fizeram atentar
basicamente para 4 gráficos (neste texto exponho um deles) por ela produzida e
deste modo, vi-me impelido a escrever pretensiosamente como um analista do
assunto, sem ser economista, sem ser sociólogo e sim um mero cidadão, sem plano
de saúde, andante de ônibus, com casa financiada, sem emprego fixo, porém com
muito trabalho (Graças aos Céus!). Nem luxento, nem com luxo, mas com um lar
digno na medida do possível e ciente das vicissitudes de uma parcela
significativa da população. Estaria sereno na minha situação medianamente
brasileira se não fosse o gráfico abaixo:
Apesar dos últimos cálculos feitos pelos
pesquisadores da ONG Auditoria Cidadã serem de 2014 sobre os percentuais da
destinação do orçamento da União, é perfeitamente possível relacionar nossos
dias atuais com tais números, mesmo porque a metodologia não se modificou e os
sinais temerários apontam para o seu
agravamento. Então traduzindo: 45% (quase metade) de tudo o que o país previu
em seu orçamento em 2014 foi para pagar a dívida pública. É a dívida pública
aquela contraída pelo Tesouro Nacional para financiar o déficit orçamentário do
Governo Federal, nele incluído o refinanciamento da própria dívida, bem como
para realizar operações com finalidades específicas definidas em lei[1]. Ou seja, se o Governo não arrecada o bastante
para honrar seus compromissos, empresta dinheiro, na maior parte das vezes, dos
bancos privados. E aí que mora a perversidade.
“Mas ora, se emprestou, tem que pagar”,
alguém poderia dizer. Tudo bem, se não fosse o fato do próprio Banco Central
controlar estes juros nos empréstimos feitos, diga-se de passagem, um dos
maiores a nível mundial. Isso quer dizer que quem determina os juros a serem
cobrados é o próprio devedor, sempre a favor daquele que empresta! Uma
agiotagem ao contrário! E pior, numa relação de juros sobre juros, conforme
denuncia Maria Lúcia Fatorelli[2] chamada tecnicamente de
anatocismo, coisa de mercado em cima de orçamento público voltado para e pelo
povo (desculpem a redundância envolvendo as palavras “público” e “povo”, só que
nem tenho certeza se ainda o é). Para concluir que somos dominados por ímpios neste
sistema, quem vota nessas reuniões são quase que exclusivamente, representantes
do próprio mercado financeiro que detém a imensa maioria dos títulos da dívida[3]. Então tá explicado porque
a taxa de juros não baixa...
A precarização do atendimento à população
fica desta maneira em seus restos repartidos:
Quase 4% para a saúde; e eu não tenho plano
de saúde.
Quase 4% para a educação; e tu não tem
educação pública de qualidade.
Quase 3,5% para o Trabalho, e ele está
desempregado.
Nem 10% para estados e municípios; e nós
todos sofremos.
Nem 0,5% para a segurança pública; e vós
temeis a ameaça do tráfico na sua porta.
A miséria de 0,02% para o saneamento básico;
e eles pisam em vermes (desgraçadamente não nos vermes que mereciam ser
pisoteados).
E culpam a previdência (21,76%) pelos maiores
gastos, numa campanha midiática desde que me entendo como gente que os cortes
devem ser imediatamente realizados nesta área, que se lasquem os aposentados e
pensionistas.
Bem dissera o filósofo Zygmunt Bauman: “Os
governos vivem presos entre duas pressões impossíveis de reconciliar: a do
eleitorado e a dos mercados. Eles têm medo de que, se não agem como as bolsas e
o capital móvel querem, as bolsas quebrarão e o dinheiro irá a outro país. Não
se trata apenas de que possa haver corrupção e estupidez entre os nossos
políticos, mas sim que essas situações os deixam impotentes...”[4].
Para os incautos, é simplório culpar somente
o presidente/presidenta, o executivo nestes erros de décadas. Até poderia ser
aparentemente justo essa acusação, pois dele (o executivo) deveria haver a
iniciativa de esclarecer a real condição do país. Sequer nos informam que o
legislativo sabe também do problema, aprovando essa velhacaria
institucionalizada, com não poucos parlamentares lucrando por fora com esse
esquema. Assim, não cobramos de nossos congressistas por desconhecimento. Do
mesmo modo, se soubéssemos em bom contingente de cidadãos e cidadãs, iríamos
pressionar nosso supremo judiciário federal vendado e anestesiado diante dessa
roubalheira, uma preguiça que vira coelho quando o assunto é beneficiar a própria
esfera[5]. Aí o Banco Central faz o
que bem quer. Aí bate palmas o coringa, o Quarto Poder, a Grande Mídia, os
relações públicas dos Grandes Bancos e dos Magnatas. Não, senhoras e senhores,
a propaganda está redondamente errada: isso não muda o mundo...
O resultado final é que eu, tu,
ele, nós, vós, eles, somos impactados pela precarização do bem-estar social,
ambiental e econômico por conta de um sistema perverso do capital, globalizado
quando lhe é conveniente, mas altamente concentrador, coerente com o objetivo que
detém o capitalismo: chegar ao cúmulo de si mesmo.
Então,
Precariad@s, Uni-vos!!
Carlos Augusto Ramos
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