“A
gente não quer só comida
A
gente quer comida
Diversão
e arte
A
gente não quer só comida
A
gente quer saída
Para
qualquer parte...”.
Comida/Titãs.
Belém, 06 de julho de 2016.
Caríssimos
e Caríssimas,
Eu
lembro. Lembro bem. Do menino que brincava com ossinhos de boi morto da fome do
sertão nordestino[1].
Cada ossinho uma vaquinha, um bezerrinho, quem sabe uma cabra, sabe lá a
imaginação de uma criança e seu escapismo naquela miséria toda. Era necessário
combater a fome no Brasil, propalava-se e convenhamos, quem poderia fazê-lo sem
timidez? Mandatários como Fernando Henrique Cardoso, aquele que ainda sonha em ver
George Washington na cédula de real? Antes dele, só discurso. Com ele, também
discurso, atenuado, bem verdade, pela estabilização da moeda (em contrapartida, a rapinagem no patrimônio público brasileiro). Eu me lembro.
Antes disso, comprava pão com novidade ruim no preço a cada semana. Porém,
enfrentar a fome de verdade, ser audacioso em planejar o fim dela, enfrentar
esta mazela na prática, somente a partir da presidência de Luís Inácio Lula da
Silva. Você até pode ter ódio do PT
nessa confusão toda midiática a embaralhar o cérebro, porém não podes negar que
este resultado histórico coincide com a gestão de Lula.
Muito mais poderia ter sido
feito para finalmente colocar o Brasil no patamar consonante com suas riquezas
naturais e população miscigenada e diferenciada. Infelizmente, não se logrou
outros êxitos fundamentais. Vejam o gráfico abaixo:
Para nós que fomos incautos, não percebemos
que enquanto se crescia o atendimento da previdência e assistência social, a
dívida pública galopava pro alto, em valores muito maiores, suas taxas de
juros, suas amortizações. Sinal que o Banco Central tem decidido sozinho este
caminho, com a fraqueza das esferas executiva, legislativa, judiciária em
monitorar responsavelmente o processo. Aliado a este quadro, um Quarto Poder (Grande
Mídia) realizando com sucesso sua estratégia de isolar o problema de tal forma
que pareça que ela não existe, tal qual age em relação a Aécio Neves em 2016,
não obstante o óbvio de suas nefastas ações de poder[2]. São décadas em que a
sociedade ficou alienada da situação da Dívida Pública Brasileira e suas
migalhas para as áreas de saúde, educação, saneamento, cultura e fortalecimento
das próprias instituições governamentais.
O avanço na educação enquanto acesso à
universidade pública pelos menos favorecidos foi notável, mas poderia ser maior
segundo o gráfico. Todas as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio
seriam exemplares na América Latina. Agora eu sei.
A liberdade de expressar-se culturalmente a
partir da redemocratização (?) é uma realidade, porém, agora sei, poderia ter
maior apoio certamente. O que faria do filho do menino que brincava com
ossinhos (se puxou pro pai a veia artística), um estudante em artes cênicas.
Sei que poderia se a sociedade fosse senhora minimamente dos orçamentos.
As agências de assistência técnica seriam tão
bem estruturadas e capazes que a agricultura familiar, por exemplo, seria mais destacável
e dinâmica do que já é em alimentar nossas famílias. Sei que assim seria.
Se eu precisasse ir a um posto de saúde, ali
teria a dignidade de ser bem atendido, numa condição em que entenderia meu mal
segundo a explicação do médico atencioso. Ficou somente o sopro daquilo que
ensinam os cubanos em sua medicina participativa[3].
De exorbitante e fato corrente foi a alta lucratividade
bancária. Não é possível esconder esse absurdo. Saber e omitir tal informação é
um ato de negligência que beira a corrupção.
Bancos, lucros, Wall Street, especulações maravilham George Soros, o
ultra-mega-investidor-predador, pai intelectual de pessoas como Armínio Fraga e
Pedro Parente, parceiros temerários
da atual interinidade na presidência que não esconde a intenção de diminuir
direitos conquistados nesta já injusta batalha. Serras e Motosserras a serviço do empobrecimento de um país inteiro
por gerações, cuja a atual sucumbe na violência dirigida aos jovens da periferia. Não dá pra dizer agora que o Estado não tem culpa desta mortandade.
Enquanto isso, nós vivemos precariamente em
nossas quase vãs políticas públicas. Alienados? Só que não.
Precariad@s,
Uni-vos!!
Carlos Augusto Ramos
muito bom
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